Museus, Bibliotecas e Arquivos
Museu de São Roque
Propriedade da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, o Museu de São Roque guarda um dos mais importantes acervos da arte sacra nacional. Ourivesaria, escultura e pintura, mas também um singular conjunto de paramentos ou uma coleção de relíquias de santos, rara em todo mundo. Em resultado de uma profunda remodelação arquitetónica, realizada entre 2006 e 2008, é num espaço marcado pela modernidade que é possível percorrer os séculos ao longo dos quais Portugal se foi construindo como realidade artística e cultural, mas também religiosa, social e política. Numa linguagem contemporânea, em São Roque promove-se o encontro com mais de 500 anos de Arte e de História. Uma extraordinária viagem que vale a pena fazer.
Com a Igreja de São Roque por vizinha, formando com ela um todo indissociável, o Museu de São Roque foi inaugurado pela Misericórdia de Lisboa a 11 de janeiro de 1905, com a presença das mais ilustres figuras da nação, entre elas o próprio rei D. Carlos e a rainha D. Amélia. Na origem estava a primeira mostra do “Tesouro da Capela de São João Baptista”, conjunto de ourivesaria e paramentaria único no mundo e internacionalmente reconhecido como tal. É o sucesso dessa primeira exposição, feita ainda no final do século XIX, que vem depois dar origem ao Museu de São Roque.
Com a particularidade de quase todo o seu acervo se ter constituído ao longo dos diferentes períodos da vivência do espaço, uma das qualidades distintivas de São Roque prende-se justamente com o facto de as suas peças nunca terem sido desagregadas do local de origem. A valorização desse elemento diferenciador fica inclusive espelhada em todo o discurso museológico. Com a recente remodelação, que ampliou a área expositiva de 490m2 para 1070m2, é de resto a lógica da ocupação de São Roque que acaba por presidir à escolha do percurso proposto. Assim, de 2008 em diante, o museu passou a estar organizado em cinco momentos distintos, cada um deles testemunho das diferentes vivências do local: Ermida de São Roque, Companhia de Jesus, Arte Oriental, Capela de São João Baptista e Santa Casa da Misericórdia de Lisboa são os núcleos que integram o conjunto das diferentes coleções.
Do início da história até ao presente
Instalado na antiga Casa Professa da Companhia de Jesus, o Museu de São Roque herda quer o espaço físico dos padres seguidores de Loyola, quer todas as obras de arte por eles reunidas. Muito antes de ser pensada a possibilidade da constituição de um núcleo museológico, este conjunto chega à Santa Casa da Misericórdia depois do grande terramoto de 1755 e da expulsão dos Jesuítas ordenada por Pombal. É por decreto régio de D. José I que todo esse valioso património é doado à instituição fundada em 1498 pela rainha D. Leonor, e vocacionada para o auxílio aos mais desprotegidos da cidade de Lisboa.
Com o património edificado vinha também um importante espólio artístico. Mas a história de São Roque começava antes, em tempos de grande aflição, quando a peste grassava por toda a Europa e não deixava de fora a cidade de Lisboa. Por iniciativa de D. Manuel, é nessa época de grandes temores que o monarca solicita à República de Veneza uma relíquia de São Roque, santo que tinha a fama de interceder pelas vítimas do terrível flagelo. Em 1505 chega a Portugal a relíquia e, para a receber, D. Manuel manda construir a ermida de São Roque. Hoje, mais de cinco séculos passados, neste primeiro núcleo do museu expõem-se o conjunto das quatro tábuas que contam a vida e lenda do santo, bem como a sua relíquia original e as duas lápides que assinalam a consagração da ermida e do seu adro.
Já o segundo núcleo expositivo é inteiramente dedicado à Companhia de Jesus, instalada em São Roque por ordem expressa do monarca D. João III. Além de apresentar toda a iconografia da ordem, do conjunto das obras deste núcleo faz também parte uma das mais importantes coleções de relicários da península ibérica.
Ainda pela mão dos Jesuítas, o núcleo de Arte Oriental, terceiro do percurso, está intimamente ligado a toda a expansão missionária da Companhia de Jesus, em particular pelo Oriente. É dos contactos estabelecidos com as populações locais, por via das missões, que se registam significativas aquisições ao nível da arte sacra. Este fenómeno, que se fez sentir nas mais diversas disciplinas artísticas, proporcionou uma renovação da arte cristã, como testemunha a coleção de objetos de arte exposta no museu.
Verdadeira “jóia da coroa” de São Roque, o quarto núcleo é inteiramente dedicado à Capela de São João Baptista, obra ímpar do reinado de D. João V, internacionalmente reconhecida pelo seu valor arquitetónico e artístico. Encomenda do monarca que, no xadrez internacional, quis marcar uma posição de força através de um intenso plano cultural, o “Tesouro da Capela de São João Baptista” é constituído por notáveis exemplares de ourivesaria e paramentaria. Tendo a capela sido transportada para Portugal em três naus, foi depois assente na Igreja de São Roque, no local da antiga Capela do Espírito Santo. Para reforçar o caráter de tesouro desta coleção e a sua ligação à capela da Igreja, neste quarto núcleo do museu procurou conferir-se a todo o espaço um ambiente intimista e, de forma simplificada, recria-se o espaço da capela, em cujo interior simulado se pode observar o notável frontal de altar em prata, bronze dourado e lápis-lazúli, ou o imponente par de tocheiros, peça única da ourivesaria mundial.
O último núcleo expositivo é inteiramente dedicado à Misericórdia de Lisboa e ao conjunto das peças adquiridas ou entregues em doações e legados que sempre resultaram da confiança depositada numa instituição cuja missão passa pelo auxílio aos mais fragilizados. Desde a sua origem e até ao presente, a Santa Casa tem, de resto, sabido cumprir a sua vocação original, de acordo com os fins estatutários que apontam para a realização de melhorias de bemestar e promoção da qualidade de vida, em particular nos segmentos da população mais vulnerável, abrangendo nas suas áreas de intervenção a ação social, a saúde, a educação, o ensino, a cultura e a valorização de todo o património.
Na vanguarda da comunicação
As atividades educativas e culturais do museu dirigem-se a públicos diversificados, internos e externos, e norteiam-se pela vontade de oferecer uma participação mais ativa e envolvente dos visitantes do museu na experiência da contemplação da arte, através da partilha de ideias e conhecimentos. Evidenciam-se as parcerias com o setor educativo, do turismo e a área da cultura que têm vindo a revelar-se determinantes na melhoria contínua dos serviços prestados e na diversificação e aumento de públicos.
Além das tradicionais visitas guiadas de caráter genérico, o museu oferece visitas em diferentes idiomas, ateliês de arte, visitas-jogo interativas dirigidas a crianças, jovens e seniores. Já para um público com interesses específicos nas áreas da arte e do património, disponibilizam-se ciclos de visitas guiadas temáticas e conferências.
No presente, a Galeria de Exposições Temporárias está a ser objeto de um programa de requalificação, estando prevista a sua reabertura em maio do 2013 com uma exposição centrada na Capela de São João Baptista e no contexto da sua encomenda e construção, que será acompanhada por uma monografia atualizada. Nela serão apresentadas as mais recentes novidades encontradas no decurso deste importante projeto de investigação.
Fruto do projeto de requalificação, que resultou da vontade da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa em valorizar o seu património, o Museu de São Roque oferece hoje as mais modernas condições de acesso às obras, dispondo das indispensáveis estruturas de apoio, tais como loja e restaurante / cafetaria, esta última também instalada no antigo claustro da Casa Professa.
A requalificação levada a cabo veio ainda propiciar uma melhoria das condições de conservação e apresentação da exposição permanente. Assim, uma significativa parte das obras expostas foi submetida a trabalhos de conservação e restauro que vieram clarificar a leitura do acervo museológico. No âmbito deste projeto incluiu-se também a beneficiação do espaço da igreja com um plano de ações de conservação, com especial relevância para a Capela de São João Baptista, cuja intervenção decorreu entre novembro de 2010 e abril de 2012. Envolvendo reconhecidos especialistas nacionais e estrangeiros de diversas áreas de atividade, fez-se uso das mais recentes metodologias no âmbito da conservação e do restauro.
No que respeita à componente comunicacional, existe ainda uma nova identidade gráfica que se encontra presente em todos os materiais de divulgação, assim como suportes de informação adaptados ao perfil dos diversos públicos. Pontos multimédia presentes ao longo do circuito expositivo oferecem informação adicional sobre as coleções do museu e seu contexto de produção. Linhas de merchandising inspiradas no acervo e um site próprio, são ainda ferramentas de comunicação de um museu que, encerrando cinco séculos de História, se mantém vivo e atual.
Horários
outubro a março - terça-feira a domingo: 10h00 - 18h00
abril a setembro - terça-feira a domingo: 10h00 - 19h00
O acesso às exposições deve ser feito até 30 minutos antes do encerramento do museu.