Património Material
Teatro Nacional de São Carlos
Trata-se de um notável edifício construído entre 1792 e 1793, cujo traçado se deve ao arquitecto José da Costa e Silva. A edificação de linhas neoclássicas (o primeiro em Lisboa), tem idêntica planta à do Teatro de S. Carlos de Nápoles de Medrano (destruído por um incêndio) e evidente semelhança na fachada do Teatro alla Scala de Milão, de Piermorini. A fachada principal é constituída por três pisos, sendo o pórtico, ao nível térreo, formado por um corpo avançado, composto por uma varanda balaustrada, sobre arcaria. O piso mais elevado é bastante mais estreito que os inferiores e é sobrepujado por dois pináculos e pedra de armas. O andar nobre mostra janelas com molduras, tendo as centrais, colunas toscanas a separá-las. As grinaldas que embelezam os capitéis das pilastras contribuem para a grandiosidade do conjunto.
À sobriedade decorativa do exterior, opõe-se o interior sumptuosamente decorado, com destaque para as pinturas dos tectos, respectivamente da responsabilidade de Cirilo Wolkmar Machado, o da portaria, e de Manuel da Costa, o da Sala de Ópera. Contudo foram feitas diversas modificações, designadamente, no desenho das tribunas e camarotes, na talha dourada de feição rococó e na imaginária que ornamenta o interior. A sala de espectáculos, que possui cinco ordens de camarotes, foi alterada por Leandro Braga, com trabalhos na tribuna real ao gosta das linhas Segundo Império. De destacar, ainda, duas imponentes escadas laterais com belíssimos corrimãos, que ligam ao piso térreo, nomeadamente, ao botequim e bilheteira.
Importância e Tradição no meio Cultural
A Corte portuguesa, na época setecentista, tal como acontecia com as Casas Reais do resto da Europa, fazia gala em promover as artes do espectáculo, não sendo portanto surpresa a construção do Teatro Nacional de S. Carlos.
Largamente conhecido no mundo do espectáculo - música, bailado e, particularmente, no campo da ópera -, este teatro tem a sua reputação adquirida, desde há muito, com a passagem de Companhias e Artistas de notável qualidade, que fazem esgotar os bilhetes de ingresso nos espectáculos com assinalável antecedência. Nele actuou, em 1869, uma companhia italiana sob a direcção de Ernesto Rossi, representando a peça "Othelo" de Shakespeare.
O Teatro Nacional de S. Carlos, cuja fachada principal sobre o Largo do Directório, ergue-se em frente à casa onde nasceu o poeta Fernando Pessoa, fica numa zona nobre da cidade de Lisboa - o Chiado. Neste lugar perdura até aos nossos dias, uma vincada tradição ligada aos meios intelectuais e à cultura. Aqui se localizam elegantes cafés (ex.: Brasileira), as casas de chá e pastelarias (Marques, Bénard, Garret) e livrarias (Bertrand, Sá da Costa), que tiveram uma significativa história no mundo das artes e letras portuguesas - era aí que se reuniam notáveis artistas, intelectuais, escritores e políticos. Esta vivência muito própria desta parte da cidade, é reforçada pela presença de outros dois teatros - S. Luís e Trindade -, considerados, juntamente com o de S. Carlos, como os melhores e mais antigos. Outras instituições que conferem este cunho, são o Grémio Literário e o Centro Nacional de Cultura (situado defronte à fachada lateral direita do Teatro S. Carlos).
DIÁRIO DA REPÚBLICA, I Série B- Nº 56 de 06-03-1996.
GUIA LARANJA, Lisboa e Costa de Lisboa, Lisboa, Convergência, 1985.
LOPES, Flávio (coord.), Património Classificado - Arquitectónico e Arqueológico - inventário, vol. II, Lisboa, IPPAR, 1993.