Património Material
Igreja de Nossa Senhora da Boa Fé
Esta igreja terá sido fundada por cumprimento dum voto que preservou a cidade de Évora da peste que surgiu no reinado de D. Fernando, tendo sido mandada edificar pelos comerciantes. A imagem é tida como milagrosa e ainda hoje é objecto de devoção dos fiéis que lhe prestam homenagem com suas orações e ofertas de objectos simbólicos, depositados nos anexos do santuário.
O orago primitivo era dedicado a Nossa Senhora da Natividade ou das Nascenças, mas existe um registo num cálice antigo que a intitula de Benes-Fide, tendo passado a chamar-se Boa Fé, nome por que é conhecida a freguesia - Nossa Senhora da Boa Fé.
Trata-se de um templo bastante equilibrado, reformado na transição do séc. XVII para o séc. XVIII, o qual conserva um belo portal quinhentista, em estilo manuelino, com arco de três arquivoltas.
A igreja é de nave única, com azulejos policromos na testeira da capela-mor, do séc. XVII. As paredes encontram-se revestidas por azulejos do séc. XVIII, azuis e brancos, com diversas figuras, atribuíveis à família Bernardes, de Lisboa. Esses azulejos representam, sem uma ordem rigorosa, cenas marianas e evangélicas: o Nascimento de Maria, os Esponsais de Nossa Senhora, a Anunciação, o Nascimento de Jesus, a Circuncisão, a Morte de Nossa Senhora (o Trânsito de Maria), a Matança dos Santos Inocentes, a Coroação de Maria, a Adoração dos Magos, a Fuga para o Egipto, a Apresentação de Jesus, o Encontro entre os Doutores, a Descida do Espírito Santo, a Assunção de Maria ao Céu e Maria no Templo.
Nas paredes do arco que liga a capela-mor ao corpo da igreja encontram-se representados, de alto a baixo, os quatro evangelistas, Mateus, Marcos, Lucas e João.
Os altares laterais são dedicados a Nossa Senhora do Rosário e a Cristo Morto, encontrando-se protegidos por grades de ferro forjado.
A grade do Baptistério é trabalhada em desenho barroco.
A casa da capelania apresenta a data de 1796.
O púlpito, em estilo maneirista, do final do séc. XVIII, encontra-se bem enquadrado no conjunto arquitectónico.
O culto nesta igreja foi bastante expressivo no séc. XVIII, existindo um grande número de paramentos litúrgicos e objectos sacros, entre os quais se destaca uma interessante cruz processional em prata, lavrada e marchetada, que se encaixa num pórtico central assente em base de cabeça de querubins, tendo no nicho a Virgem com o Menino e o ceptro, com a seguinte frase gravada: ESTA CRVS / HE DE N.Sª. / DA BOA FEE / TERMO DA / SIDADE DE / ÉVORA.
A imagem da Virgem com o Menino mede 1 m de altura, é policromada e estofada, apresentando uma expressão cheia de ternura. Curiosamente, o Menino tem uma romã na mão e a execução é anterior a 1550.
A opulência dos lampadários, a riqueza dos paramentos e a quantidade de objectos de prata e outros metais, ofertas e ex-votos dos fiéis, são provas de ter sido no passado um grande centro de peregrinação.
SANTOS, António Salvador dos, Principais Santuários Marianos da Arquidiocese de Évora, Évora, 1992.