Teatro da Rainha - Associação Republicana da Rainha e Etc
Antes do mais benvindos a um novo ano de teatro. Continuaremos a fazê-lo teimosamente, contra a corrente que o assalta do lado do “pronto a inovar”, como pão de cada dia que nos alimenta, com gosto e com os olhos postos no futuro. Sim, falamos de futuro, sem a ilusão da chegada de uma democracia cultural, mas com sentido da nossa inserção no mundo. Sim, não gostamos do discurso da vítima, do discurso lamechas, do “eles são culpados”, do registo repetitivo da cassete, somos pela realidade, pelo que nela deve vitalizar-se, pelos que estão vivos e se rebelam. Gostamos da erva daninha. Somos contra a vida amputada a que todos são condenados. E não somos apenas reivindicativos ou palradores, somos mesmo por outra vida, cá em baixo, plena de afectos e reciprocidades responsavelmente exercidas, exercidas no tempo e nas circunstâncias que os impõem, uma vida que não se resuma à renda da casa, ao empréstimo bancário, ao silêncio confortado do lar, à passividade desconcentrada e desistente, ao topo de gama, à tristeza de mais um domingo passeado na fila da marginal, às infinitas prateleiras do hipermercado. Sabemos quanto as coisas custam e não olhamos por cima do ombro as questões referidas, pelo contrário, colocamo-las na marquesa, observamo-las e trabalhamo-las convosco. O teatro é isso, esse bloco operatório em que podemos observar o interior das realidades, das realidades ocultas e das que por excesso de se verem se não vêem. Benvindos a um novo ano de teatro. Sem a vossa presença, Caros Espectadores, a nossa vida perde sentido, vocês são a nossa outra metade. Tenham um bom ano e divirtam-se connosco que para tristezas já há o fado, essa artéria principal do corpo pátrio. E aqui está o nosso programa!
Fernando Mora Ramos