Património Material
Igreja das Mercês, Convento de Nossa Senhora das Mercês
A igreja foi sagrada em 1698, em estilo barroco-rococó, apresentando uma fachada muito simples, de alpendre com três arcadas obstruídas, pilastras lisas, janelas de molduras graníticas, frontão com volutas de enrolamento, terminando por fogaréus flamejantes e centrado pela águia bicéfala dos Habsburgos, emblema da Ordem. O portal ocupa todo o vão do primitivo alpendre de 1676, sacrificado durante o reinado de D. Maria I devido às obras de ampliação da nave da igreja e do coro.
O interior, de nave única com planta rectangular, tem cobertura em abóbada de berço e o amplo cruzeiro apresenta cúpula de secção quadrangular. O transepto é ricamente guarnecido por composições de talha dourada com aplicações florais, em estilo rococó de cerca de 1760, cujo desenho e execução deve-se aos mestres entalhadores e escultores Jorge Guerreiro da Costa e Joaquim Monge.
Um revestimento sumptuário em estilo rococó, do séc. XVIII, é composto no sub-coro, capela-mor e sacristia por silhares de azulejos historiados, com cenas da Vida Mariana, da Paixão de Cristo e de Santo Agostinho.
A capela-mor, com tecto de meio canhão, apresenta um retábulo de entalhe dourado, esculpido, com colunata salomónica sobrepujada por fachos: trono da exposição do Santíssimo Sacramento, nicho e dossel em estilo rococó. Sobre mísulas conservam-se as imagens titulares de Santa Mónica e Santo Agostinho.
Na nave abrem-se, além do presbitério, quatro altares, dois no eixo e dois colaterais, os primeiros barrocos, ornamentados com colunelos salomónicos de parras, uvas e serafins de baldaquinetes intervalares, policromos, os segundos mais tardios, abertos em pórtico de frontão e colunas coríntias revestidas de folhagem dourada.
Nesta igreja encontram-se três séries azulejares de grande valor: a da sacristia, de concepção barroca e monocroma, com temas da Paixão de Cristo (cerca de 1730); a do presbitério, policroma, que representa cenas da hagiografia do Santo Bispo de Hipona, doutor máximo da Igreja, datáveis de cerca de 1770, assim como a colecção de silhares do cruzeiro, nave e sub-coro, bastante variada pelas interpretações sacras e da vida mariana, coloridas e de viva decoração rococó, possivelmente da Fábrica do Rato, da época do reinado de D. Maria I, no qual as influências francesas de Luís XVI são notórias. Bastante graciosos e raros pelo recorte simbólico do coração augustiano, são as bandeiras-crivos dos confessionários, recortados em latão pintado.
Esta igreja pertence ao extinto convento dos agostinhos descalços (grilos) (que viviam em clausura), fundado em 1670, sob patrocínio da Rainha D. Luisa de Gusmão, em dependências outrora patrimoniais dos fidalgos Freires de Andrade, senhores de Bobadela, de que subsiste a abóbada polinervada, com fechos de cordame manuelino (cerca de 1530) da Sala do Capítulo.
No convento encontra-se instalada, desde 1956, a valiosa secção de Artes Decorativas Religiosas do Museu de Évora, cuja estrutura se deve ao director Professor Mário Tavares Chicó, com assistência do Museu Nacional de Arte Antiga, de Lisboa.
LOPES, Flávio (coord.), Património Classificado - Arquitectónico e Arqueológico - inventário, vol. I, Lisboa, IPPAR, 1993.