Património Material
Igreja de Nossa Senhora dos Mártires
A Igreja dos Mártires localiza-se no cimo da Rua Garrett, perto de duas outras Igrejas, a do Loreto e a da Encarnação, três edifícios que constituem uma espécie de trindade sacralizadora da área urbana paradigmática do Chiado.
O orago de Nª Sra. dos Mártires é o mais antigo da Baixa. A Igreja primitiva localizava-se no alto da Calçada de S. Francisco mas a freguesia foi trasladada para este local após o terremoto de 1755 construindo-se um edifício de raiz a expensas de Manuel Pacheco Pereira, negociante do Porto.
Após a reconquista de Lisboa o rei Afonso Henriques mandou construir e lançou a primeira pedra dos templos erguidos nas necrópoles cristãs da Cidade, S. Vicente de Fora e Mártires, prováveis herdeiras de necrópoles moçárabes anteriores. Uma capela da invocação de Nª Sra. dos Santos Mártires
Foi sede da maior paróquia de Lisboa com um território que se estendia desde a Sé e Santa Justa até Alcântara ou mesmo até Oeiras. A igreja foi objeto de várias campanhas de obras: alargada em 1476, reedificada entre 1598 e 1602, teve uma vasta campanha de obras em 1629 que continuou intermitentemente até meados do século XVIII. Destruída pelo terramoto de 1755 optou-se por trasladar em 1769 a Igreja e a freguesia do alto de S. Francisco para a atual Rua Garrett. Foi erguida no Monte Fragoso, atual Alto de S. Francisco em Novembro de 1147 na necrópole onde os cruzados ingleses tinham sepultado os seus mortos, e o seu padroado entregue pelo Rei ao Bispo de Lisboa o inglês D. Gilberto.
É uma Igreja neobarroca, terminada em 1784, com traça do arquiteto Reinaldo Manuel dos Santos. Possui boas obras de arte de escultura e pintura e está revestida interiormente de mármores.
A frontaria é constituída por três corpos. Na zona superior do corpo central três janelas iluminantes acentuam plasticamente as portadas inferiores. Sobre o pórtico central foi colocado um medalhão redondo comemorativo da dedicação do templo primitivo, um baixo relevo que representa D. Afonso Henriques dado graças à Virgem pela conquista de Lisboa, acompanhado da lendária figura do cruzado Guilherme da Longa Espada, obra de Francisco Leal Garcia.
A pintura do teto do corpo da Igreja é uma das mais notáveis obras de Pedro Alexandrino. O tema é a dedicação do templo primitivo a N. S. dos Mártires, com uma cercadura de doutores da Igreja.
A Capela Mor tem banqueta e trono do Santíssimo Sacramento de mármore negro. No tecto figura a Santíssima Trindade, pintura de Jerónimo Gomes Teixeira. A Padroeira apresenta o Menino no braço esquerdo e no direito a palma dos mártires. As pinturas das oito capelas laterais são obra do famoso pintor tardo-barroco Pedro Alexandrino. Uma teia de pau santo e um famoso órgão de 1780 obra de Silvério Machado completam o conjunto.
Sobre o altar que preside à sacristia há um retábulo de mármore branco com a mesma cena da porta principal e doze quadros a óleo de Cristo e apóstolos. São notáveis os arcazes.
Templo de nave única enquadrada por oito capelas laterais. À esquerda de quem entra e desde o fundo da igreja: capela batismal fechada por uma porta de ferro dourado com inscrição relativa ao primeiro batismo em 1147, altar de S. Brás com painel de fundo do Santo, S. António com painel do santo, Santa Cecília representada em painel de fundo. A quarta, do Santíssimo Sacramento, é revestida de mármores vermelhos e azuis, com imagem de S. José. As capelas laterais da direita estão dedicadas a: Senhor Jesus dos Perdões com imagens de Santa Maria Margarida Alacoque, S. Terezinha do Menino Jesus e Santa Filomena, altares de Santa Luzia com painel representando o martírio da Santa, Nª Sra. das Dores com um retábulo de fundo representando Cristo no Gólgota, Na. Sra. da Conceição com um painel do fundo de S. Miguel, Nª Sra. de Fátima com retábulo do Bom Pastor.
A Igreja dos Mártires foi lugar de reunião, há cem anos atrás, de “Toda a Lisboa” que por ocasião dos atos litúrgicos se mostrava, convivia, ouvia música. Bem perto morou o poeta Fernando Pessoa que chamava ao sino da Igreja dos Mártires “o sino da minha aldeia” cujo toque convocava um pequeno mundo que “se conhecia, se frequentava” no dizer de Eça de Queiroz romancista do Chiado.
Horário da Basílica
2ª a 6ª feira: 9h - 18h | sábado e domingo: 10h - 18h
MATOS, José Luís, "Templos de Lisboa - Baixa", Câmara Municipal de Lisboa / CNC - Lisboa, 2000