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Núcleo Arqueológico

Núcleo Arqueológico do BCP

Distrito: Lisboa
Concelho: Lisboa

Tipo de Património
Núcleo Arqueológico
Uso atual
Núcleo Arqueológico do BCP
Descrição

Os testemunhos do Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeiros foram postos a descoberto na sequência de trabalhos de remodelação num edifício pombalino, para servir de novas instalações ao BCP (Banco Comercial Português). As intervenções arqueológicas, efetuadas por técnicos afetos ao IGESPAR (Instituto de Gestão do Património Arquitetónico e Arqueológico), foram financiadas em grande parte por aquela instituição bancária.
A recuperação das estruturas e vestígios arqueológicos encontrados nas caves do edifício, e a sua adaptação por meios modernos a espaço museológico, constituem um caso exemplar, a seguir em futuras obras na baixa lisboeta (e não só) pois que esta área da cidade mantém ainda escondidos muitos dos segredos do seu passado.
A área ocupada pelo Núcleo abrange cerca 1000 m², ou seja, o equivalente à largura do quarteirão pombalino e metade do seu comprimento, e nela pode ser feita quase de forma ininterrupta uma viagem no tempo desde a época ibero-púnica até à época pombalina.

Fase Pré-Romana
Desta fase o espaço museológico do BCP apresenta materiais integráveis, cronologicamente, entre os séculos V e II a.C.. Dizem respeito a um conjunto de compartimentos de planta retangular, com uma base rodeada em pedra cimentada por argila, onde assentam as paredes estruturadas por caniço envolto em argila endurecida. O pavimento destas habitações ribeirinhas eram em argila e incluem na parte central pequenas lareiras feitas com seixos. Localizadas junto de um dos antigos braços do rio, estas estruturas seriam utilizadas por populações dedicadas a atividades piscatórias e comerciais. O aparecimento de um forno cerâmico numa destas casas pressupõe que em ligação deveria existir uma atividade ligada à olaria. Estes factos não garantem em absoluto, por enquanto, concluir que a atividade conserveira em Olisipo estivesse desenvolvida antes do domínio romano, época em que efetivamente esta indústria adquiriu uma importância assinalável. No entanto, o facto de ter sido encontrado um forno de ânforas na Bacia do Sado, datável do período púnico, e de os estuários deste rio e do Tejo, apresentarem processos semelhantes nas diversas atividades, parece corroborar aquela possibilidade.
O espólio encontrado é bastante rico e entre as peças mais significativas constam: um prato em cerâmica do séc. V-IV a.C.; potes de cerâmica comum e uma fíbula de bronze, do séc. IV a.C.; uma ânfora púnica do séc. IV a III a.C.; um suporte de ânfora púnica, com a marca de oleiro na parte superior da peça (cada um dos selos mostra um equídeo), atribuível ao séc. I-III a.C.; um fragmento de um prato em cerâmica comum, do séc. III a.C., tendo na superfície interna a gravação estilizada de um barco púnico.

Fase Romana
No Núcleo da Rua dos Correeiros, a época romana, é efetivamente aquela que apresenta um registo histórico mais completo, sendo os vestígios arqueológicos mais abundantes e melhor preservados.
Como resultado da transgressão do rio a partir do séc. III a.C., dá-se a acumulação de areias, que passados mais de duas centúrias, chega a atingir um metro sobre o nível ibero-púnico. À desativação do lugar e consequente abandono das estruturas existentes, sucede-se, até ao séc. I.d.C., o aproveitamento do espaço para ocupação funerária. Foram postos a descoberto: parte de uma necrópole onde se verificam dois tipos de rituais funerários - inumação e cremação.
Foram também achadas estruturas de combustão delimitadas por ânforas (tipo Haltern 70) cortadas ao nível do bojo, e uma urna cinerária, em cerâmica comum, atribuível ao período compreendido entre os séculos I a.C. e I d.C., que guardava no seu interior: cinzas, fragmentos ósseos e unguentário.
A partir do séc. I d.C., gradualmente, sobre a praia fluvial foram-se instalando estruturas (cetárias) conserveiras de peixe e preparação de garum. Este complexo fabril, que se alarga para fora do quarteirão do BCP, permite visualizar 25 tanques de diversas dimensões agrupados em quatro conjuntos, aos quais se tem acesso através de cinco pátios em opus signinum. A norte das cetárias localiza-se um dos poços que terá servido esta indústria de preparados de peixe. Mostra planta circular e é alimentado pelo nível freático da Baixa. Outros tipos de ânforas ligadas aos preparados piscícolas, achadas no núcleo, são respetivamente, do tipo Almagro e Lusitana e compreendem o período que decorre entre o século IV e V d.C.
O fabrico de preparados piscícolas, depois de períodos de recessão e de outros grande dinâmica, que se refletem em diversos trabalhos de remodelação dos tanques, entra em decadência nos finais do séc. V. O lugar é então, de forma esporádica e modesta, mais uma vez utilizado como sítio de enterramento, conforme testemunha a inumação, com cobertura em telha, encontrada entre duas cubas de salga.
Da segunda metade do séc. III, faz parte uma sala cujo chão mostra um mosaico romano (o primeiro a ser encontrado em Lisboa) que se integrava numa área de balneários e permitia o acesso através de degrau às três pequenas piscinas que, possivelmente, dariam apoio ao complexo conserveiro. A parte visível deste conjunto, formava o frigidarium. É visível ainda, um troço de via romana constituído por lajes calcárias, onde se nota o vincado sulco das marcas dos carros para transporte dos produtos mercantis.
Entre o espólio encontraram-se várias moedas em cobre e bronze: uma da segunda metade do séc. III e oito do século seguinte; uma pequena estatueta em bronze; uma faca; etc.. Relativamente à cerâmica, o destaque vai para um conjunto de recipientes em terra sigillata fabricados no Norte de África, entre os séculos IV e VI, que atesta a importância das trocas comerciais entre Olisipo e esta área do império romano.

Fase Islâmica
Foram identificados vestígios que comprovam a intensa atividade da urbe nesta fase. Os trabalhos arqueológicos revelaram um forno cerâmico e, por outro lado, verificou-se que estruturas de períodos anteriores, nomeadamente romanos, foram reutilizados com novas funções. Assim, três cubas de salga foram adaptadas, provavelmente, para armazenagem de produtos (silos).
Entre o espólio recolhido contam-se: variados tipos de loiça doméstica, dos séculos XI e XII, entre os quais se destaca uma tigela de cerâmica vidrada, com bojo em carena e pé em forma de anel, sendo decorada no interior com a representação de uma flor de lis saindo de um bolbo. Recolheram-se ainda candis em cerâmica comum e vidrada, um fragmento de trempe (peça que servia de suporte a recipientes cerâmicos que eram levados ao forno) e pesos de rede em barro, com a forma de vieira.

Fase Medieval
Numa fossa medieval acharam-se bastantes cerâmicas comuns, dos séculos XIII a XIV - copos, jarros, bilhas, panelas, testos, etc. Entre o espólio salienta-se uma peça elegantemente decorada, do mesmo período- um pichel (recipiente para vinho) - em cerâmica pintada e vidrada. Este exemplar, proveniente da região de Saintonge (França), testemunha o intercâmbio comercial entre Portugal e diferentes regiões da Europa na época medieval.

Fase das Descobertas
Do período quinhentista foram encontrados diversos artefactos e estruturas, sendo de salientar um capitel, um painel de azulejos que fazia parte de uma casa que se localizava no espaço ocupado pelo núcleo e um azulejo sevilhano; até meados de quinhentos o principal local de produção deste tipo de azulejo hispano-mourisco na Península Ibérica foi Sevilha. Em Portugal foi muito comum desde o reinado de D. Manuel I. A partir da segunda metade do séc. XVI, estes azulejos começam a ser fabricados em Portugal, sobretudo com a vinda de artistas cerâmicos flamengos para Lisboa.
Deste período acharam-se também algumas moedas em cobre, nomeadamente ceitis do reinado de D. Afonso V, D. João II (?) e D. Manuel I; esta moeda é particularmente importante pois está relacionada com o desenvolvimento comercial que as Descobertas proporcionaram (principalmente a partir de D. Afonso V), sendo a sua utilização feita por largo espaço de tempo.

Fase Pombalina
Deste período, é de assinalar a presença de uma das soluções encontradas após o terramoto de 1755, para evitar ou diminuir os efeitos deste tipo de catástrofes - a estrutura em "gaiola" totalmente concebida em madeira, no interior do edifício.
Por outro lado, visto que a zona onde se encontra o edifício, se insere em terrenos com assinalável nível freático, a solução encontrada pelos engenheiros da época iluminista foi criar uma estrutura de estacaria em pinho verde, cravada sobre aquele nível, sobre a qual se pudessem construir os novos edifícios. No Núcleo é visível uma parte desta estacaria onde se apoiam os alicerces.
Outra evidência desta época é a existência de um troço de esgoto que fazia parte de uma rede de drenagem doméstica que ligava ao esgoto central sob a rua. Foram também preservados um forno e uma forja que serviriam uma ferraria na época pombalina. Este testemunho mostra que na Baixa, preferencialmente, uma área de atividades comerciais, existiam nesta altura alguns focos ligados à indústria.
De destacar ainda três poços deste período que se enquadravam dentro do sistema de prevenção e segurança de incêndios que o marquês de Pombal institucionalizou.
Os materias avulsos encontrados no nível pombalino correspondem essencialmente a cerâmicas; entre estas avultam as faianças decoradas, exemplos de uma pequena tigela (Século XVII-XVIII) com singelas linhas a azul sobre fundo branco. Interessantes são duas pequenas imagens em terracota alusivas a Santo António, uma do século XVIII, sem cabeça, mãos e a base, e outra um pouco mais tardia, do século XIX, também sem cabeça, sem a mão esquerda e sem parte do corpo. Encontraram-se ainda desta fase tardia um púcaro e uma pia de água benta em faiança, que outrora se encontrava fixada numa parede.

Estado de Conservação
Modo de funcionamento

Visitas ao Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeiros
Horário:
2ª, 3ª, 4ª, 6ª e sábado, das 10h00 às 13h00 e das 14h00 às 17h00
5ªs feiras - 15h00 às 17h00
Encerra domingos e feriados 
As visitas de grupo (escolas e outros) deverão ser previamente marcadas através do telefone 211 131 004

Morada
Rua dos Correeiros, nº 9 r/c, Baixa de Lisboa
1100-061
Lisboa
Telefone
213211700
Fonte de informação
CNC / Patrimatic
Bibliografia

AMARO, Clementino; Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeiros, Fundação Banco Comercial Português, Lisboa, 1995.

AMARO, Clementino; BUGALHÃO, Jacinta; SABROSA, Armando; «Complexo Fabril Romano na Rua Augusta», in Actas das 1ªs Jornadas da Romanização nos Vales do Tejo e Sado (no prelo).

BUGALHÃO, Jacinta; BCP: Uma unidade de salga de peixe na Rua Augusta, Lisboa, 1995.

CALADO, Maria; «Lisboa: A cidade no espaço e no tempo», in Atlas de Lisboa, Contexto, Ed., Lisboa, 1993.

CARDOSO, João Luís; QUINTELA, António e MASCARENHAS, José Manuel; Aproveitamentos Hidráulicos Romanos a sul do Tejo, 1986.

FAUSTINO, Vitor; «Fenícios e iniciativa privada em Almada», Público, 6 Dezembro 1994.

FERREIRA, Pedro Miguel; «Sado um rio fenício : Os segredos de Abul», Público, 12 Março 1995.

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MOITA, Irisalva (coord.); O Livro de Lisboa, Livros Horizonte, Lisboa, 1994.

Idem; «O Teatro Romano de Lisboa», separata da Revista Municipal, nºs 124-125, Lisboa, 1970.

Idem; As Termas Romanas da Rua da Prata : Notícia para ilustrar a visita às termas romanas da Rua da Prata facultada aos munícipes pela Câmara Municipal de Lisboa nos dias 25 e 26 de Junho de 1977, Câmara Municipal de Lisboa, [1977].

Data de atualização
24/10/2012
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