Património Material
Sé Catedral de Silves
A Sé Catedral de Silves ergue-se num dos pontos altos da cidade, no âmbito da antiga almedina mourisca e a curta distância do circuito da alcáçova do castelo, tendo provavelmente sido erguida no local da mesquita grande muçulmana.
Desconhece-se como seria a Sé de Silves no período que decorreu entre a conquista definitiva da cidade em 1249, durante o reinado de D. Afonso III, e o reinado de D. Afonso V. Durante os dois anos de domínio cristão que conheceu após a primeira conquista por D. Sancho I, mais não se deve ter feito do que sagrado a mesquita existente, adaptando-a ao culto. De qualquer modo, a Sé que existiria desapareceu, ou arrasada pelo calamitoso terramoto que ocorreu cerca de 1352, ou foi simplesmente demolida ou reaproveitada para se erguer outra que, também ela, veio a cair, em meados do século XV, altura em que o cabido recorreu a D. Afonso V, que ajudou à sua reconstrução. A obra foi demorada e, segundo Pedro Dias, em fevereiro de 1486, D. João II passou carta de privilégio ao cabido para facilitar a contratação de oficiais para as obras e, treze anos mais tarde, D. Manuel I ordenou ampliações no que estava a ser feito, de forma a tornar a Sé "um grande e sumptuoso templo". No entanto, a obra realizada é menos ambiciosa que o projeto que D. Manuel parece defender, não deixando de ser uma edificação monumental, plena de nobreza e harmonia.
O que hoje se pode observar é uma construção gótica em grés de Silves, bastante alterada por restauros posteriores. Na fachada principal, precedida por uma escadaria, rasga-se um pórtico de cinco arquivoltas quebradas, assentes em esbeltas colunas capitelizadas, estando o pórtico inscrito entre dois altos contrafortes, adelgaçados no último andar e rematados por pináculos ornados de cogulhos. Sobre as arquivoltas uma cornija apoia-se em cachorrada esculpida. Ao cimo abre-se um óculo de profunda moldura. Na fachada inscrevem-se ainda duas torres sineiras, reconstruídas no século XVIII, tendo a da direita um relógio e a da esquerda (lado norte) mantido uma fresta gótica. Na fachada sul, sobre patamar com acesso por escadaria lateral, abre-se uma porta barroca, festiva, sobrepujada por friso e frontão da mesma época. O interior, a que a cor avermelhada do grés dá um singular aspeto, é de três naves de quatro tramos, sendo a nave central mais elevada que as laterais, cobertas por um teto de madeira, mas que deve ter sido pensado para ser de pedra, tal é a robustez e complexidade dos apoios que foram erguidos no cruzeiro. Os braços do transepto têm abóbadas de berço quebrado, sendo ogival no cruzeiro, com fecho ornado. O topo sul do transepto é rasgado por uma grande fresta de dois lumes e de arco ligeiramente quebrado, sendo o topo norte rasgado por uma fresta bastante estreita.
Totalmente revestida pelo grés da região, a cabeceira é composta por duas absidíolas quase tão extensas como a ábside que ladeiam. Em todas elas se abrem frestas geminadas, sendo muito menores as das absidíolas e, conforme a tradição, são em número de três as altas frestas que iluminam a capela-mor, que tem portas laterais comunicantes com as absidíolas, com arquivoltas e colunas adossadas. A ábside é coberta por abóbada artesoada com escudos nos bocetes. A cobertura da absidíola do lado norte possui idêntico desenho, tendo a absidíola do lado sul uma abóbada mais simples, em berço quebrado e amparado por arco toral. Todos os beirados da cabeceira se apoiam em cachorradas, sendo os da ábside coroados de ameias com merlões piramidais. Os quatro ângulos salientes da ábside são reforçados por contrafortes chanfrados. De salientar ainda, no exterior da ábside, as gárgulas e modilhões, que completam o conjunto de elementos góticos que caracterizam este setor marcadamente quatrocentista. Capelas laterais, surgidas provavelmente quando do restauro setecentista, adicionaram notas de talha barroca à estrutura gótica. Na Capela do Santíssimo Sacramento pode admirar-se um altar de talha dourada e painéis de azulejos azuis e brancos. No segundo piso da capela-mor subsiste uma lápide comemorativa de ali ter estado sepultado D. João II, desde 1425 até à sua trasladação para a Batalha, em 1499. Numa das entradas laterais está o túmulo de João Gramaxo, de mármore armoriado, datado de 1518. Um outro túmulo de mármore, decorado por uma serpente enroscada e com pequenas asas abertas, abriga, segundo a tradição, os restos mortais do bispo D. Rodrigo. Na parede anterior da arca estão gravados três escudos, cada um deles com três vieiras esculpidas sobre uma faixa que os atravessa em diagonal. A Capela de São João do Rego abriga, em arcossólios, o túmulo de Gaston de la Ylha, criado do Infante D. João, datado de 1492. São ainda dignas de nota as pias de água benta e uma imagem de Nossa Senhora, em pedra, mas escavada para melhor ser transportada em procissão.
O último bispo a residir em Silves foi o célebre D. Jerónimo Osório, tendo o governo episcopal sido transferido de Silves para Faro em 1577, embora a bula do Papa Paulo III, deferindo a transferência, date de 1539.
Foi reconstruída no século XV.
Intervenções posteriores ao terramoto de 1755.
A 8 de outubro de 1931 a Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais deu início a uma campanha de obras de restauro.
No início destas obras a Sé não apresentava aspeto de ruína, mas foi necessário proceder ao conserto de telhados e portas, limpeza interior e exterior, bem como realizar uma importante obra de reintegração, visto muitos elementos escultóricos primitivos se encontrarem entaipados ou muito deturpados por construções posteriores.
Os trabalhos executados foram os seguintes: demolição da antiga escadaria de acesso à posta principal e reconstrução duma nova escada; entaipamento das três janelas da fachada principal com remoção da grade de varanda e entaipamento das aberturas das capelas laterais; demolição da antiga sacristia e construção de outra e de novas escadas na fachada lateral direita; demolição dum anexo que existia encostado ao transepto e capela lateral esquerda; demolição do coro e restauro das colunas da nave principal e que estava apoiado; demolição dos altares da capela-mor e das capelas laterais e desentaipamento das respetivas janelas; construção de três altares de pedra para essas capelas; construção e assentamento de todo o madeiramento dos telhados e portas e cobertura com telha apropriada; limpeza interior e exterior, e tomada de juntas em profundidade; caiação interior das naves e paredes laterais, deixando a descoberto a silharia de arcos e colunas; caiação exterior de toda a igreja, exceto nos cunhais e sancas onde a pedra se encontrava em bom estado; modificação do traçado da escadaria lateral direita; construção e assentamento de vitrais apropriados.
Horário:
2ª a 6ª feira - 09h00-13h00 | 14h00-17h00
Sábado - fora do horário das celebrações
Preço: 1,50 €
GIL, Júlio e CALVET, Nuno, As mais belas igrejas de Portugal, vol. II, Verbo, 1988;
PATRIMÓNIO CLASSIFICADO - Arquitetónico e Arqueológico - inventário, vol. I, IPPAR, Lisboa, 1993;
TESOUROS ARTÍSTICOS DE PORTUGAL, Seleções do Reader's Digest, Lisboa, 1982;
"Sé Catedral de Silves", in Boletim da Direção dos Edifícios e Monumentos Nacionais, Nº 80, Ministério das Obras Públicas, Junho de 1955;
OLIVEIRA, Manuel Alves de, Guia Turístico de Portugal de A a Z, Lisboa, Círculo de Leitores, 1990.