Património Material
Palácio dos Marqueses de Pombal
A classificação abrange o jardim, casa de pesca e cascata. Trata-se de um edifício setecentista, por alguns considerada uma obra tardia da atividade do arquiteto húngaro Carlos Mardel (chegou a Portugal em 1733 e aqui faleceu em 1763) devido à importância dos elementos pombalinos que o caracterizam, designadamente o exterior, com as suas trapeiras.
Contudo existem opiniões que apontam a sua construção durante o segundo quartel de setecentos, em pleno reinado de D. João V, talvez a seguir a 1737, quando o futuro Conde de Oeiras, Sebastião José de Carvalho e Melo (depois 1º Marquês de Pombal, ministro de D. José) e os irmãos herdaram propriedades em Oeiras. Carlos Mardel teve um papel de relevo no período joanino, embora tenha sido após o terramoto de 1755, na reconstrução de Lisboa, que a sua ação mais se fez sentir. Carlos Mardel, depois da sua morte, passará a ser substituído pelo Major Engenheiro José Monteiro de Carvalho na direção das obras do palácio do já então Conde de Oeiras, não só nos interiores como também nos jardins e nas cascatas, que deverão ainda ser da traça de Mardel. Sob a inspiração porventura do Marquês, encontravam-se nesta propriedade conjugados o conforto de uma aristocrática casa de campo e os proveitos de uma quinta de rendimento.
A propriedade integra o palácio e três quintas, chamadas de Cima, de Baixo e do Barril. Nela foi realizada, em 1775, a primeira exposição agrícola e comercial efetuada em Portugal.
No palácio instalou-se durante algum tempo, em 1775 e 1776, a Família Real, para que D. José pudesse sem grande cansaço ir aos banhos das termas do Estoril. Refletem-se no palácio algumas das características resultantes da formação germânica do seu arquiteto, como é o caso das linhas ondulantes nos telhados de duas águas, onde as mansardas, tipicamente alemãs, adquirem aqui um certa feição oriental (sugerem os pagodes chineses), com o uso frequente dos revirados remates de ângulo nos beirais.
O palácio é constituído por dois núcleos: o principal, de planta retangular e antecedido por um pátio, e outro, lateral, de planta trapezoidal, com um pátio de reduzidas dimensões ao centro, existindo uma grande capela privativa (concluída em 1762), entre os núcleos, numa ligação pouco clara. Um terceiro corpo, secundário e assimétrico, de um só andar, com terraço, rodeia o pátio de entrada, cujo acesso é efetuado por um belo portal, ladeado por dois pilares rematados por pináculos; apresenta ao centro a pedra de armas dos Carvalhos, sobrepujada por uma mitra e por um chapéu cardinalício. A capela, dedicada a Nossa Senhora das Mercês, possui as paredes e os tetos com rendilhado de estuques, provavelmente da autoria do estucador milanês João Grossi, e os três altares têm pinturas setecentistas, atribuídas a André Gonçalves; o templo guarda os corpos mumificados de Santa Leonor, São Briciano e Santa Vitória, que o Papa enviou de presente ao Marquês.
No interior da casa nobre, são de salientar os numerosos salões com tetos de masseira ou decoração em estuque, como os exemplos da Sala do Dossel, pintado com figuras alegóricas e bustos, ou da Sala da Concórdia, com pintura, atribuída a Joana do Salitre, representando o bom relacionamento existente entre o Marquês de Pombal e os seus dois irmãos mais novos: o bispo D. Paulo António e o ministro Francisco Xavier; diga-se a propósito e, segundo relata Vilhena Barbosa, no Arquivo Pitoresco, que os dois irmãos "aplicaram os rendimentos dos seus bens patrimoniais e os que recebiam dos cargos que exerciam para beneficiarem e aumentarem as propriedades que pertenciam ao morgado, Sebastião de Carvalho". Também interessantes são os azulejos existentes em rodapés, mostrando cenas de caça e batalhas. A Sala de Jantar (atualmente a funcionar como biblioteca), possui lavatórios com sereias de mármore e duas estátuas de Machado de Castro, datadas de 1774, figurando Alfeu e Aretusa. Igualmente se podem admirar azulejos no exterior do imóvel, designadamente na fachada dos torreões e nos terraços, sobressaindo o trecho de azulejos policromos de desenho rococó, na fachada sul, conhecido por "A Varanda".
Na Quinta de Baixo, situa-se a Adega-Celeiro, com doze bustos de imperadores romanos, trabalhados em mármore de Carrara e assentes nos pilares da arcaria cega; em frente estendia-se o jardim de buxos, araucárias, olmos, faias, bancos de pedra, envolvendo o conjunto escultórico da Fonte das Quatro Estações.
O palácio integra-se numa propriedade atravessada pela ribeira da Lage e aproveitada como canal de recreio, para passeios de barco, sendo aí transposta por diversas pontes que dão continuidade a longas avenidas de buxo, corresponde à magnífica Quinta de Cima, que inclui escadarias de pedra, terraços, araucárias, platibandas floridas, estátuas de figuras mitológicas da propriedade.
São de realçar, ainda, as diversas cascatas dos jardins, como a Cascata dos Poetas, assim conhecida por inscrever em galeria arcada, bustos de mármore representando - Camões, Homero, Virgílio e Tasso; e o belo conjunto de elementos arquitetónicos, escultóricos e azulejares, constituídos pela Cascata Grande ou da Taveira, o tanque da pesca e o pavilhão.
Após um período de abandono, verificado na segunda metade de oitocentos, em que o edifício e a quinta atingiram nalguns pontos o estado de ruína, acabaram por ser, já no nosso século, adquiridos o palácio e os jardins pela Fundação Calouste Gulbenkian, e a Quinta de Cima (com os excelentes jardins da Casa da Pesca) pelo Estado, que aproveitou para ali instalar a Estação Agronómica Nacional. Foi alvo de obras de recuperação, e ali estiveram transitoriamente depositadas as coleções de Calouste Gulbenkian, até à construção das atuais instalações (sede), em Lisboa.
A Fundação Calouste Gulbenkian realizou obras de restauro, que consolidaram a estrutura e recuperaram os estuques das diversas salas e da capela; nos jardins foram introduzidos, por esta entidade, alguns elementos como um jardim aquático, com grosseiros repuxos (segundo José Meco, de duvidoso enquadramento), defronte da Adega e a envolver a Fonte das Quatro Estações. Ainda foi alvo de obras, todo o telhado, tendo sido destruída a primitiva estrutura de madeira, considerada, no seu género, uma das mais importantes que existiam no país, o que motivou críticas daquele especialista, quando se efectou a substituição da cobertura por uma pesada placa de betão, bem como, quando da troca da antiga telha de canudo, tipicamente portuguesa e adaptada ao ondulado dos telhados, pela telha de tipo "nacional". As antigas cocheiras do palácio foram reconstruídas, conservando a traça pombalina, sendo instalado aí os novos Paços do Concelho.
Visitas organizadas pelo Setor de Turismo da Câmara Municipal de Oeiras.
Local de partida: Posto de Turismo de Oeiras
Parque de Santo Amaro Oeiras (Edifício Pérgola, r/c, junto à marginal).
Horário: 10h00
Informações: (01) 4411500 ext. 409/410/411.
ALMEIDA, José António Ferreira de (orientação e coordenação), Tesouros Artísticos de Portugal, Lisboa, Selecções do Reader's Digest, 1982.
AZEVEDO, Carlos de, FERRÃO, Julieta e GUSMÃO, Adriano de, Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa, vol. II, Lisboa, Junta Distrital de Lisboa, 1963.
CARVALHO, Ayres de, O Marquês de Pombal e o seu Palácio em Oeiras, Textos de Apoio - 1062, Centro Nacional de Cultura, 1982.
COLAÇO, Branca de Gonta e ARCHER, Maria, Memórias da Linha de Cascais, Lisboa, Parceria António Maria Pereira, 1943.
Folheto dos Serviços de Cultura da Câmara Municipal de Oeiras, Agosto de 1991.
GIL, Júlio e CALVET, Nuno, Os mais belos Palácios de Portugal, Lisboa, Verbo, 1992.
LOPES, Flávio (coord.), Património Classificado - Arquitectónico e Arqueológico - inventário, vol. II, Lisboa, IPPAR, 1993.
MECO, José, Alguns apontamentos sobre o Palácio Pombal em Oeiras (excertos), Textos de Apoio -1062, Centro Nacional de Cultura, 1982.
OLIVEIRA, Manuel Alves de, Guia Turístico de Portugal de A a Z, [Lisboa], Círculo de Leitores, 1990.
RIBEIRO, Aquilino, Oeiras, Câmara Municipal de Oeiras, 1980.