Património Material
Restaurante Tavares,Salão de Chá-Restaurante Tavares,Rest. Tavares Rico
A história do Restaurante Tavares começa em 1784, quando Nicolau Massa resolveu encerrar o Café e Bilhares que tinha na Rua Larga de São Roque (actual Largo Trindade Coelho), e decidiu abrir um novo estabelecimento comercial na Rua da Misericórdia. Mais tarde foi adquirido por Bartolomeu Ansaldo, que em 1823 o vendeu aos irmãos Manuel e António Tavares, a quem se deve a adopção do nome que permanece até aos nossos dias. Nos conturbados anos das guerras liberais, o Botequim Tavares foi alvo de suspeita de discussões liberalistas, a tal ponto que Manuel Tavares foi obrigado a colocar um dístico na parede que dizia "O dono desta loja não consente aqui discórdias nem conversações de qualquer qualidade e opiniões políticas".Em meados do século XIX foi adquirido por um galego, que pouco depois o trespassou a um Pimenta que desbaratou o dinheiro levando a loja de bebidas à falência. Em 1861 torna-se propriedade de Vicente Caldeira, que empreendeu profundas transformações no velho café, surgindo um luxuoso restaurante, sem perder contudo o cunho tradicional. Em 1888 o restaurante pertence a Manuel Caldeira, em consequência do falecimento do seu pai. É por essa altura que o restaurante passa a ser frequentado por figuras importantes da política, das finanças, da diplomacia, da literatura, do teatro e das artes. Nele se constituiu o famoso grupo "Vencidos da Vida" de que fizeram parte, personalidades como Ramalho Ortigão, Eça de Queirós, Guerra Junqueiro. Foi ainda ponto de encontro do grupo "Orpheu" e de outros movimentos de vanguarda artística e literária. Durante largos anos tornaram-se famosos os pequenos-almoços do Tavares, que tinham como frequentadores habituais Almada Negreiros, Santa-Rita Pintor, Eduardo Viana, etc. Com a morte de Manuel Caldeira em 1923, o restaurante passa para a posse de Miguel Miguez Vilan, que já detinha a gerência, e deu sociedade a seu filho José. O estabelecimento veio a abrir nova falência em 1940, levando ao seu encerramento, e reabrindo um ano depois com nova gerência. De conhecido renome, e conservando um ambiente característico do séc. XIX, foi mais tarde integrado no roteiro internacional dos restaurantes e em 1961 foi considerado estabelecimento de utilidade turística.
Actualmente apresenta planta rectangular, ocupando os dois pisos inferiores de um prédio pombalino. Na fachada, ao nível do piso térreo, há três portas com emolduramento simples em cantaria, sendo a central de maior largura e dotada de verga em arco abatido. As portas laterais são envidraçadas, dando a da esquerda acesso ao interior do restaurante, enquanto que pela da direita temos acesso a uma escada que nos conduz ao "self-service" do 1º andar. A fachada do 1º piso é rasgada por três janelas de sacada em arco de asa de cesto, separadas por pilastras estriadas, as quais se abrem para uma varanda de tripla curva com guarda de ferro forjado decorado com grinaldas de ferro fundido. A base da varanda ostenta no lado inferior decoração em estuque com motivos vegetalistas que se prolongam pelo muro do piso térreo. Precedendo o 2º andar está um friso contínuo em cantaria, sobre o qual se observa decoração em estuque com festões e motivos florais.
O interior do restaurante é constituído por um salão dividido em três sectores através de pilastras adossadas às paredes laterais. Estas são largas superfícies revestidas a espelhos sobre lambris de madeira dourada, e cujas vigas são abundantemente decoradas com estuque dourado. O tecto é igualmente trabalhado a estuque dourado. Após a recepção seguem-se as salas de jantar, ao fundo das quais se encontra a porta de acesso à cozinha.
MEDEIROS, Carlos Laranjo, (coord.), Lojas Antigas de Lisboa : o Chiado, o Carmo e a Trindade, vol. II, Lisboa: Programa de Artes e Ofícios Tradicionais, 1994.
SANTANA, Francisco e SUCENA, Eduardo (dir.), Dicionário da História de Lisboa, Lisboa, Carlos Quintas & Associados - consultores, Lda., 1994.