Património Material
Palácio Fialho
Existia uma Quinta do Alto, desde o início do séc. XVII, a qual pertenceu aos Jesuítas do Colégio de Faro. No início do séc. XX, ainda era possivel observar indícios dessa posse, podendo ser um desses vestígios um reduzido pavilhão, de três janelas, localizado no muro contíguo à azinhaga que desce do Alto de Santo António, com uma cobertura de fantasia e um agradável recanto vizinho com azulejos representando pássaros, do séc. XVIII. A arruinada casa que Júdice Fialho, um dos mais notáveis industriais da região, mandou demolir para construir o palácio, seria do século anterior. Nesta quinta existia uma grande pedreira, da chamada pedra da Atalaia, sobre a qual foram abertos os alicerces desse palácio.
A Quinta do Alto pertenceu, no tempo do bispo D. Joaquim de Santana Carvalho, à Diocese, pois esse Prelado, por motivos políticos, aí esteve retirado.
No final do séc. XIX pertenceu ao futuro Ministro da Marinha, José Bento Ferreira de Almeida, que a vendeu a Paulo Cúmano, cunhado do futuro possuidor. Seguidamente pertenceu a Vicente Batista Pires, tio materno de Honorato Santos. Pensa-se que foi a este último que Júdice Fialho a comprou para fazer o palácio.
Neste local, do qual se desfruta um esplêndido panorama, começou, em 1915, a construção do edifício mais sumptuoso de Faro. Durante as obras criaram-se verdadeiras escolas de canteiros, marceneiros e outras profissões. Esses canteiros, após a conclusão da obra, espalharam-se pelo resto do país e por Marrocos. O orientador da obra foi o conhecido arquiteto Norte Júnior (Manuel Joaquim Norte Júnior), notável pelo recurso aos modelos do ecletismo e da Arte Nova presentes nos vários edifícios construídos na capital e em todo o país.
Júdice Fialho, o grande industrial que lhe encomendou a obra deste palácio, era admirador da arte francesa do séc. XVIII e quis que esta fosse a inspiradora da sua residência. Assim, o arquiteto ter-se-á orientado por um palácio da região do Loire, em França.
A sua edificação levou dez anos e suscitou muita curiosidade por parte da população de Faro, tendo terminado em 1925, após o que foi solenemente inaugurada. Júdice Fialho e sua esposa mudaram-se para a nova residência a 2 de maio desse ano.
Dum largo terreiro ajardinado e rodeado de bem lançadas balaustradas, ergue-se este nobre edifício. As suas quatro faces são ornadas por janelos, janelas e trapeiras, sublinhando os diferentes pisos. O seu tratamento foi o de um verdadeiro palácio, desde a cave, onde a ampla cozinha é pavimentada de mármore, até aos sótãos, que são pavimentados por boas madeiras e cobertos por telhados de ardósia. Na fachada principal, a porta nobre, para a qual se sobe por uma escadaria de catorze degraus, encontra-se flanqueada por dois pares de colunas em mármore, de ordem jónica, sendo sobrepujada por uma janela de composição semelhante, apresentando sobre um lintel um oval destinado a brasão, rodeado de relevos do estilo, terminando toda a composição em frontão clássico ladeado de ligeiras balaustradas ornadas pelos usuais acrotérios. De cada lado estão duas janelas de lintel em arco e outras três de lintel fantasiado comum a todas as outras, cujo desenho se repete nas do primeiro andar.
Em cada uma das fachadas laterais abrem-se, no rés do chão, nove portas, cinco das quais têm o lintel mais trabalhado. No primeiro andar encontram-se nove janelas, estando as cinco centrais dentro de um balcão com balaústres. Nas vertentes do telhado, a toda a volta, veem-se as pequenas janelas dos sótãos, assim como, logo acima do solo, os janelos da cave, agrupados simetricamente dois a dois e três a três.
Entra-se neste palácio por um amplo vestíbulo, com um monumental fogão de mármore e uma pintura oval no teto, a qual representa o "Rapto das Sabinas". Para este vestíbulo dão quatro belas portas almofadadas, sobre cada uma das quais se vê uma pintura, as quais comunicam com as salas do rés do chão; do lado esquerdo, só uma, com pintura oval no teto, paredes apaineladas preparadas para receber quadros, dois dos quais aí permanecem: "Morte de S. João Batista" e "Visitação de Nossa Senhora". As portas exteriores dão para uma varanda com balaustrada. Do outro lado, encontra-se outra sala de paredes apaineladas, onde está uma "Sagrada Família com S. João" e, no teto, uma pintura oval inclusa, representando Anjos e Meninos, tendo a sala um belo lambrim de madeira (presente em todas as grandes salas) e outro belo fogão de mármore. Era a sala de jantar e, atualmente, funciona como refeitório. Em redor encontram-se as copas existindo, numa delas, o terminal do monta-cargas, o primeiro que apareceu no Algarve, para transportar a comida da cozinha situada na cave.
Do vestíbulo, decorado por seis colunas jónicas monolíticas, quatro geminadas e as restantes individuais, parte uma imponente escadaria em mármore com um lanço central e dois laterais, que conduzem ao andar nobre, obra admirada por arquitetos nacionais e estrangeiros. As suas paredes têm enquadramentos para as preciosas tapeçarias que aí se encontravam no tempo dos primeiros senhores. A escadaria é iluminada por uma esplêndida claraboia. Este sumptuoso espaço do palácio foi inspirado na entrada da Câmara Municipal de Lisboa. O salão central, originalmente sala de música, encontra-se aplicado a capela do Colégio, não existindo em todo o palácio um compartimento com sinais de ter servido de capela doméstica. Neste piso, para o qual se pode subir pelo elevador (o primeiro que houve no Algarve, já reparado pelos atuais ocupantes), existem diversos grupos de salas, que se pensa terem sido apartamentos (quarto, vestiário e casa de banho), agora aproveitados para dormitórios das alunas do Colégio. Outros compartimentos mais pequenos terão sido mais quartos ou salas com variadas utilizações. Das janelas de todas estas divisões pode vislumbrar-se um belo panorama de ria, campo e montanha.
Todo este amplo edifício é cortado, interiormente, por largos corredores, os quais dividem as salas. As divisões que não são de aparato, também se encontram estucadas com delicadeza, com estuques duma finura requintada. Até nas quadras aproveitadas dos sótãos e das caves a preocupação de beleza esteve sempre presente. Nos pavimentos das grandes salas foi aplicada a melhor madeira do Brasil. A madeira do telhado é em "Pitch pim", da melhor qualidade, e veio toda expressamente da América do Norte.
Para fornecer eletricidade para a iluminação da casa e aos dois elevadores foram montados dois geradores gigantes. Este palácio também teve a primeira "máquina de fazer gelo" do Algarve, tendo Júdice Fialho fornecido gelo ao Hospital de Faro, enquanto não foi encontrada outra solução. O enorme fogão a lenha da cozinha (substituído por outro a gás ou eletricidade) foi considerado, na altura, o de maiores proporções a sul de Lisboa.
Fora do recinto palaciano e dele separados por balaústradas, encontram-se os terrenos agrícolas da quinta, com dois enormes tanques, atualmente modificados em piscinas, assim como parques de desporto. Em frente da fachada posterior existia um lago, hoje transformado em parque infantil.
Os verdejantes jardins, com árvores de espécies raras, que rodeiam a imponente construção, dão-lhe um grande encanto, tornando-a a estância mais aprazível de Faro.
Em 1954 é adquirido pela Diocese do Algarve, nele funcionando, desde essa época, o Colégio de Nossa Senhora do Alto (mais conhecido por Colégio do Alto).
ROSA, José António Pinheiro e, Monumentos e Edifícios Notáveis do Concelho de Faro, Faro, Câmara Municipal de Faro, 1984.