Património Material
Portal e galilé da Igreja de Chelas
Considerado por muitos a mais antiga clausura de Lisboa e arredores, o convento de São Félix e Santo Adrião de Chelas remonta à alta idade média, ou provavelmente ao Império Romano (séc. VII a.C.); encontraram-se vestígios epigráficos dessa época e um sarcófago denominado por "Sarcófago dos Escritores". No mesmo local teria existido um templo de vestais, dedicado a Tétis, onde segundo a lenda Ulisses foi buscar Aquiles, que aí estava refugiado. Deste modo, do nome de Aquiles teria derivado a palavra Achelas e Chelas.
O convento é datado de 665, ano em que o rei visigodo Recesvinto teria recebido as relíquias de São Félix, martirizado em Gerona no ano 30 e trazido numa barca pelo esteiro que na época ocupava o Vale de Chelas. São desse período as pedras com finos lavores visigóticos pertencentes ao antigo templo, recolhidos actualmente no Museu Arqueológico do Carmo. No séc. IX, Afonso III de Leão tomou Lisboa aos mouros e por essa ocasião ofereceu as relíquias do mártir Santo Adrião ao convento.
O convento foi reconstruído por D. Afonso Henriques, em 1154, para as freiras regrantes de Santo Agostinho, tendo mais tarde sido confirmado por D. Afonso II. No reinado de D. Manuel ampliou-se o convento e construiu-se igreja. Em 1604 realizaram-se novas obras de remodelação e ampliação, por ordem da abadessa D. Luisa de Noronha. Em consequência do Terramoto de 1755, a igreja foi praticamente reconstruída e enriquecida com talha dourada e azulejos, obra que viria a ser concluída em 1757.
Em 1834, com a expulsão das ordens religiosas o convento foi vendido, passando a estar ligado ao Ministério da Guerra, como depósito de material. Posteriormente, em 1898, foi instalada uma fábrica de pólvora, adulterando o recinto conventual, tendo sido depois criado um recolhimento para viúvas de militares da I Grande Guerra. Serviu ainda como Arquivo do Ministério do Exército em 1959.
Do antigo convento destaca-se o claustro com painéis de azulejo, mantendo ainda hoje uma fonte à volta da qual se dispõem bancos de espaldar inclinados, forrados a azulejo. Podem ainda ser vistos azulejos azuis e brancos nos alegretes e na escadaria.
O principal interesse patrimonial reside na igreja, que conserva um magnifico portal manuelino, e galilé completamente forrada a azulejos seiscentistas do tipo "ponta de diamante". O portal apresenta arco trabalhado ladeado por colunelos com base saliente poligonal e superiormente decorado com cogulhos. Compondo a estrutura da galilé estão três arcos de volta perfeita apoiados em colunas toscanas aos quais correspondem três abóbadas de berço revestidas a azulejo.
ALMEIDA, José António Ferreira de (coord.), Tesouros Artísticos de Portugal, Lisboa, Selecções do Reader's Digest, 2ª reimpressão, Junho de 1982.
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