Património Material
Fortaleza e Muralhas de Faro
As muralhas ainda conservam as suas linhas gerais e representam o mesmo círculo que fechava a cidadela desde o tempo dos árabes. Os panos de muralha que circundam o núcleo urbano mais antigo, conhecido por Vila-Adentro, remontam ao séc. IX e a sua edificação deveu-se a Ben Bekr, princípe muçulmano de um pequeno reino independente do Emirato de Córdova.
No séc. XII, com a invasão Almóada, foram construídas duas torres defronte de uma das entradas hoje denominada Arco do Repouso.
O conjunto forma um oval perfeito, sómente chanfrado na direção do "castelo", atingindo o máximo comprimento (377 m) na linha "Arco-da-Vila" - "Mesa dos Mouros" e a maior largura (225 m) na linha Porta Nova - Arco do Repouso.
Arco do Repouso
A fortificação apresenta quatro elementos diferentes: romanos, visigóticos, árabes e posteriores. Incluído nas muralhas encontra-se o "Arco-da-Vila", de aspeto rústico, mandado edificar pelo Bispo D. Francisco Gomes, no final do séc. XVIII, início do séc. XIX, pelo arquiteto Fabri, numa das entradas da "Vila-Adentro". No interior desse arco encontram-se as pedras de uma porta árabe, o que indicia ter sido por esse lado a entrada da cidade antes da conquista cristã, sendo fechada a face frontal por onde atualmente se entra. A muralha seguia na outra face do arco, em direção ao mar, pelo local onde hoje está o primeiro patamar da escadaria do Governo Civil.
Onde começam os edifícios das Finanças fletia ligeiramente para o interior e, aí se encontravam, ainda no séc. XIX, dois torreões, conservando-se as suas fundações. Encontra-se incluída nas paredes desses edifícios até à Tesouraria de Finanças (inclusivé), recomeçando a ver-se quando surgem quintais do Paço Episcopal e do Seminário. Nesse local encontra-se outro torreão (oprimido pelos remadores da Alfândega) e a muralha prossegue ladeando o edifício do Seminário até à Porta Nova, só aberta em 1630. Dessa fase em diante, a muralha integra pequenas casas modernas construídas sobre o adarve, interrompendo-o. No sítio onde existem três seteiras, o mesmo adarve foi rebaixado, existindo a seguir um pano, no qual as ameias e seteiras continuam com o aspeto antigo e o adarve volta a ter a mesma altura, num comprimento correspondente à denominada "Fábrica do Estanho". Seguem-se mais ameias, edificadas recentemente, com critério duvidoso.
A porta, inferior a uma casa, que sobrepuja a muralha, abre para uma rampa ascendente e penetra até ao interior do castelo. Poderia situar-se aí o corredor por onde era lançada a fusta na qual eram enviadas mensagens a Marrocos. Vinte metros adiante, a muralha inflete para o castelo encobrindo, ao encostar-se-lhe, parte de um dos torreões flanqueantes da porta que aí existe. Trata-se da única face do antigo alcácer dos mouros, mas totalmente modificado, pois possui as características da arquitetura militar portuguesa medieval. Além destes dois torreões existe, mais à frente, um terceiro, de forma hexagonal, do qual parte o adarve que ligava esta parte do castelo à do outro lado do corte da muralha. Neste ângulo SE do Castelo, e envolvendo-o a ponto de ficar nele incluída a sua maior torre e um bocado de muralha, foi edificado um revelim à Vauban, com merlões e canhoneiras, a marcar os progressos da artilharia.
Em 1923, houve um atentado contra a secular cerca de Faro, tendo sido feita uma abertura de 8,15 m. Mais tarde, construiu-se um torreão e, para o lado da horta, outro torreão. Era neste local que terminava, exteriormente, o Castelo.
A muralha continua para Norte, em direção ao Arco do Repouso, conservando esta porta alguns elementos da sua feição original, ou seja, quatro torreões. No entanto, o atual arco de entrada seria fechado, sendo abertos os outros: aquele onde está a ermida da Senhora do Repouso (1722), o fronteiro onde se encontra uma casa e o interior, que dava seguimento ao trânsito. Na traseira da capela é possivel observar-se a nítida influência árabe do arco.
Alguns metros adiante do Arco do Repouso existia um torreão heptagonal mas, devido a encontrar-se em mau estado, foi aí construído um mirante. A muralha continua e, a 12,70 m da escada desse mirante, inflete para poente. Na esquina da Rua do Albergue existia outro torreão, atualmente transformado num prédio. No entanto, a muralha continua nas traseiras das casas térreas ali construídas.
No quintal da Vidralve existe um outro torreão intacto. A muralha vai continuando até ao Arco da Vila e, no último troço, só do lado interior (resto da Rua Rasquinho), se consegue vêr.
Em 1596, com o saque e incêndio da cidade de Faro por parte das tropas do Conde de Essex, as muralhas foram bastante afetadas, tendo as obras recomeçado passado pouco tempo e se prolongado durante largo tempo.
O fosso que rodeava as muralhas, encontrava-se em 1633 entulhado, tendo então sido necessário as obras de desobstrução, a fim de que as águas do mar invadissem a respetiva cava.
Após a Restauração de 1640, face à ameaça espanhola, foram destruídas algumas meias de torres, com o propósito de as nivelar em altura com os muros das cortinas e receberem peças de artilharia.
LAMEIRA, I. C. Francisco, Faro: Edificações Notáveis, Faro, Câmara Municipal de Faro, 1995.
ROSA, José António Pinheiro e, Monumentos e Edifícios Notáveis do Concelho de Faro, Faro, Câmara Municipal de Faro, 1984.