Património Material
Igreja da Misericórdia de Évora
A instituição remonta a dezembro de 1499 e os seus primeiros irmãos foram os reis D. Manuel I e D. Leonor de Lencastre, viúva do Príncipe Perfeito. A primitiva sede funcionou na Capela de S. João Batista (S. Joãozinho), anichada no exterior do cruzeiro da igreja de S. Francisco. Desta época conserva o portal Renascença e a imagem gótica do Anjo da Anunciação, embora o seu atual retábulo, em talha dourada, já seja de estilo maneirista, obra efetuada durante uma empreitada de 1630, do entalhador eborense Sebastião Vaz.
O atual edifício da Misericórdia, adquirido pelo infante D. Luís, Prior do Crato, cerca de 1530, com destino à comunidade maltesa de S. João de Jerusalém, entrou no poder da provedoria em 1554. A igreja foi fundada a 20 de outubro desse ano, com projeto de autor desconhecido e acabamentos pelo oficial de pedraria Mateus Neto (1596).
O edifício segue os cânones classicizantes e maneiristas da época, mantém as empenas contrafortadas e na fachada, remodelada no séc. XVIII, um curioso friso granítico de tríglifos, janelão, luneta e portal rococó, decorado com as armas reais de Portugal, em mármore branco, executado em 1765 pelo canteiro Gregório das Neves, de Vila Viçosa. Bela peça, o portal apresenta uma verga de arco abatido, com requintada decoração seguida pelas ilhargas até à base; pilastras laterais dispostas obliquamente sómente apresentam decoração de elegantes enrolamentos vegetalistas nas zonas superiores, como capitéis que suportam a cornija para um ondeado frontão, interrompidas de seguida para dar espaço à janela do coro. Entre a cornija e a verga da porta, intercetando ambas, o coroado escudo nacional torna-se pelo significado, dimensões e beleza o grande motivo do conjunto. Retirado para o Museu Arqueológico após a implantação da República, foi aí colocada uma réplica em 1926, mais tarde destruída. O primitivo brasão das armas portuguesas retomou o seu lugar.
As portas de marcenaria talhada em madeira do Brasil são do séc. XVIII, almofadadas, pregueadas e guarnecidas de bronzes. Também almofadado e rematado por frontão bem lavrado é o guarda-vento da porta axial.
Seguindo a tradição tridentina o interior, em retângulo, integra nave única, coro e capela-mor, um pouco elevada pelo "carneiro" típico das igrejas de Misericórdias. A sua nave ampla apresenta uma cobertura em abóbada de berço com arcos torais pouco salientes que separam os cinco tramos, por sua vez divididos em caixotões geometrizantes, em alvenaria caiada.
Segue-se uma larga banda, parte superior do pé-direito, rica de formas e cromatismo, composta por talha dourada que integra belo entablamento e enquadra um conjunto de sete pinturas a óleo sobre tela, legendadas (quatro na parede Norte e três na Sul), ilustrando as Obras de Misericórdia Corporais, do artista eborense Francisco Xavier de Castro (1737). Em 1985, quando se retiraram estes quadros para restauro, descobriram-se as primitivas composições pintadas a fresco do final do séc. XVI, igualmente representativas de temas das Obras de Misericórdia, núcleo de artistas anónimos e bastante danificado, que revela ter sido executado por empreitada de parceria oficinal.
O interior desta igreja é bem marcado por um valioso recheio sumptuário e ornamental de estilo barroco, o qual dá ao espaço bastante luz e côr.
As superfícies inferiores encontram-se revestidas por silhares de azulejos historiados, datados de 1716 e atribuídos a António de Oliveira Bernardes, os quais representam, em cenas da vida de Jesus, exemplos das Obras de Misericórdia Espirituais. O alto silhar de azulejos é interrompido, no lado Meridional, pela Capela do Santíssimo Sacramento, com arco pleno, mármores embrechados e esculturas que representam Cristo na cruz, o Senhor Morto e S. João de Deus; em 1766 foram acrescentadas talhas douradas na tribuna e no retábulo.
Entre este altar e o espaço da capela-mor continua o revestimento azulejar, o qual inclui os símbolos das Chagas de Cristo, erguidos por um anjo extremamente bem desenhado.
No lado Poente do altar do Santíssimo encontram-se alinhadas as doze cadeiras dos mesários da Santa Casa, bom trabalho de marcenaria lisboeta da época de D. Maria I, salientando-se a sumptuosa cadeira do provedor, decorada por anjos e com as armas de Portugal e da Santa Casa, de espaldar e braços estofados a seda.
Na parede oposta destaca-se o púlpito, suspenso entre dois dos painéis de azulejos de Oliveira Bernardes, em mármore branco, com parapeito de balaústres assente numa base circular, do séc. XVI.
O revestimento azulejar continua pelas paredes do subcoro, numa composição de perspetivas arquiteturais e temas vegetalistas onde se enquadram figuras de santos: Maria Egipcíaca, Taís, Paulo e Antão. Quatro colunas em granito colocadas nos cantos suportam dois belos arcos em que se apoia o coro de varanda abalaustrada, o qual conserva sóbrio cadeiral do séc. XVI, além de mobiliário e pinturas de boa qualidade.
O retábulo da capela-mor, bela e imponente composição barroca em talha dourada policroma do séc. XVII, com colunata salomónica, foi encomendado em 1665 pelo provedor Frei Luís de Sousa, bispo eleito do Porto, e só foi dourado em 1728 pela campanha dos mestres Manuel da Maia e Filipe de S. Tiago, responsáveis, em 1708, juntamente com outros oficiais, pelo douramento do altar colateral de Santo Cristo. O conjunto integra quatro pinturas, as três inferiores como retábulos de altares laterais e a central do altar-mor. Na parte superior encontra-se a melhor das pinturas da igreja - uma glorificação a Nossa Senhora das Misericórdias.
Azulejos historiados e conjunto de sete pinturas a óleo de Francisco Xavier de Castro. Destaca-se, igualmente, o altar-mor do séc. XVII.
Horário:
Dias úteis - 09:00 – 12:00 // 14:00 – 17:30
Sábados, Domingos e Feriados: 09:00 – 13:00
Entrada Gratuita
GIL, Júlio, Os mais belos palácios de Portugal, Verbo, Lisboa/São Paulo, 1992.
LOPES, Flávio (coord.), Património Classificado - Arquitectónico e Arqueológico - inventário, vol. I, Lisboa, IPPAR, 1993.