Património Material
Sinagoga Portuguesa Shaaré Tikvah
A comunidade judaica em Portugal tem raízes antigas e a sua história conforme é sabido foi em determinados períodos atribulada. Devido à perseguição movida pela Inquisição, até praticamente ao início do séc. XIX não existia nenhum templo hebraico em Lisboa. A partir da abolição daquela instituição, os judeus começaram a regressar, vindos principalmente do Norte de África, e em meados daquele século, já existiam na capital portuguesa algumas sinagogas que funcionavam em andares alugados. Entre elas contava-se a do Beco das Linheiras, fundada por Abraão Bensaúde que instituiu o Banco de Lisboa & Açores. Durante alguns anos, depois da sua morte, esta sinagoga foi mantida pelos seus familiares, tendo sido fechada no momento em que se fundou a actual sinagoga.
Para construção do templo judaico foi comprado em 1901 um terreno localizado na Rua Alexandre Herculano, e após esse acto foi convidado o arquitecto Miguel Ventura Terra para a execução do projecto, tendo sido construtor Abílio Pereira de Campos. A inauguração do templo foi realizada em 18 de Maio de 1904. Curiosamente, o plano que foi aprovado pelo município de Lisboa, de acordo com a lei presente na época, não permitia a qualquer templo não católico que a entrada principal desse para a rua, daí que o acesso da sinagoga se faça por um portal situado num pátio interior.
O edifício de um único volume, possui planta rectangular, simétrica, segundo a orientação - acesso da sinagoga / cidade de Jerusalém. A cobertura é em telha de Marselha, sendo na área do templo em telha de vidro. A fachada principal, é rasgada por estreitos janelões e mostra um pórtico ogival com duas colunas que permite a entrada aos homens. Os alçados laterais possuem vãos alinhados apresentando as dos dois primeiros pisos, arcos de volta inteira e as do terceiro, oculares. No alçado esquerdo uma porta dá acesso às mulheres.
O interior, organiza-se numa ala central com pé-direito correspondente aos três pisos e por alas laterais definidas por colunas romano-bizantinas em pedra que suportam as galerias. O lugar do(s) celebrante(s), localiza-se ao centro, no lugar onde se observa um estrado (bimá) e uma mesa (almemór), orientados para nascente, para a escada de Elias e o Santuário (ehal) que guarda os rolos da lei (torah). Em cada um dos lados e no topo contrário, virados para o centro, ficam os assentos dos homens enquanto os das mulheres se encontram nas galerias superiores.
1959: reparação da cobertura devido a estragos provocados pela queda da chaminé de um prédio adjacente.
SANTANA, Francisco e SUCENA, Eduardo (dir.), Dicionário da História de Lisboa, Lisboa, Carlos Quintas & Associados - Consultores, Lda., 1994.