Património Material
Igreja de São Cristóvão, paroquial
Este templo de orago já usado no início do séc. XIV situa-se onde provavelmente assentou a Igreja de Santa Maria de Alcamim (séc. XII). A igreja mudou de feição após uma reconstituição seiscentista onde ainda restam alguns vestígios da sua antiga estrutura primitiva: as nervuras das abóbodas na capela-mor e as grossas paredes do corpo central, com mais de 2m de espessura.
É um dos poucos monumentos do séc. XVII da área central de Lisboa que sobreviveu ao terramoto de 1755, o qual abalou as torres e alguns remates que, apeados e depois reconstruídos, mantiveram as linhas simples da bonita fachada barroca, ultimamente liberta de um balcão-adro de dupla escadaria, com um recinto gradeado, que encostava ao portal principal, encimado por um nicho saliente onde está a imagem de São Cristóvão.
Na fachada norte, outro portal, com o mesmo estilo, possui em cima uma inscrição:
O lance de escada, de serventia ao portal norte dá acesso à porta de um corpo adjacente, de dois pisos, estando a sacristia no piso de baixo.
A única nave da Igreja de São Cristóvão possui tecto plano ao centro, caindo em curvas suaves sobre a cornija de mármore. Com pintura ornamental setecentista, é constituído por painéis rectangulares, emoldurados consoante o travejamento da armação, descobrindo-se dez deles centrados por cartelas, octogonais e ovais existindo outros com símbolos eucarísticos; o painel central apresenta uma figuração de anjos ao redor de uma custódia barroca. O tecto harmoniza-se com o revestimento pictural das paredes que possuem telas atribuídas à oficina de Bento Coelho da Silveira, emolduradas de talha dourada, ligadas à ornamentação das cinco capelas laterais e das que ladeiam o arco cruzeiro, representando alguns passos da vida de São Cristóvão.
A capela-mor com um revestimento parecido, apresenta duas telas onde na parte inferior se podem ver duas lápides elucidativas quanto à data da sua fundação.
Do lado do Evangelho aparece-nos a seguinte inscrição:
Do lado da Epístola:
A sul, no corpo anexo encontra-se a Capela dos Mirandas utilizada pela referida Irmandade do Santíssimo desde o 3º quartel seiscentista para pôr termo à deslocação dos túmulos que ali se encontravam. Estes estão embebidos na parede da Igreja, acumulados debaixo de um arco, constituindo uma singular necrópole e um opulento lapidário. Existe ainda um túmulo que se mantém no piso de cantaria rebaixado em relação ao do corpo central, com lápide sepulcral de brasão dificilmente identificável. A extensa inscrição tumular do bispo D. Fernando de Miranda, que centra o conjunto parietal, apresenta-se escrito em doze linhas de minúsculos caracteres góticos, registando os seus feitos. O outro facial da arca tumular, sobrejacente, é o túmulo do avô de D. Fernando, D. Martinho (arcebispo de Braga). Foi conselheiro de D. João I e governador de D. Duarte como o prova o epifácio de cursivo gótico que revela este avoengo Miranda como militar, antes de ser clérigo, morrendo em 1416.
A Capela dos Mirandas é revestida de azulejos de vários tipos do séc. XVII o mesmo acontecendo com o corpo central da Igreja, utilizando azulejos seiscentistas para combinações insólitas de azulejamento aplicado nas paredes da escadaria que dá acesso às torres e ao coro, assim como nas paredes deste.
SANTANA, Francisco e SUCENA, Eduardo (dir.), Dicionário da História de Lisboa, Lisboa, Carlos Quintas & Associados - Consultores, Lda., 1994.