Património Material
Palácio da Inquisição (edifício em que se encontram pinturas murais)
Trata-se de uma construção em estilo manuelino, igualmente conhecida por "Casas Pintadas", ou "Casas de Vasco da Gama", por ter sido residência deste célebre navegador. A primeira designação surgiu devido a umas composições murais que se encontravam nas fachadas.
O edifício foi, posteriormente, profundamente remodelado, com modificações planeadas em 1636 pelo arquitecto Mateus do Couto, ao ser integrado no Palácio do Santo Ofício ou Tribunal da Inquisição, por venda dos condes de Vidigueira, descendentes de Vasco da Gama.
Do edifício primitivo subsistem: algumas janelas quinhentistas; um balcão geminado, de inspiração mudéjar, com arcos de ferradura e ladrilho vermelho; abóbadas de nervuras; o pórtico quinhentista, decorado com volutas de enrolamento; o lanço ocidental do claustro do séc. XVI, com arcadas de volta inteira de pilares chanfrados e oratório privativo, com pinturas murais a fresco do início do séc. XVI, bastante curiosas e com temática zoofitomórfica, renascentista.
Do saque do imóvel escaparam da fúria popular a Sala Grande do Despacho ou dos Julgamentos, com tecto de caixotões de castanho, esculpido com o emblema do Santo Ofício, e lambrim de azulejos naturalistas, a azul e branco, e a sala dos Meirinhos, com tecto de madeira iluminado por ornatos barrocos, naturalistas, assim como o baú de ferro do fisco, que guardava os valores da pilhagem, o pendão de damasco bordado e alguns paramentos sacerdotais das cerimónias dos autos-de-fé, estes últimos hoje depositados no Museu da Cidade, tendo-se realizado, sucessivamente, no adro da Sé, na Praça Grande e no Rossio de S. Brás.
Escapou, igualmente, o crucifixo de madeira, que era dado a beijar, in extremis, aos padecentes, na capela do Senhor Jesus dos Queimados, encontrando-se actualmente na igreja do Espírito Santo.
A Inquisição foi introduzida em Portugal por D. João III, em 1536. Sete anos depois foi realizado o primeiro auto-de-fé, onde padeceram quatro cristãos-novos, os quais iniciaram a cruel actividade do Tribunal da Fé, onde foram sentenciadas milhares de pessoas acusadas de exercerem, em clandestinidade, o judaísmo, a bruxaria e ateísmo, até à sua extinção decretada pelo Governo Liberal, em 1821.
A sede de Évora, incluída na trilogia dos tribunais de Lisboa e Coimbra, foi considerada a mais terrivel do Reino e teve alguns inquisidores-mores que se tornaram odiosos na história, como D. João de Melo e o espanhol Alvarez de Paredes, ao qual se atribui a invenção das crúeis covas subterrâneas, onde morreram muitos condenados emparedados.
Algumas destas covas foram descobertas em 1963, por altura da adaptação do edifício do Instituto de Estudos Superiores, com diversos esqueletos nas mais dramáticas posições. Nesse período foram destruídos os derradeiros vestígios pictóricos e emblemáticos das súplicas parietais que existiam nas celas térreas.
Idem, Évora - Encontro com a Cidade, Câmara Municipal de Évora, Évora, 1988.
LOPES, Flávio (coord.), Património Classificado - Arquitectónico e Arqueológico - inventário, vol. I, IPPAR, Lisboa, 1993.
TAVARES, M. e MIRANDA, C., Guia Turístico, Cultural e Artístico de Portugal, Lisboa, 1989.