"É de Cultura como instrumento para a felicidade, como arma para o civismo, como via para o entendimento dos povos que vos quero falar"

Património Material

Teatro Lethes, também denominado de Colégio de Santiago Maior

Distrito: Faro
Concelho: Faro

Tipo de Património
Património Material
Classificação
Imóvel de Interesse Público
Proteção Jurídica
45/93, DR 280 de 30 Novembro 1993
Identificação Patrimonial
Monumento/Edifício
Época(s) Dominante(s)
Moderno, Contemporâneo
Tipologia original
Arquitectura Religiosa - Equipamento
Valor patrimonial
Valor Histórico
Estilo(s)
Maneirismo
Áreas Artísticas
Arquitectura Religiosa, Pintura
Uso atual
Teatro
Proprietário/Instituições responsáveis
Cruz Vermelha Portuguesa (proprietária)
Descrição

A 8 de Fevereiro de 1599, Filipe II autorizou a fundação do Colégio dos Padres Jesuítas em Faro (Colégio de S. Tiago Maior da Companhia de Jesus). Não se sabe quando começou a funcionar mas supõe-se ter sido no início do séc. XVII, pois em 1613 houve um referente ao Colégio num Breve de Paulo V, encontrando-se aí, igualmente, um pedaço duma lápide sepulcral com a data de 1622.

A actividade de um colégio implicava, além da igreja (a qual devia localizar-se no centro do edifício), um conjunto de salas de aulas, quartos para os padres e para os alunos internos e as restantes dependências necessárias numa casa conventual. Existe uma gravura de Faro no séc. XVII que representa o Colégio de S. Tiago Maior, edifício com duas torres. A fachada assemelha-se à actual e as torres ou caíram com o terramoto ou foram derrubadas de propósito. O frontão foi substituído por uma balaustrada e as três portas centrais pertenceriam à igreja, tendo-se modificado profundamente o resto do edifício. Durante a permanência dos jesuítas, a igreja tinha a capela-mor no local onde, actualmente, se encontra o "foyer" do teatro e, além desse altar, teria outros quatro, em cada parede lateral. O altar-mor seria dedicado ao orago, São Tiago Maior, um a Nossa Senhora da Encarnação, outro a São Luís Gonzaga (que festejavam anualmente) e ainda outro a S. João Francisco Regis.

O Colégio desenvolveu a sua actividade ao longo do séc. XVII e até 1759, altura da expulsão dos jesuítas. O edifício, mais tarde, foi habitado pelos Carmelitas Calçados, conhecidos por "Marianos", os quais tinham tido um "hospício" na rua com o mesmo nome (actualmente do Montepio). Estes mantiveram-se no antigo edifício do Colégio até à expulsão das Ordens Religiosas, em 1834.

Em 1843, foi adquirido em hasta pública para ser adaptado a teatro, pelo Dr. Lázaro Doglione, médico italiano que desde 1804, residia em Faro. De Itália tinha, também, vindo um seu sobrinho, Dr. Justino Cúmano, um grande apaixonado pelo teatro e o grande responsável pela compra do edifício.

Não existe nenhuma descrição do Colégio e da sua igreja, mas percebe-se que as grandes linhas e paredes mestras se mantiveram na adaptação, obras que duraram dois anos. Foi instalada no vão da igreja a sala de espectáculos e o palco na antiga entrada, sendo aproveitada toda a altura do antigo coro. Nos lados foram instalados os camarotes, divididos em quatro ordens. Os trabalhos foram dirigidos pelo próprio Dr. Justino Cúmano (realização do seu sonho), o qual conseguiu obter uma réplica, embora em tamanho reduzido, do Teatro de S. Carlos, de Lisboa, um projecto de José da Costa e Silva, inaugurado em 1792, este também uma réplica do Scala de Milão.

Com a transformação do Colégio em Teatro, o seu recheio foi distribuído por diversos edifícios religiosos da cidade.

O teatro foi inaugurado a 4 de Abril de 1845, data do aniversário da rainha D. Maria II, com a farsa "O Urso e o Pachá". Devido à qualidade dos seus espectáculos, este teatro tornou-se uma espécie de centro cultural do Algarve e, simultaneamente, um local de convívio para a elite farense. A sua época áurea decorreu entre 1860 e 1882; os actores vestiam-se luxuosamente, o palco tinha adereços requintados e existia uma orquestra com cerca de trinta, quarenta elementos em constante actividade.

O animatógrafo surgiu neste teatro em 1898 (a primeira vez em Faro) e pertencia ao Real Coliseu de Lisboa.

Em 1906, o Teatro Lethes reabriu, após cinco anos de obras de restauro, sob a direcção da proprietária do teatro, D. Maria Victória de Mattos Cúmano, viúva do Dr. Justino Cúmano, obras dirigidas por João Coelho Pereira de Mattos, com a importante participação do artista (pintor-cenógrafo) de Faro, José Filipe Porfírio. Este dirigiu o grupo de artistas que aí trabalharam, cujo valor se encontra representado nas pinturas do tecto e no espaço superior ao palco, além dum pano de boca.

As obras tornaram a acústica perfeita, a plateia mais confortável, foram introduzidas quatro ordens de camarotes, com varandins de ferro forjado, tectos pintados representando cenas de música e um pano de boca com magnífica paisagem bucólica, num ambiente luxuoso que muito agradou à burguesia farense.

A estreia esteve a cargo da Companhia de Teatro do Ginásio de Lisboa, dirigida pelo famoso actor Valle.

Em 1929, morreu a sua proprietária e o teatro encerrou em sinal de luto, não tendo voltado a ser o mesmo.

Trinta anos depois foi vendido à Cruz Vermelha, a qual actualmente ocupa parte do edifício. O teatro propriamente dito e grande parte do imóvel pertencem hoje à Secretaria de Estado da Cultura.

Morada
Gaveto das Rua Dr. Justino Cúmano, Horta Machado, Rua Portugal e Largo das Mouras Velhas, Sé
8000
FARO
Fonte de informação
CNC / Patrimatic
Bibliografia
DIÁRIO DA REPÚBLICA, I Série-B, nº 280 - 30-11-1993.

LAMEIRA, I. C. Francisco, Faro : Edificações Notáveis, Faro, Câmara Municipal de Faro, 1995.

MARTINHEIRA, Paula, "Teatro Lethes de Faro faz 150 anos e comemora esplendores passados", in Artes, 17 de Janeiro de 1995, p. 27.

Data de atualização
30/01/2008
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