Património Material
Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo
Esta igreja é uma das mais importantes manifestações estéticas e religiosas do património artístico do Algarve, e reflete a forte implantação da mentalidade barroca vigente na região.
Surgiu a necessidade de edificar uma igreja para os irmãos da Ordem Terceira, tendo sido analisado o local da sua construção. A esta ordem pertenceram os mais altos representantes da nobreza e do clero algarvios, os quais sempre financiaram as suas obras beneficiação e remodelações. Escolheu-se o limite norte da cidade, junto à Igreja Matriz de S. Pedro; o Bispo fundador, D. António Pereira da Silva (1704-1715), comprou o terreno e aí se delimitou o local da edificação.
O templo teve um grande impacto urbanístico, não só devido à imponência do edifício, nomeadamente das torres, mas pela importância exercida no quotidiano. Além das várias funções religiosas aí realizadas, ainda hoje é efetuada, anualmente, nas suas redondezas, uma feira em julho.
Em 1713, o ex-secretário de Estado de D. Pedro II e Bispo do Algarve, lançou a primeira pedra e, seis anos depois, o seu sucessor, o Cardeal D. José Pereira de Lacerda, benzia solenemente, como protetor da Ordem, a nova igreja. No entanto, o templo só ficou concluído em 1877, quando a Ordem já tinha sido expulsa do país há mais de 30 anos.
Na construção e decoração desta igreja foram utilizados diversos tipos de materiais, entre os quais se destacam a pedra de S. João da Venda, dos Gorjões e de Santa Bárbara de Nexe, assim como a madeira de castanho e de bordo da Serra de Monchique. O Padre Frei Manuel da Conceição, arquiteto carmelita, deslocou-se de Lisboa e foi o responsável pelo risco da igreja.
A fachada é já uma obra de 1747, da autoria do mestre pedreiro de Faro, Diogo Tavares e Ataíde, em estilo joanino, com uma balaustrada entre duas torres sineiras rematadas por fogaréus. A fachada está dividida em três registos: nos dois superiores encontram-se oito janelas emolduradas por sanefas, com três óculos ovais no tramo intermédio. A porta principal é ladeada por duas colunas coríntias encimadas por fogaréus e dois nichos, um de cada lado, abrigam as imagens de Santo Elias e Santa Teresa. Os três janelões do último piso foram executados em 1775, por António Moreira e a torre do lado poente, cuja primeira campanha foi realizada entre 1801 e 1807, imitando a outra torre, concluiu-se em 1878, por F. Lopes do Rosário.
O interior é de nave única, com quatro capelas laterais. A capela que se encontra sob o órgão é dedicada a Santo Alberto e data de 1786, sendo a do lado oposto dedicada a S. José (1716). Estas e as restantes duas capelas têm um deslumbrante trabalho em talha dourada, numa bela conceção cenográfica, de autoria dos irmãos Gaspar e Manuel Martins, até 1741, depois retomado pelo mestre Miguel Nobre, até 1779.
A talha desempenha um papel fundamental na ornamentação desta igreja, com exuberantes altares barrocos, salientando-se o retábulo da capela-mor, em talha dourada, de estilo barroco, a primeira e mais significativa manifestação do período joanino no Algarve. A capela-mor apresenta uma cobertura em abóbada de berço pintada em "trompe-l' oeil" (1794), a abrir o céu sobre um baixo-relevo onde S. Simão recebe a mitra, e no fecho do arco estão as armas do Carmelo, sustentadas por anjos trombeteiros. O retábulo possui, na parte inferior, as imagens de Santo Elias e de Santo Eliseu e, na parte superior, de S. Telésforo e de S. Dionísio.
O Mestre entalhador e escultor Manuel Martins, artista que dominou o panorama artístico do Algarve na 1ª metade do séc. XVIII, foi o autor dos riscos desta obra (um para o retábulo, outro para o trono e um terceiro para o sacrário), assim como do trabalho de talha entre 1735 e 1739. O sacrário é muito valioso e encontra-se rodeado por quatro belas imagens. Manuel Martins foi, igualmente, responsável pelo risco e pela talha do retábulo de Santa Teresa, contratado em 1741. Imitando esta obra, foi encomendado, em 1751, a Tomé da Costa, Francisco Xavier Guedelha e João Batista, os continuadores da sua oficina, o retábulo de S. Vicente Ferrer, atualmente S. José, à imitação do retábulo defronte, de Santa Teresa. O seu arco representa a primeira manifestação da talha Rococó no Algarve.
O retábulo de Santo Alberto foi concluído em 1757, por Manuel Francisco Xavier e João da Cruz, após ter sido iniciado cerca de 1744.
O retábulo da invocação de S. Simão Stock foi terminado em 1755 por Manuel Francisco Xavier.
Da imaginária retabular salientam-se as imagens de S. João Batista e de S. José, que preenchem as ilhargas do sacrário, produzidas por Manuel Martins e as imagens de Santo António de Lisboa e de Santa Maria Madalena de Pazzi realizadas por Tomé da Costa e Francisco Xavier Guedelha em 1751. Deve, também, destacar-se o conjunto de escultura procissional formado por oito imagens, de vulto perfeito, da Paixão de Cristo e uma, de roca, de Nossa Senhora da Soledade. São da autoria do famoso escultor de Faro, Manuel Martins, e atestam a sua mestria técnica e artística, constituindo o mais importante núcleo de imaginária barroca do Algarve. Destaca-se do conjunto de nove imagens da célebre Procissão do Triunfo, a imagem de Cristo Crucificado, promovida pela Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo na Quaresma. Foi construída por Manuel Martins e encarnada por Clemente Velho de Sarre.
É notável o trabalho deste mestre pintor, responsável pela carnação de diversas imagens retabulares, designadamente do núcleo da Procissão do Triunfo e do douramento do retábulo da capela-mor, sendo possivelmente também da sua autoria a pintura da cobertura da sacristia. Esta é decorada com diversos painéis pintados, sendo semelhantes os elementos representados; só o interior tem temas diferentes.
No entanto, verifica-se a existência, nesta igreja, doutras manifestações artísticas, tais como o trabalho em estuque da abóbada (1770), os trabalhos de massas do coro alto (1775) e a pintura da cobertura da capela-mor (1794).
Capela do Ossos
Desde a sua inauguração, em 1719, esta igreja teve sucessivas campanhas de obras. Muito importante é a Capela dos Ossos, edificada gratuitamente por diversos pedreiros (irmãos da Ordem), em 1816, aproveitando as ossadas dum antigo cemitério privativo anexo (1245 crâneos das sepulturas dos frades da Ordem Terceira do Carmo).
O cemitério e a capela podem ser visitados, sendo considerados locais de grande interesse histórico, especialmente em relação ao trabalho de talha e de imaginária barroca.
Do recheio da igreja destacam-se duas notáveis pinturas que representam a Virgem do Leite, pintada sobre madeira e datada de 1595 e assinada por Cristobal Gomez, e a Sagrada Família, assim como ricos paramentos que pertenceram ao bispo fundador, D. José Pereira de Almeida, posteriormente elevado a cardeal.
A sacristia, considerada uma das mais ricas do país, apresenta um teto com painéis pintados e um belo conjunto escultórico constituído por sete imagens da Paixão de Cristo, de 1731, da antiga Procissão do Triunfo, do mestre Manuel Martins, uma imagem de Nossa Senhora de Soledade e a escultura de Nossa Senhora do Carmo, atribuída a Machado de Castro.
Salienta-se a capela-mor, coberta por uma abóbada pintada, onde se encontra um retábulo de talha dourada em estilo barroco. A sacristia, considerada uma das mais ricas do país, apresenta um teto com painéis pintados e um belo conjunto escultórico constituído por sete imagens da Paixão de Cristo, de 1731, da antiga Procissão do Triunfo, do mestre Manuel Martins, uma imagem de Nossa Senhora de Soledade e a escultura de Nossa Senhora do Carmo, atribuída a Machado de Castro.
- Eucaristia Dominical às 8:30
- 1º Sábado do Mês, Oração Mariana às 21:00 (aberto a toda a comunidade)
- 1º Domingo do Mês, após a Eucaristia, encontro de Formação (destinado a Irmãos do Carmo e Noviços).
ALMEIDA, José António Ferreira de - orientação e coordenação, Tesouros Artísticos de Portugal, Lisboa, Selecções do Reader's Digest, 1982.
LAMEIRA, I. C. Francisco, Faro : Edificações Notáveis, Faro, Câmara Municipal de Faro, 1995.
Idem, Itinerário do Barroco no Algarve , Portimão, Delegação Regional do Sul da Secretaria de Estado da Cultura, 1988.
LOPES, Flávio (coord.), Património Classificado - Arquitectónico e Arqueológico - inventário, vol. I, Lisboa, IPPAR, 1993.
PAQUETE, Manuel, "Dossier Algarve II", in Turismo Cultural, nº 5, II Série, Amadora, Abril/Maio/Junho 1992.