Património Material
Igreja de S. Miguel, Matriz de Freixo de Espada-à-Cinta
O ínicio da construção desta igreja parece ter ocorrido durante o reinado de D. Sancho II. Projetada para uma população bastante mais numerosa do que aquela que habitava na altura a vila, a igreja requeria custos bastante elevados; assim, não admira que as obras sofressem interrupções contínuas face às fracas posses. D. Dinis, num desses períodos de obras, introduziu-lhe modificações significativas.
Outro momento de falta de recursos deveu-se à necessidade por parte do rei D. Afonso IV de recolher parte das rendas eclesiásticas (com a autorização do papa) afim de as aplicar na construção da cerca defensiva da vila.
Depois desta fase retomou-se a construção do templo. D. Afonso V e D. João II prescindiram do imposto real daquela povoação afim de se dar continuação às obras. Finalmente, D. Manuel I decidiu remodelar de forma acentuada o edifício religioso, de tal forma, que das anteriores construções, apenas ficaram pequenos vestígios. Apesar da "disponibilidade" daquele reinado, a igreja só ficaria concluída no reinado de D. João IV.
A fachada da igreja mostra o portal manuelino constituído por um arco de volta abatida, decorado com rosas e elevado ao centro, formando uma carena cujo ângulo se eleva e vence o esbarro do peitoril da janela central. Sobrepujando o arco, uma elegante e alta moldura trilobada e decorada com alcachofras. Flanqueiam a porta dois elegantes colunelos rematados por cogulhos, que se unem em cima por dois óculos cavados em tronco-cones, os quais apertam o elegante prolongamento da carena. O conjunto é ladeado por maciços gigantes góticos, escalonados em esbarros. O frontespício mostra ainda duas janelas mais estreitas e ao mesmo nível da central. Ao longo dos alçados laterais apresentam-se contrafortes com gárgulas de canhão, encimados por pináculos; encontram-se também nos cunhais da frontaria e da ábside, sendo estes, no entanto, mais salientes e dispostos em diagonal. As duas séries formadas pelos poderosos apoios dos flancos referenciam os cinco tramos que dividem o corpo da igreja.
O interior é de três naves, separadas por colunas cilíndricas, ornadas por anel a meia altura e com capitéis manuelinos, formando um espaço unitário característico das igrejas-salão, com cobertura nervada, lembrando discretamente a Igreja dos Jerónimos de Lisboa. Os fechos das abóbadas da nave central e da capela-mor, ostentam as armas reais de D. Manuel I, cruzes de Cristo e esferas armilares. A abside e as absidíolas possuiem excelentes retábulos de talha barroca, dos finais de seiscentos ou inícios de setecentos. De salientar, na capela-mor, cobrindo as paredes laterais, dezasseis retábulos atribuídos a Grão Vasco; entre eles está «A Anunciação» e «A Prisão de Cristo no Horto». As molduras destas tábuas são de estilo barroco da época joanina. Pode ser visto na absidíola norte, abrigado num arcossólio, um túmulo gótico, com pedra de armas e decorado com elementos manuelinos. Na absidíola sul, quatro esculturas manuelinas, talvez de mestre flamengo, em madeira policromada, representam os Eangelistas. O coro alto, provavelmente obra do período joanino, localiza-se junto à entrada, no primeiro tramo e é suportado por pilares e colunas adossadas. Interessante também, é o púlpito com o seu dossel, belo trabalho de ferro forjado. Na sacristia são de referenciar as abóbadas decoradas, e cujos arcos assentam sobre mísulas. Num dos topos inclui um bom arcaz e, sobre este, talha barroca enquadrando um Cristo crucificado; no topo contrário, salienta-se um lavabo em cantaria trabalhada ao gosto barroco.
ALMEIDA, José António Ferreira de (orientação e coordenação), Tesouros Artísticos de Portugal, Selecções do Reader's Digest, Lisboa, 1982.
GIL, Júlio e CALVET, Nuno, As mais belas Igrejas de Portugal, vol. I, Verbo, Lisboa, 1988.
LOPES, Flávio (coord.), Património Classificado - Arquitectónico e Arqueológico - inventário, vol. I, IPPAR, Lisboa, 1993.
OLIVEIRA, Manuel Alves de, Guia Turístico de Portugal, [Lisboa], 1990.