Património Material
Igreja de Nossa Senhora da Conceição (Sé de Santarém)
Em 1647, D. João IV doa as ruínas dos antigos paços reais aos Jesuítas, para que estes aí instalem o seu Colégio. Como contrapartida, competia à ordem remodelar os paços reais, permitindo que a corte aí se continuasse a instalar nas suas deslocações a Santarém. Em 1711 estão terminadas as obras, e construída a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, hoje em dia conhecida como Igreja do Seminário.
Com a expulsão da Companhia de Jesus levada a cabo pelo Marquês de Pombal, o Colégio é entregue ao Patriarcado sendo instalado o Real Colégio de Nossa Senhora da Conceição, ou Seminário Patriarcal de Santarém. Funcionou aí durante anos a Academia dos Laureados, e mais tarde a Academia Scalabitana, onde se juntavam escritores, poetas e artistas em geral. De 1853 a 1942 serviu como Liceu Nacional de Santarém. Atualmente, já perdida a função de seminário, foi elevada a Sé Catedral e Paço Episcopal da Diocese de Santarém.
A fachada da Igreja é maneirista, do chamado "estilo-chão", de linhas sóbrias, mas elaboradas. A frontaria está segmentada verticalmente em cinco corpos, divididos por pilastras. Longitudinalmente, os quatro andares são cingidos por calabres de pedra de estilo manuelino.
O corpo inferior é rasgado por três portais e sobre o portal central está um baixo-relevo com o símbolo da Companhia. Os dois pisos intermédios da fachada têm janelões nos corpos interiores, e nichos nos exteriores. Nos quatro nichos da fachada encontram-se as imagens de Santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus, S. Francisco Xavier, S. Francisco de Borja e S. Luiz Gonzaga.
No último andar, encontra-se um nicho envidraçado com a escultura de Nossa Senhora da Conceição, uma imagem em cerâmica de cerca de 2 metros. A coroar o edifício pode ver-se uma cruz de ferro que terá sido aqui colocada em 1787, em substituição da original, em pedra, que caíra com o terremoto de 1755.
A nave é coberta por um teto pintado a óleo, que procura o impacto cenográfico, tão característico do barroco; a pintura é alusiva a Imaculada Conceição. A capela-mor, onde está sepultado o fundador da igreja, D. Duarte da Costa, é abobadada e ladeada por quatro colunas salomónicas. O retábulo desta capela é sem dúvida uma das peças a destacar da igreja do Seminário, com um rico embutido em pedra jaspe de Sintra, formando um desenho policromo de motivos barrocos, que representa a coroação de Nossa Senhora da Glória.
A igreja está dividida em duas bandas (da Epístola e do Evangelho), com quatro capelas por banda, patrocinadas por famílias ilustres da cidade. Cada capela, tem um estilo individual, formando as oito, no seu conjunto, um rico conjunto de retábulos em talha e mármore, embutidos, baixos-relevos e esculturas sacras de excelente qualidade. De entre as capelas, destaca-se a de Nossa Senhora da Boa Morte, com retábulo de talha dourada figurando o Apocalipse. São igualmente de destacar os claustros, assim como a azulejaria do século XVIII, que surge nas escadarias e corredores do Seminário.
O edifício central é ladeado por dois corpos simétricos. Na época áurea do funcionamento do seminário, na ala Norte conviviam os novos paços régios, com a vivência da própria comunidade religiosa, se bem que em espaços muito bem delimitados. Na ala Sul localizavam-se as salas de aula, em dois andares desenhados em volta de um claustro central, o Pátio das Aulas.
A igreja de Nossa Senhora da Conceição do Seminário, é assim um edifício em que se conjugam duas leituras do estilo barroco. No exterior, a disciplina e equilíbrio do "estilo-chão", numa fachada simplista que não perde, no entanto, a beleza. No interior do edifício, a sumptuosidade do barroco de transição para o século XVIII, com a utilização dos mármores, da talha, de majestosas colunas e das pinturas "tromp d'oeil" de efeito grandioso. É sem dúvida o monumento central da cidade, não só pela sua localização geográfica, mas também pela importância histórica e inegável valor artístico do edifício, e das obras que encerra.
1972/78 - DGMN efectua trabalhos de conservação, restruturação interna e nova cobertura.
1981/82 - é feita a remodelação do edifício e pintura da fachada.
1995 - IPAAR restaura pinturas dos tectos, e leva e efeito a limpeza da capela-mor e laterais.
Encerra às terças-feiras
LOPES, Flávio (coord.), Património Classificado - Arquitectónico e Arqueológico - inventário, vol. III, Lisboa, IPPAR, 1993.
SERRÃO, Vitor, Santarém, Lisboa, Editorial Presença, Cidades e Vilas de Portugal, 1990.