"É de Cultura como instrumento para a felicidade, como arma para o civismo, como via para o entendimento dos povos que vos quero falar"

Património Material

Sé de Braga

Distrito: Braga
Concelho: Braga

Tipo de Património
Património Material
Classificação
Monumento Nacional
Proteção Jurídica
Decreto de 16-6-1910; Z.E.P., D.G., nº 202 de 30-8-1967
Identificação Patrimonial
Monumento/Edifício
Época(s) Dominante(s)
Medieval, Moderna
Tipologia original
Arquitectura Religiosa - Igreja
Valor patrimonial
Valor Histórico, Valor Artístico
Estilo(s)
Românico, Gótico, Manuelino, Mudéjar, Barroco
Áreas Artísticas
Arquitectura Religiosa, Alfaias Religiosas, Azulejaria, Escultura, Mobiliário, Ourivesaria, Pintura, Talha
Uso atual
A Sé de Braga é, simultaneamente, meta turística, procurada pela sua história e valor artístico, e lugar vivo de culto.
Proprietário/Instituições responsáveis
IGESPAR / Patriarcado
Descrição

A classificação inclui os túmulos do Conde D. Henrique e de D. Teresa, do Infante D. Afonso e dos arcebispos D. Gonçalo Pereira e D. Diogo de Sousa.

PRÉ-EXISTÊNCIAS ANTERIORES À FUNDAÇÃO DA CATEDRAL

A cidade de Braga já detinha importância antes da romanização e, foi durante esta época, Convento Jurídico de toda a região de Entre Douro-e-Minho.
Nos primeiros tempos de cristianização da Península Ibérica, no século III, esta estava dividida em cinco províncias eclesiásticas correspondendo a cada, uma grande cidade. A Galécia era uma das províncias romanas, onde se incluía a Bracara Augusta, elevada a capital em 216 (data da fundação da Diocese). Nesta época intensificaram-se as perseguições movidas aos cristãos de que resultaram numerosos mártires.
No século IV, Bracara era já um natural e importante centro irradiador da Fé cristã na Península. A necessidade de novos estudos e interpretações refletiram-se na realização de Concílios. Tiveram como finalidade, na altura, travar as práticas gentias ou as heresias como o Arianismo e o Priscilianismo. Na Diocese de Braga distinguiram-se diversas figuras. No ano 400, existem referências a um bispo de nome Paterno, daquela diocese, que participou no I Concílio de Toledo.

No ano 411 os Suevos (um dos povos bárbaros de origem germânica) invadem a Península Ibérica, instalam-se e dominam na Galécia. Em meados do século V, os suevos acabam por se converter ao Cristianismo, reinava Requiário. Durante esse domínio Braga teve como bispos: Balcónio e Profuturo. É provável que remonte a esta época a construção da antiga basílica paleocristã. Após a primeira metade do século VI, mais precisamente em 556, tem lugar a fundação do Bispado de Dume, dependente da Diocese de Braga, que teve como efeito o incremento das instituições religiosas, fundaram-se várias igrejas e mosteiros, com destaque para o de Dume. Toda esta ação teve como grande impulsionador S. Martinho de Dume, nascido na Hungria e que, pelo ano 550, veio para a Galécia onde foi bispo de Dume e depois arcebispo de Braga.
Braga era Igreja Primaz do reino suévico e metrópole eclesiástica, e a primazia do seu arcebispo abrangia os bispados de Dume, Porto, Lamego, Viseu, Coimbra e Idanha-a-Velha, quando em 585 aquele reino chegou ao fim, com a ascensão dos novos senhores - os Visigodos. Passou a ser a capital do reino visigótico, a cidade de Toledo, tendo por isso, Braga, perdido parte da sua importância. Notabilizou-se, em meados do século VII, o bispo S. Frutuoso que fundou diversos mosteiros na região da Galécia, entre eles o mosteiro de Montélios.

O reino visigodo chega ao fim com a invasão árabe em 711. O declínio da urbe acentua-se, tendo a cidade em 716, sido destruída pelos novos invasores; a sua diocese ficou desorganizada e prelados e população refugiam-se mais a Norte.
A região a Norte do Douro pode considerar-se como não tendo sofrido uma efetiva fixação muçulmana, e desde logo, também não teria sido uma região ermada, embora, por vezes, se fizessem sentir os efeitos das incursões ou razias dos mouros. Entende-se pois, a mudança do bispo de Braga para Lugo e que a Igreja local passasse a subordiná-la.
Será a partir dessa região setentrional onde procuraram proteção que se iniciará um pouco mais tarde (718), por Pelágio, a resistência aos árabes ou guerra da Reconquista, onde teve muita importância o aspeto religioso que impediu a união de cristãos e muçulmanos. Desse movimento formar-se-ão, pouco a pouco, os diversos reinos cristãos. Em 739 Braga é reconquistada por D. Afonso I das Astúrias. D. Afonso III (866-910) estabelece o controlo definitivo da linha do Douro, sendo feito o repovoamento de Braga e a reedificação da basílica paleocristã, cuja planta era influenciada pela de Santiago de Compostela. No século XI, Fernando Magno (1002-1065) conquista definitivamente a linha do Mondego, e após a sua morte, o reino é dividido pelos seus três filhos, cabendo a D. Garcia, a Galiza, a D. Sancho, Castela, e a D. Afonso, Leão. Pouco tempo depois a diocese de Braga é finalmente restaurada.

Para a génese de Portugal, contribuiu o papel desempenhado pelos condes portucalenses e pelos arcebispos de Braga. As questões de primado entre a metrópole de Braga e Toledo tiveram a sua extensão no campo político: aliando-se à causa do condado portucalense, que viria a dar origem ao reino de Portugal, o metropolita de Braga, enquanto os de Compostela e Toledo apoiavam os interesses hegemónicos de Castela.

CARACTERIZAÇÃO ESTÉTICA

A fundação da Sé de Braga, deve-se ao bispo D. Pedro que foi nomeado nos finais de 1070-1071, para administrar a respetiva diocese. A edificação foi efetuada num local onde teria existido um antigo culto à deusa Ísis (divindade egípcia) muito venerada pelos romanos. Nada resta dessa fase e o que de mais antigo se observa, diz respeito à época da sua restauração, realizada pelo bispo referido. Mas, mesmo desta época, pouco se sabe, há conhecimento que o altar-mor estava pronto em 1089, pois nesta data foi realizado o ato de sagração onde estiveram presentes diversos elementos preponderantes da Igreja, entre eles o legado pontifício - D. Bernardo de Toledo. Foi o sucessor de D. Pedro, o arcebispo S. Geraldo que continuou o projeto inicial. Restam ainda, designadamente, vários capitéis do cruzeiro, parte da nave lateral e um absidíolo no claustro de Santo Amaro, que indiciavam um programa inicial bastante ambicioso que previa cabeceira com deambulatório e capelas radiais, e um edifício de cinco naves.

Após a morte deste prelado, e depois da destruição da catedral, no século XII, pelos adeptos de D. Teresa, o projeto inicial foi abandonado. Por indicação do arcebispo D. Paio Mendes (1118-1137), erigiu-se outro mais reduzido, de planta em cruz latina, formado por: três naves divididas em seis tramos, separados por seis arcos de volta perfeita de cada lado e sustentados por colunas; transepto; e cabeceira com dois absidíolos. As obras foram dirigidas por Nuno Paio. Deste período, são a maior parte dos elementos românicos que hoje ali se podem observar: nave central (mais alta que as laterais); portal principal, cujo tímpano foi destruído na época quinhentista, mas onde subsistem duas arquivoltas decoradas com animais fantásticos e historiadas com passos de gestas medievais, de origem borgonhesa (Canção de Roland e Romance da Raposa); portal lateral (conhecido por Porta do Sol), situado no lado Sul da Catedral, com arcos e capitéis decorados com motivos geométricos e vegetalistas, e modilhões trabalhados com figuras humanas e animalescas. O templo foi erigido segundo os cânones arquitetónicos da Ordem de Cluny, por influência dos prelados S. Geraldo e D. Maurício Burdino, a quem o conde D. Henrique e D. Teresa confiaram a obra.

Ao longo dos séculos foram sendo feitas modificações na Sé românica, tornando-a um complexo e impressionante conjunto de estilos arquitetónicos e decorativos. A partir do séc. XIII, foram-lhe acrescentadas diversas capelas laterais.
À fachada da igreja, em finais de quatrocentos, inícios de quinhentos, e por ordem do arcebispo D. Jorge da Costa, foi acrescentada uma galilé gótica, apoiada por contrafortes, tendo D. Diogo de Sousa, que lhe sucedeu, completado a sua decoração. É dividida por três tramos, a que correspondem três arcos na frontaria, sendo o do centro, bastante mais largo e de volta inteira, e os outros ogivais. Existe ainda outro arco ogival que abre para o lado sul.

A galilé, é coberta por belas abóbadas artesoadas, cujos arcos ogivais formam três estrelas de quatro pontas, sendo fechada por grades quinhentistas que inicialmente serviam a capela-mor e que para ali foram transferidas em 1722. A platibanda apresenta sobre mísulas sete esculturas em calcário, resguardadas por baldaquinos, referentes a prelados bracarenses (podendo ver-se da esquerda para a direita - S. Geraldo, S. Frutuoso, S. Martinho de Dume, S. Pedro de Rates), a Apóstolos (S. Pedro e S. Paulo) e ao Anjo da Guarda.
Do gótico final salienta-se a bela cabeceira construída em 1509, desenhada por João de Castilho, com janelas ogivais, botaréus, platibanda rendilhada e ostentando a imagem de Nossa Senhora do Leite, atribuída ao escultor francês Nicolau de Chanterenne, assente em mísula e sob rico baldaquino, entre as pedras de armas de D. Manuel I e de D. Diogo de Sousa. A capela-mor tem cobertura em abóbada de nervuras curvas (a primeira realizada em Portugal), sendo digno de referência o magnífico frontal do altar-mor, feito em pedra de Ançã, um dos mais representativos exemplares da escultura manuelina, único aproveitamento do retábulo gótico quando, no século XVIII, o templo sofreu novas remodelações ao gosto barroco.

Em 1698, por indicação do arcebispo D. João de Sousa, o arquiteto João Antunes projetou uma sacristia de assinaláveis dimensões que foi edificada no local onde desde o século XIV, existia a capela dedicada a S. Martinho, e que, já em 1511, fora adaptada a sacristia. Ergue-se numa sólida torre ameada, coberta por uma abóbada de berço, com caixotões e paredes reforçadas por pilastras coríntias. Inclui quadros, altares relicários, lavatórios em granito, mesa com variados mármores e arcazes.

O claustro do século XII, foi demolido no século XVIII, tendo as obras de reconstrução terminado já no nosso século. Numa das suas alas está o Museu de Arte Sacra, fundado em 1930 e que, basicamente, corresponde ao antigo Tesouro da Catedral, com peças que foram formando o seu acervo, ao longo de quase um milénio. Nele podem ser apreciadas alfaias religiosas, estatuária, joias e paramentos, com particular destaque, pelo seu valor histórico e artístico, para duas peças, respetivamente: um cofre de marfim hispano-árabe, do século X, que foi utilizado como píxide; e o cálice de S. Geraldo, em prata dourada, dos séculos XI-XII.
Em frente à escada que dá acesso ao museu está a Capela dos Reis, construção gótica do século XIV, adossada ao alçado exterior, do lado Norte, da Sé. Possui abóbada de arcos cruzeiros assentes em capitéis com figuras esculpidas. Os arcosólios ali existentes contém os túmulos com estátuas jacentes, de D. Teresa e de D. Henrique, e do arcebispo que mandou edificar esta capela, D. Lourenço Vicente, cujo corpo se encontra incorrupto.

Junto ao claustro existe uma outra capela, conhecida por Capela da Glória, mandada construir em 1332, pelo arcebispo D. Gonçalo Pereira, avô de D. Nuno Álvares Pereira. Aí, encontra-se a obra magnífica da escultura gótica tumular, datada de 1334, contendo os restos mortais do seu fundador. Foi executado por mestre Pero de Coimbra, o jacente de grande realismo, e por Telo Garcia, a decoração com as figuras dos Apóstolos em edículas. O altar exibe uma bela imagem da padroeira rodeada de anjos. As paredes desta capela estão revestidas de pinturas mudéjares cuja arte testemunha a influência árabe; subsistem ainda, fragmentos de outras pinturas, posteriores, que foram sobrepostas àquelas.

No lado Norte do claustro, a Capela de Nossa Senhora da Piedade, ou da Misericórdia Velha, edificada em 1513, contém os sepulcros: do seu fundador, D. Diogo de Sousa, com estátua jacente atribuída a Chanterenne; e de D. Frei Caetano Brandão. Destaca-se o retábulo de talha dourada do altar, com colunas salomónicas, onde se encontra a imagem da padroeira.

Em cada um dos braços do transepto, arcos românicos emolduram as entradas de duas capelas: a do Santíssimo Sacramento, do lado da Epístola, e a de Nossa Senhora do Sameiro (outrora de invocação a S. Pedro de Rates), do lado do Evangelho. A primeira possui o frontal do altar, em madeira policromada pertencente a um retábulo de 1718, representando o Triunfo da Igreja, obra de João Pereira dos Santos, inspirada numa pintura do artista flamengo Rubens; a segunda tem as paredes revestidas por azulejos azuis e brancos, com cenas da vida do padroeiro, da autoria de António de Oliveira Bernardes (séc. XVIII). Cada uma destas capelas apresenta outra no seu seguimento, respetivamente, a do lado direito, a capela do Sagrado Coração de Jesus, e a do lado esquerdo, a capela de Nossa Senhora da Rosa onde se guardam as relíquias de S. Martinho de Dume.

Ao longo das naves laterais, podem ser observadas esculturas barrocas representando os Apóstolos e os Doutores da Igreja. Na nave do lado da Epístola, ao fundo, junto à entrada principal, um arcosólio abriga o túmulo do Infante D. Afonso, filho de D. João I. Mandado fazer pela irmã do infante, D. Isabel, trata-se de uma arca em cobre, muito bem trabalhada, decorada com animais e motivos vegetalistas, com estátua jacente, trabalho atribuído a escultor flamengo. Cobre a arca um dossel, mandado fazer mais tarde (1527), por D. Diogo de Sousa, bem como a grade de ferro batido do batistério que se localiza defronte daquela capela tumular. Deve-se ainda a este prelado, a pia batismal, de estilo manuelino, lavrada em pedra de Ançã, que se encontra noutro arcosólio revestido com azulejos, também junto à entrada, mas no lado oposto.
Na entrada principal, as portas de madeira, com elementos metálicos, foram mandadas executar, em 1688, pelo arcebispo D. Rodrigo de Moura Teles; em 1715, na fachada e nas naves foram rasgados janelões e, em 1724, foi colocado num nicho, situado no frontão interrompido, uma imagem de Santa Maria. Ainda por indicação daquele religioso, foram reedificadas as duas grandes torres, com novas sineiras. Estas obras decorreram sob a direção do arquiteto Manuel Fernandes da Silva.

No interior da igreja é nítido o contraste entre a sobriedade românica da nave central e o trabalho "rocaille" dos orgãos setecentistas que se encontram dispostos em dois varandins situados lateralmente na nave central, esteticamente enquadrados com o Coro Alto. Foram executados por Frei Simão Fontana, tendo as caixas sido desenhadas e esculpidas pelo mestre entalhador Marceliano de Araújo, e pintadas por Manuel Furtado. Ostentam exuberante decoração de figuras simbólicas e celestiais, e outros motivos em talha dourada.


Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.        

Estado de Conservação
Intervenções e Restauros
Obras de restauro do património móvel e integrado (2000/2001), financiadas pelo IGESPAR
Modo de funcionamento
Para mais informações por favor contactar a Região de Turismo do Verde Minho
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BRAGA
Telefone
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Fax
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Fonte de informação
CNC / Patrimatic
Bibliografia
ALMEIDA, José António Ferreira de (coord.), Tesouros Artísticos de Portugal, Selecções do Reader's Digest, Lisboa, 1982.

CADERNO INFORMATIVO : Braga e a sua Catedral, Cabido da Sé Catedral e Comissão Organizadora do Projecto Educativo da Dedicação da Sé Catedral, Braga, 1990.

GIL, Júlio e CALVET, Nuno, As mais belas igrejas de Portugal, Verbo, Lisboa, vol. I, 1988.

LOPES, Flávio (coord.), Património Classificado : Arquitectónico e Arqueológico - inventário, vol. I, IPPAR, Lisboa, 1993.

Data de atualização
22/08/2012
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