Património Material
Torre de São Vicente de Belém
ÉPOCA: séc. XVI.
AUTORES: Francisco de Arruda
ENCOMENDA: D. Manuel I
CARACTERIZAÇÃO ESTÉTICA DO CONJUNTO
A Torre de Belém é constituída por dois corpos: o baluarte e a torre de menagem. A torre de menagem, de forma quadrangular, desenvolve-se em três pisos e terraço aos quais se sobe através de uma escada em espiral. Originalmente, as três salas da torre destinavam-se à residência do Alcaide-mor, o comandante da guarnição militar. O baluarte que se projeta diante da torre de menagem como a proa de uma nau, tem a forma de um hexágono irregular.
O acesso ao conjunto da torre é feito por um portal em arco de volta perfeita encimado pelo escudo régio e as esferas armilares, símbolos utilizados na emblemática manuelina habitual. A decoração escultórica de toda a torre utiliza o vocabulário formal do manuelino, conjugado com aspetos do renascimento italiano. São profusos os elementos naturalistas e heráldicos, os típicos cordoamentos e algumas notas bastante originais, como o rinoceronte esculpido numa das faces.
No interior do baluarte situam-se as casamatas, cobertas por robustas abóbadas de cruzamento de ogivas. Nas paredes rasgam-se estreitas aberturas destinadas às peças de artilharia. Ao centro existe um pequeno claustro e, por baixo da casamata, ficavam os paióis, em algumas épocas utilizados como masmorras.
Nos ângulos do baluarte erguem-se seis elegantes guaritas, cobertas com cúpulas gomadas. As guaritas arrancam de mísulas decoradas com motivos naturalistas e numa delas encontra-se a representação do rinoceronte.
As fases exteriores da torre são soberbamente decoradas. Ao nível do primeiro andar da face sul descortina-se um balcão corrido, ou varandim, com arcaria de sete voltas e uma balaustrada rendilhada. Por cima, um enorme escudo real, ladeado por duas pequenas janelas de arcos torcidos e duas esferas armilares.
Nas restantes paredes da torre, ao mesmo nível do varandim Sul, situam-se três balcões, com cruzes de Cristo nas balaustradas. Ao nível do último andar, uma varanda circunda a torre, ameada com escudos da Ordem de Cristo.
Embutidas nos ângulos da parede Norte da torre encontram-se duas guaritas e, por cima destas, dois nichos com as imagens de S. Miguel e S. Vicente. Finalmente, o terraço superior do monumento, tem outras quatro guaritas nos ângulos e merlões chanfrados a toda a volta, coroando a torre de menagem. Do cimo da torre avista-se um magnífico panorama sobre o rio e sobre toda a zona de Belém e seus monumentos.
FIGURAS E FACTOS HISTÓRICOS RELEVANTES
D. Manuel I encomenda a obra da Torre a Francisco de Arruda, em 1515.
Em 1519 as obras estão praticamente concluídas.
CARACTERIZAÇÃO HISTÓRICA
D. João II havia pensado em construir uma torre defensiva que salvaguardasse a entrada da barra do Tejo, mas a intenção joanina acabou por se realizar apenas no reinado do seu sucessor. D. Manuel I, ampliando as iniciais e imprescindíveis intenções defensivas, mandou fazer a Torre de Belém, enquadrando-a num programa de cunho monumental para toda a área, onde se incluiam o Mosteiro dos Jerónimos, a Ermida de S. Jerónimo e uma série de outras obras ligadas às atividades das Grandes Navegações, tais como armazéns e instalações militares.
A Torre construída encarnava assim, além dos seus atributos militares de defesa e vigia da entrada da barra, um caráter estético que pela elegância do seu formato e exuberante decoração, tem sido associada às construções efémeras levantadas para as entradas régias e festejos públicos.
Trata-se, na verdade, de uma obra pioneira na arquitetura militar em Portugal, tendo sido a primeira onde se utilizou o desenho de um baluarte poligonal, correspodendo às mais recentes aquisições da tratadística militar. Segundo o historiador Rafael Moreira, a estrutura da Torre de Belém baseia-se no modelo apresentado no "Tratatto di Architecttura Civile e Militare" de Giorgio Martini, publicado em 1492. Assim, a despeito da sua efusiva decoração, a Torre não terá sido simplesmente um objeto estético mas, ao contrário, terá conjugado a beleza à sua efetiva função militar.
A construção do baluarte foi confiada a Francisco de Arruda, membro de uma prestigiada família de arquitetos nacionais, irmão de Diogo de Arruda, o autor da famosa janela do Convento de Cristo em Tomar. Francisco de Arruda, tal como o irmão, trabalhou durante muito tempo em obras de arquitetura militar, designadamente no Alentejo, na reconstrução dos castelos de Moura, Mourão e Portel e no levantamento das defesas de várias praças no Norte de África.
As obras do "Castelo de S. Vicente a par de Belém", como foi inicialmente designada a Torre, decorreram de 1515 a 1519. Quando foi construída, a Torre encontrava-se completamente rodeada de água; o assoreamento do rio e obras posteriores deram-lhe o enquadramento atual.
Durante o reinado filipino pensou-se destruir a Torre de Belém, para substituí-la por outra fortificação maior. Durante as invasões francesas, no início do séc. XIX, foi inadequadamente utilizada e bastante maltratada. Em 1846, por ordem do Duque da Terceira, seu último governador, foram efetuadas obras de restauro e conservação do monumento.
CARACTERIZAÇÃO HISTÓRICO-GEOGRÁFICA DO SÍTIO
A enseada existente na praia do Restelo era abrigo de uma pequena povoação de pescadores e marinheiros no séc. XV. As qualidades naturais do local dotaram-no como porto privilegiado das embarcações ligadas às Grandes Navegações dos Descobrimentos. Com o aumento das atividades ligadas às navegações, desenvolveram-se na zona próxima da praia indústrias de cordoaria e apoio naval. Do mesmo modo, no fim da sua vida, o Infante D. Henrique, fez construir no local uma pequena capela, erigida em paróquia em 1459, sob a invocação de Santa Maria de Belém, destinada a prestar assistência espiritual aos marinheiros.
Logo após a subida ao trono de D. Manuel I, em 1495, o rei decidiu erguer no local do embarque das naus da Índia e do Brasil, o Mosteiro dos Jerónimos, conjugando no edifício, o caráter de templo religioso e de Panteão Régio para si e para os seus descendentes. Durante o século que durou a construção do templo (1501-1604), foi ele o norteador e concentrador da paisagem urbana da região que tomou a denominação de Belém em função da sua invocação. Concomitante com a construção do mosteiro, D. Manuel fez erigir a Torre de Belém (1515-1519), tendo ainda planeado a criação de mais alguns investimentos urbanos na área, como armazéns e instalações militares que completassem um premeditado caráter monumental associado ao funcionamento prático da empreitada das navegações.
No mesmo contexto das obras manuelinas na região de Belém, inserem-se também a construção da Ermida de S. Jerónimo, iniciada em 1514 e a Ermida do Santo Cristo, construída dentro da cerca do Convento. Demonstrando uma evidente preocupação de conjunto, a Ermida de S. Jerónimo orientava-se em direção à barra como um posto de observação avançado da Torre de Belém, com a qual estabelece uma relação geométrica propositada: o eixo do baluarte da torre passa pela interseção do eixo da Ermida com o arco da capela-mor.
Desde o séc. XVI, Belém é uma área destinada a assumir um inevitável caráter monumental e passa assim a ser tratada, com cuidados de planos, projetos e intenções em todos os reinados subsequentes. Durante o segundo quartel de quinhentos, D. Manuel de Portugal edificou próximo da praia um Palácio que viria a ser a Quinta Real da Praia. O mesmo D. Manuel de Portugal irá do outro lado do mosteiro iniciar a construção do Palácio de Belém, criando com os edifícios uma espécie de barreira urbana que delimitava e valorizava a perspetiva e a monumentalidade do mosteiro e da torre. Com idêntica intenção, várias posturas camarárias durante os séc. XVI e XVII impunham a destruição de clandestinos na zona e zelavam pela aparência estética da área, proibindo que se estendesse roupa em frente aos monumentos.
No séc. XVIII, D. João V comprou as quintas da zona de Belém, entre as quais viria a ser instalado depois o Palácio da Ajuda, atraindo para o local o interesse da aristocracia. O mesmo rei investiu na regularização do porto de Belém encomendando o projeto ao arquietecto Carlos Mardel. Após o terramoto de Lisboa, em 1755, o engenheiro-mor do reino, Manuel da Maia, sugeriu que a cidade fosse reconstruída ali, hipótese que depois foi abandonada, tendo-se optado pela reconstrução da Baixa.
Durante o séc. XIX, a área de Belém então integrada no perímetro urbano da capital, foi suporte de uma das vias de expansão da cidade de Lisboa que começara a criar uma zona pré-industrial em Alcântara e uma consequente periferia habitacional à cidade. O núcleo monumental do mosteiro, sempre relacionado com a Torre, mantinha entretanto a sua imponência, que a Exposição do Mundo Português realizada nos anos 40 do nosso século, pretendeu reforçar, construindo a Praça do Império em frente ao mosteiro, e dispondo os pavilhões comemorativos à sua volta. O Padrão dos Descobrimentos, construído para a Exposição em madeira, foi depois refeito em pedra em 1960, no local.
A mais recente intervenção em termos monumentais nesta área é o Centro Cultural de Belém, construído em 1992 e destinado a um vasto programa de atividades culturais.
Entre 1852 e 1855, Belém constituiu um concelho autónomo composto pelas freguesias de Santa Maria de Belém, Nossa Senhora da Ajuda, Alcântara, Benfica, Carnide, Santa Isabel e S, Sebastião da Pedreira; desde 1885, foi incorporado no município de Lisboa.
O seu conjunto monumental e a disposição ao longo do rio vocacionam prioritariamente esta parte da cidade para as atividades ligadas ao lazer, ao turismo e à cultura. Neste contexto, destaca-se a concentração de museus na zona que incluem: o Museu Nacional de Arqueologia, instalado no Mosteiro dos Jerónimos; o Museu da Marinha que ocupa também uma parte do mosteiro reconstruído no séc. XIX e, ao seu lado, um anexo construído pela Fundação Gulbenkian onde se encontra um Planetário; o Museu Nacional de Etnologia; o Museu Nacional dos Coches, instalado no antigo picadeiro do Palácio de Belém; o Museu Nacional da Ajuda com as suas galerias de exposições; o Jardim-Museu Agrícola Tropical, abrigando coleções de plantas tropicais; o Museu de Arte Popular e, ainda, o Centro Cultural de Belém, com exposições e espetáculos. Também no Padrão dos Descobrimentos com um pequeno auditório e galeria no interior, realizam-se atividades ligadas à cultura, sendo animado com projeções de filmes ou ciclos de debates.
A completar o quadro sócio-cultural de Belém existe uma variedade de locais destinados à fruição e lazer, como as praças e o parque diante do rio, ou as marinhas de recreio, assim como uma série de restaurantes. Destaca-se a "Fábrica dos Pastéis de Belém", possuidora de uma receita de autoria dos frades jerónimos, que já vendiam os famosos pastéis desde o séc. XVIII.
O valor histórico e artístico deste património foi reconhecido com a classificação do conjunto da Torre de Belém e do Mosteiro dos Jerónimos pela UNESCO em 1983.
PATRIMÓNIO CLASSIFICADO - Monumentos Nacionais
Estátuas Lusitanas de Montalegre
Museu Nacional de Arqueologia, Belém
Torre de S. Vicente de Belém, Belém
Capela de S. Jerónimo, Restelo
Igreja da Memória
Palácio Nacional da Ajuda
PATRIMÓNIO CLASSIFICADO - Imóveis de Interesse Público
Palácio Nacional de Belém, Belém
Zona Circundante do Palácio Nacional da Ajuda (Jardim das Damas, Salão de Física, Torre Sineira, Paço Velho e Jardim Botânico)
PATRIMÓNIO NÃO CLASSIFICADO
Ermida do Santo Cristo
Centro Cultural de Belém
Jardim-Museu Agrícola Tropical
Pavilhões da Exposição do Mundo Português
Praça do Império e Fonte Luminosa
Padrão dos Descobrimentos
Monumento a Afonso de Albuquerque
MUSEUS E COLEÇÕES PARTICULARES
Museu Nacional de Arquelogia do Doutor Leitede Vasconcelos
Museu Nacional dos Coches
Museu Nacional da Ajuda
Museu Nacional de Etnologia
Museu da Marinha
Museu de Arte Popular
Jardim-Museu Agrícola Tropical
Museu da Eletricidade
PATRIMÓNIO AMBIENTAL DA REGIÃO
Barra do Rio Tejo
ITINERÁRIOS
ESPECÍFICOS: Torre e Fortificações da Barra do Tejo
REGIONAIS: Região de Belém e Ajuda, Museus e Monumentos
NACIONAIS: Rota do manuelino - Batalha, Tomar, Descobrimentos
Horário
Outubro a Abril > 10h00 às 17h30 (última entrada às 17h00)
Maio a Setembro > 10h00 às 18h30 (última entrada às 18h00)
Encerra às Segundas-feiras e nos dias 1 de janeiro, domingo de Páscoa, 1 de maio e 25 de dezembro
Informação disponível
Sinalética (português e inglês)
Guias-Desdobráveis (português, inglês, francês, alemão, espanhol, italiano e japonês)
Roteiro (português, inglês)
Dois quiosques multimédia no interior
Acessibilidade
Acessibilidade parcial para pessoas com mobilidade reduzida.
Estacionamento
Disponível parque gratuito para automóveis e autocarros com ampla capacidade.
Eventos Permitidos
Banquetes, recepções, conferências, recitais de música ou poesia, lançamento de livros, actos solenes, actividades de índole cultural, mostras, exposições.
Mediante consulta prévia e condições a acordar.
ATANÁZIO, Manuel C. Mendes, A Arte do Manuelino, Lisboa, Editorial Presença, 1984.
CARDOSO, Paulo, Torre de Belém, Lisboa, 1991.
DIAS, Pedro, A Arquitectura Manuelina, Porto, Civilização, 1988.
Idem, História da Arte em Portugal: O Manuelino, vol. V, Lisboa, Edições Alfa, 1986.
LOPES, Flávio (coord.), Património Classificado - Arquitectónico e Arqueológico - inventário, vol. II, Lisboa, IPPAR, 1993.
Idem, Património Arquitectónico e Arqueológico - Informar para Proteger, Lisboa, IPPAR, 1994.
SANTANA, Francisco e SUCENA, Eduardo (dir.), Dicionário da História de Lisboa, Sacavém, Carlos Quintas & Associados - Consultores, Lda., 1994.
SANTOS, Reinaldo, A Torre de Belém, Lisboa, 1970.