"É de Cultura como instrumento para a felicidade, como arma para o civismo, como via para o entendimento dos povos que vos quero falar"

Património Material

Paço Episcopal de Faro

Distrito: Faro
Concelho: Faro

Tipo de Património
Património Material
Identificação Patrimonial
Monumento/Edifício
Época(s) Dominante(s)
Moderno, Contemporâneo
Tipologia original
Arquitectura Doméstica - Paço
Valor patrimonial
Valor Artístico
Estilo(s)
Barroco
Áreas Artísticas
Arquitectura Civil, Azulejaria, Escultura, Mobiliário, Pintura
Proprietário/Instituições responsáveis
Sede da Diocese do Algarve
Descrição

Este edifício foi mandado construir por D. Afonso Castelo Branco, Bispo de Faro entre 1581 e 1585. Encontra-se num socalco e foi aumentado mediante as sucessivas aquisições dos bispos, na Rua Monsenhor Botto e na Rua do Município (antigamente Rua do Jardim e Calçada do Bispo, depois Rua do Aljube), acompanhando os desníveis do terreno.

A fachada principal tem uma grandiosa porta ao centro, com duas pilastras, sendo o lintel ladeado por duas volutas e sobrepujado por uma janela de peito encimada por um lintel de linhas curvas; de cada lado encontram-se seis janelas de sacada com cornija.

O telhado tem uma nítida influência do orientalismo citadino comum no séc. XVIII. No rés do chão encontram-se, igualmente, seis janelas de peito gradeadas, de cada lado; as duas janelas junto à porta correspondem ao pátio. Do lado esquerdo, duas são falsas e as outras correspondem a compartimentos utilitários da casa e do lado direito, correspondem à Câmara Eclesiástica, encontrando-se entre as duas últimas, até ao início deste século, um nicho escavado na parede, onde se armava um dos "passos" da respetiva procissão quaresmal. O anterior era do séc. XVIII e apresentava ornatos a estuque dessa época. O acesso à Câmara Eclesiástica fazia-se por uma porta no lugar da terceira janela. Em cada extremo da longa fachada encontra-se um cunhal de pedra com ressaltes.

A fachada da Rua do Município apresenta, no andar nobre, quatro janelas de sacada iguais às da fachada principal (três das quais iluminam a capela) e a porta da capela, sendo o trabalho de cantaria pouco trabalhado, com flor de lis no centro do lintel. Correspondendo ao 1º piso estão duas janelas de peito que pertencem à Câmara Eclesiástica e uma pequena janela que ilumina uma escada. Era neste local que terminava o primitivo palácio. Daí para baixo, até à esquina da Rua Monsenhor Botto, a antiga Casa do Provisor, formada por dois corpos, um mais alto, com quatro janelas de peito e quatro pequenas janelas, outro mais baixo, onde se encontra uma porta com cornija e a montra da Livraria. No 1º andar, estão outras quatro janelas de peito, todas de lintel arqueado e contemporâneas das do edifício do Seminário. Por esta razão, esta parte do edifício também poderá ser obra de D. Francisco Gomes.

O seu primeiro habitante foi o Chantre Dr. João José de Mattos; mais tarde, o filho de uma sobrinha de D. Francisco aderiu à política contrária do sucessor do Tio, tendo sido ameaçados de despedimento.

No tempo da Marinha, encontravam-se instaladas neste edifício oficinas navais. Atualmente, funciona aqui a Tipografia União, com a sua papelaria e livraria no rés do chão e serviços admnistrativos no 1º andar, encontrando-se, também aí, os Serviços Diocesanos de Educação Cristã, departamentos de Infância e Adolescência e o Secretariado Diocesano de Pastoral.

Na Rua Monsenhor Botto, o Paço compõe-se de rés do chão, 1º e 2º andar. Sobre o arco está uma janela de peito e na parede corrente encontra-se uma pequena janela do rés do chão, sendo de peito as janelas do 1º e 2º andares. Segue-se um torreão com óculo na escada, com a célebre varanda onde o Bispo Avelar gostava de observar o mar; no rés do chão está uma porta e um janelo. Junto estão duas pequenas casas adaptadas à habitação, que os bispos davam de esmola a pessoas pobres. Depois aparece um corpo mais baixo, utilizado como camarata no período da Escola de Alunos Marinheiros, mais tarde casa de máquinas e, atualmente, oficina tipográfica, com sete janelas de peito. Este corpo apresenta, num certo ponto, uma parede interior de 1,80 m de espessura e não tem nenhuma abertura no rés do chão, não se sabendo qual seria a sua função.

A primeira abertura, após uma esquina a meio da rua, é a porta do pequeno pátio que dava acesso às oficinas da tipografia e aos anexos da livraria. Seguidamente, encontra-se uma janela gradeada e uma pequena janela, tendo outras duas janelas no 1º andar.

Entrando no edifício pela porta principal chegamos ao pátio, abobadado, com pavimento em mármore, dividindo-se em três tramos através de duas arcadas assentes em colunas jónicas e ladeado por lambris de azulejos azuis, brancos e amarelos (restaurados). Do lado esquerdo, quando se entra, lê-se, sob as armas de D. Fr. Francisco Rendeiro: "Este paço episcopal foi construído pelo Bispo D. Afonso Castel-Branco (1581-1585) e reedificado por D. Fr. Lourenço de Santa Maria, depois do Terramoto de 1755. A 3 de julho de 1913, foi ocupado pelas forças da República e afetado aos serviços da Marinha. A 8 de fevereiro de 1962 foi reintegrado no património da Diocese e restaurado em 1965.".

Antes de subir a escadaria, pode observar-se, sob um arco abatido, a porta que dá para o quintal ou jardim, ao nível do primitivo chão de todo o terreiro da Sé. A porta do lado direito conduz à Câmara Eclesiástica e atravessando uma sala de espera vislumbra-se um primeiro painel de azulejos que representam a Caridade. Passando um estreito vestíbulo, chega-se à Secretaria, apetrechada com mobiliário próprio. Na primeira sala encontram-se lambris de azulejos do tipo "ponta de diamante". As coberturas de todo o rés do chão são em abóbadas, geralmente cruzadas. Através de corredores que ladeiam gabinetes ou salas de arquivo, atinge-se o quintal, bem cultivado, arborizado e florido. Dois arcos correspondentes à escadaria para o andar nobre são decorados com uma coleção de azulejos modernos, seguindo-se as dependências domésticas. Neste local está a comunicação para o passadiço sobre o arco da Rua Monsenhor Botto, por onde se atingem os antigos jardins e cavalariças do Paço, na parte onde esteve instalada durante alguns anos uma secção da Escola Tomás Cabreira, e outra escada leva ao 1º andar do que foi o Salão Recreativo de D. António Barbosa Leão e, mais tarde, camarata da Escola de Alunos Marinheiros. Esse espaço livre confine com a muralha e para ele abrem as janelas do corredor do passadiço que, do lado da rua, são perfeitamente iguais às do edifício joanino e, do lado interior, apresentam lintel com relevos mas em estuque.

Na junção dos dois edifícios vê-se, no rés do chão, os vestígios de uma porta entaipada, a qual era denominada a "Porta da Inquisição". No sítio onde está a comunicação para o passadiço, encontra-se uma subida que leva ao cimo dum "corredor". Este está já no 1º andar, o 2º para a Rua Monsenhor Botto, sendo bem visível o desnível entre a rua primitiva e o largo. Por aí também se sobe para a varanda preferida do Bispo Avelar, que depois se estende sobre a maior parte das salas da fachada principal.

Ao nível do quintal, anteriormente mencionado, encontram-se quartos e pequenas salas, os quais ficam no 1º andar para a rua lateral, podendo mesmo descer-se a espaços utilitários, como por exemplo a um depósito de lenha. É possivel, ainda, subir-se para o 1º andar, correspondente a 2º nesta rua. Por aí também se chega à cozinha, ladeada de copas e com uma pequena sala de comer, seguindo-se a grande sala de mesa, só construída em 1907, por altura da chegada ao Algarve dos Reis D. Carlos e D. Amélia, os quais ficaram hospedados no Paço. Contígua a esta divisão encontra-se uma sala de estar, seguida dum corredor que conduz às varandas e dá acesso ao andar nobre, no qual se encontram os compartimentos do corpo principal, com fachada para o Largo da Sé. Os aposentos particulares do Bispo correspondem ao quarto, gabinete e salas de receção pessoal. Visitam-se as salas de aparato à medida que se avança por um largo corredor-galeria, no qual é possivel admirarem-se retratos de Papas e Bispos do passado, tendo o núcleo de pintura ainda obras de Marcello Leopardi. A primeira é a "sala de espera", decorada com os azulejos mais interessantes de todo o palácio. Do lado esquerdo encontram-se dois painéis a ladear uma porta que dá acesso à "sala de receber". O painel mais próximo da janela tem, ao centro, um escudete com as chaves papais, encimadas por tiara sustentada por dois anjos, tendo de cada lado uma cruz papal (tríplice) e uma lanterna. Nos extremos, está representada a mitra com o báculo, a tocha acesa e um feixe de cordas atadas com um cíngulo. No medalhão central surge uma salva a emergir de um véu indefinível, tendo pintado no fundo um cálice com hóstia sobreposta e ao lado uma serpente. Em redor vê-se o seguinte: coroa de flores, cruz, duas velas, uma toalha, uma píxide com uma forma bastante curiosa, um livro de canto-chão aberto e um castiçal (pica-velas). Do outro lado da porta está outro painel, com elementos decorativos iguais aos do anterior mas, apresentando no medalhão central uma espécie de bandeira com um livro e uma pomba, um bastão, estolas, livro de canto-chão, outro castiçal pica-velas e cruz com crucifixo. Na parede do lado do corredor o painel alarga-se bastante e, além dos ornatos anteriores, tem hóstias radiantes e dois escudos com as armas de D. Fr. Lourenço. Na parede do lado da escadaria um dos medalhões tem um quadro oval, com fita e cercadura de folhagem, representando o Sol e um elefante. Em redor estão bastões, bolsa de corporais, livro, salva, velas, tocha, pâmpanos e cachos de uva. No outro medalhão pode ver-se uma salva com cadeirinha pintada e, à volta, diversos elementos: cruz, estola, parte de toalha, copa de cálix, copa de píxide cheia de partículas, livro de canto-chão e parte inferior de gomil. Na parede do lado da rua, ao canto da janela de peito, o medalhão apresenta a mesa dos pães da proposição e o candelabro de sete luzes, rodeados pelos usuais símbolos. O medalhão do painel que se encontra entre as duas janelas representa a serpente de bronze, uma maçã, as tábuas da Lei, espigas e cachos de uva e um pequeno livro, tudo sobre uma salva. Estes azulejos encontram-se atribuídos à Fábrica do Rato, de Lisboa, embora não exista documentação e terão sido colocados após o terramoto, nos gloriosos anos desta fábrica.

Segue-se a "sala de receber", mais ampla, na qual se encontra um silhar de azulejos policromos, sem recortes, em branco, azul, amarelo, verde e sanguínea. Os seus ornatos são barrocos, entre os quais se destacam as folhas de acanto e os enrolamentos. A última é a "sala do trono", atualmente usada como capela particular do Prelado, decorada com um silhar do mesmo género do anterior. Daqui chega-se ao coro da capela, abrindo-se para esta três janelas de balaustradas. A capela tem planta retangular e a sua altura parte do nível da rua do Município e atinge a parte superior das janelas que dão para essa rua. Para a capela abrem três outras janelas do interior da casa e para ela descem duas escadas. Está quase em ruínas, conseguindo-se ainda vêr o lambrim de belos azulejos do séc. XVIII, do tipo "tapeçaria", a três cores, com cerca de 2 m de altura e iguais aos que revestem as paredes das naves colaterais da Catedral, assentes em 1965, possivelmente os que dela sobraram. Ainda é possivel ver-se o local onde estava assente o retábulo mandado fazer por D. André Teixeira Palha, falecido em 1786 e mandado colocar pelo Cabido em Sé Vaga, obra executada pelo entalhador da cidade, Miguel Nobre (não se sabe onde se encontra esse retábulo).

Do nível da capela, onde existia a respetiva sacristia, e perto dumas caves, em cujo centro se encontra uma coluna central que sustenta diversas abóbadas, sobe-se para uma zona onde estão várias salas, usadas para arquivos, as quais confinam com a atual tipografia e antiga casa do Provisor.

Subindo mais escadas, atinge-se um outro terraço superior aos telhados, o qual dá para a Rua do Município. Por baixo fica a sala da Biblioteca, cujas paredes se encontram revestidas, quase até ao teto (exceto nos vãos das portas), por estantes fixas, pintadas e douradas ao gosto do início do séc. XVIII. Na parede maior encontra-se o escudo com as armas de D. António Pereira da Silva, que mandou revestir esta bilioteca, considerado o maior mecenas da época barroca. Na prateleira inferior das estantes encontram-se gavetas com dourados e cada estante apresenta seis prateleiras de diferentes alturas. Passa-se, depois, por uma "suite", destinada a hóspedes distintos, descendo-se pela escadaria nobre; esta é de três lanços, todos revestidos com lambris de azulejos, nos quais abundam insígnias episcopais (báculo, cruz arquiepiscopal, mitra, chapéu de borlas). Em frente do primeiro lanço encontra-se um grande painel policromo, o qual vem reproduzido em gravura no Boletim dos Centenários de 1940 e foi mandado imprimir pela Junta de Província. Neste painel encontra-se representada a Fé, a Prudência e a Esperança. Por cima, em recorte, figuram a Justiça e a Fortaleza e, ao centro, está o escudo de armas de D. Fr. Lourenço de Santa Maria, envolvido pelo pálio, encimado pelo chapéu de seis borlas e cruz arquiepiscopal. Ladeando a composição estão dois anjos, os quais seguram a mitra e o báculo, numa composição de grande perfeição e aparato.

A secção joanina do Paço apresenta doze janelas de peito, com cantaria recortada, tendo uma porta monumental ao centro, com lintel ornado com frontão. Ainda não se conseguiu saber qual era a finalidade desta dependência; as suas janelas correspondem a uma sucessão ininterrupta de salas que dão para um corredor, só interrompido pela escadaria de três lanços.

Na parte interior, do lado do Seminário, encontra-se a sacristia e, do outro lado, uma ampla sala que foi do trono, na altura em que D. Francisco Rendeiro ali habitou e depois passou a camarata do Seminário. O rés do chão é marcado por sete janelas simples de peito gradeadas e, na extremidade, pela porta cocheira, hoje garagem, tendo do lado esquerdo uma série de salas que serviram de câmara Eclesiástica antes da entrega do Paço (anteriormente eram uma só sala, que serviu de caserna ao "33") e, por detrás, foram-lhe construídas casas de toilette que serviam as camaratas para o que o Senhor D. Júlio Rebimbas aproveitou dependências quase em bruto que ali existiam. Do outro lado, por detrás da garagem, foi edificada uma vasta sala de mesa e a respetiva cozinha.

Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.        

Morada
Largo da Sé
8000-138
FARO
Telefone
289 894 040
Fax
289 805 400
Bibliografia
LAMEIRA, I. C. Francisco, Faro : Edificações Notáveis, Faro, Câmara Municipal de Faro, 1995.

ROSA, José António Pinheiro e, Monumentos e Edifícios Notáveis do Concelho de Faro, Faro, Câmara Municipal de Faro, 1984.

Data de atualização
22/08/2012
Agenda
Ver mais eventos

Passatempos

Passatempo

Ganhe convites para a antestreia do filme "Memória"

Em parceria com a Films4You, oferecemos convites duplos para a antestreia do drama emocional protagonizado por Jessica Chastain, "MEMÓRIA", sobre uma assistente social cuja vida muda completamente após um reencontro inesperado com um antigo colega do secundário, revelando segredos do passado e novos caminhos para o futuro.

Visitas
93,723,317