"É de Cultura como instrumento para a felicidade, como arma para o civismo, como via para o entendimento dos povos que vos quero falar"

Núcleo Arqueológico

Praça da Figueira

Distrito: Lisboa
Concelho: Lisboa

Tipo de Património
Núcleo Arqueológico
Identificação Patrimonial
Sítio
Equipa Técnica
Rodrigo Banha da Silva (responsável da equipa do Museu da Cidade)
Descrição

A Câmara Municipal de Lisboa decidiu construir um parque de estacionamento no subsolo da Praça da Figueira. São graves os problemas que estão a surgir com a retirada das terras e graves os que se anunciam para depois da construção do enorme "bunker" subterrâneo.

A Praça da Figueira é um dos locais mais importantes da memória da Cidade. Por ali passam as duas mais importantes ribeiras de Lisboa, a oriental ou de Arroios, que vem pelo Regueirão dos Anjos e Martim Moniz, e a ocidental ou de Valverde que corre encaixada pelos vales de Santa Marta, S. José e Portas de Santo Antão.

As duas ribeiras juntam-se depois de atravessar separadamente a Praça da Figueira e correm ao longo do esteiro da Baixa metidas hoje, só parcialmente, nos "canos reais" da rua Augusta e rua Áurea até ao Terreiro do Paço. Os poderes públicos tentaram, desde pelo menos o século XIV, canalizar as ribeiras e o cano mais recente, o "cano real de D. Maria" reapareceu agora na escavação em curso na Praça da Figueira (foto 1).

Junto das ribeiras foi escavada parcialmente nos anos de 1961-62 uma grande necrópole romana e o que restava do prestigioso "Hospital de Todos os Santos" o primeiro grande estabelecimento de assistência português mandado erguer por D. João II em 1492 cujas ruínas voltaram agora a reaparecer (foto 2).

Os "buldozers" puseram a descoberto recentemente na zona confinante com a área de Santa Justa parte de um bairro islâmico dos finais do século XI que tudo indica ter sido habitado por cristãos moçarabes que se acolhiam à protecção de Santa Justa e Rufina, duas santas sevilhanas patronas de oleiros. Apareceram muitos vestígios pertencentes à moçarabia, pavimentos de ruas e restos de habitações ainda com o telhado caído sobre as ruínas (foto 3), lareiras (foto 4), etc.. Os trabalhos arqueológicos estão a ser excelentemente executados por uma equipa do Museu da Cidade dirigida por Rodrigo Banha da Silva.

A Câmara obteve do Instituto Português de Arqueologia permissão para retirar por completo todos os vestígios e esventrar a Praça. Mas Lisboa merece algum respeito pela sua memória e pela sua identidade. Merecerá pelo menos que, num espaço onde se sedimentou um tão rico tecido histórico se preserve um pequeno Centro Interpretativo onde fiquem algumas estruturas encontradas e alguns painéis relativos a: necrópole romana, moçarabia de Santa Justa, ao Couto medieval, ao Hospital de Todos os Santos, ao mercado em arquitectura do ferro do século XIX que aqui existiram. Não é possível, em nome dos interesses, legítimos sem dúvida, do transporte individual dos lisboetas do século XXI, esquecer tudo isto.

A única entidade pública que até agora deu a cara em defesa do projecto dos promotores do Parque de Estacionamento foi João Zilhão, Presidente do Instituto Português de Arqueologia que, em declarações aos jornais e numa lógica irrebatível, disse (vd. Público, 3 de Julho de 2000, pag. 50): "viver na Cidade implica a destruição de património" e que sem esse sacrifício patrimonial "não há metropolitano, nem parques de estacionamento nem casas", o que é obvio...

Mas a procissão vai no adro. A necrópole romana situada em níveis de 7 a 9 metros de profundidade foi só parcialmente escavada nos anos sessenta e revelou já a existência de importantes estruturas funerárias, vestígios de mausoléus com estuques pintados, por exemplo. Sob os restos do Hospital de Todos os Santos surgirá agora o que não foi possível escavar então.

O autor desta nota participou nesses trabalhos arqueológicos dos anos sessenta e recorda-se de ter encontrado no fundo de um poço de sondagem, a uma cota de 10 a 11 metros de profundidade, em pleno nível freático e no interior de uma camada de areias claras pertencente à ribeira ocidental, alguns fragmentos de lâminas de sílex que então lhe pareceram pertencer aos inícios do paleolítico superior.

As águas das ribeiras vão encontrar dentro em pouco implantado nos seus leitos de cheias o novo "bunker" erguido em proveito do transporte individual de alguns. Isso poderá eventualmente provocar a subida dos níveis freáticos da Ribeira de Arroios desde o Martim Moniz até às imediações do "grande obstáculo". Talvez não esteja afinal em perigo apenas a memória antiga da Cidade... S.O.S....

(José Luís de Matos)

Intervenções e Restauros
1961-62: escavada parcialmente uma grande necrópole romana e o que restava do "Hospital de Todos os Santos"

2000: Trabalhos arqueológicos na sequência das obras do parque de estacionamento.

Morada
Praça da Figueira
LISBOA
Data de atualização
29/11/2006
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