Património Material
Igreja da Misericórdia de Tavira
Em termos arquitetónicos é a mais valiosa igreja de Tavira. Construída no séc. XVI (foi perante o notário firmado contrato em 24 de novembro 1541 entre a Confraria da Misericórdia de Tavira e mestre André Pilart, relativo à construção da igreja da Santa Casa que estaria já concluída em 1552), mantém o magnifico pórtico renascença que, conjuntamente com o de Moncarrapacho, é considerado dos mais belos do Algarve.
O portal, de volta inteira emoldurada, integra-se entre duas pilastras de secção quadrangular com pedestais e capitéis de ordem compósita e é sobrepujado por entabelamento constituído por arquitrave, friso e cornija, rematado pelas imagens, bem esculpidas e de cuidado pormenor, de S. Pedro e S. Paulo. Sobre um pequeno óculo, ao centro e encimando o conjunto do portal, vê-se, sob um dossel com cortina que dois anjos levantam lateralmente, uma imagem de Nossa Senhora da Misericórdia coroada e com o seu manto aberto a proteger os infelizes. Esta composição é ainda flanqueada pelos brasões de armas de D. João III e de Tavira. Os frisos do portal, a moldura de todo o vão e os fustes das pilastras são decorados com estilizações de flores, folhas, ânforas, taças e figuras. Medalhões com bustos decoram as bases das pilastras e os vãos do arco.
Do lado poente abre-se ainda uma porta lateral igualmente renascentista, mas necessariamente mais modesta, coroada por pináculos e aletas de finas volutas, sobre a cornija.
O interior é de três amplas naves, sendo mais ampla a central, separadas por arcos que assentam em colunas de capitéis renascença, decorados com carrancas, criando um espaço que tende para o unitário.
O altar-mor que se eleva sobre o carneiro habitual nas igrejas da Misericórdia sendo usado como cripta mortuária dos mesários, é protegido por gradeamento que se prolonga em balaustrada pela original tribuna que avança sobre a nave lateral. O retábulo do altar-mor,em rica talha dourada setecentista, apresenta lateralmente duas colunas salomónicas ornamentadas com anjos assentes em mísulas e delas arrancam as arquivoltas em cujo fecho se inscrevem as armas nacionais, abrindo-se ao centro num profundo espaço para o trono, concebido como a proa de um navio, em frente ao qual figuram as imagens barrocas de Nossa Senhora da Misericórdia e de sua prima Santa Isabel no momento da Visitação. O conjunto é rematado por um baldaquino sustentado por dois anjos. Este retábulo é considerado como um dos melhores do tipo românico por Reynaldo dos Santos.
O altar colateral do lado nascente apresenta uma pintura circular em tela, provavelmente seiscentista representando Nossa Senhora da Conceição e o colateral poente duas imagens representando Cristo Crucificado e Nossa Senhora da Soledade.
Os azulejos que forram as paredes do templo até meia altura, num total de 14 painéis, datados de 1760, são da autoria de José Victorino e são do género figurativo circundados com molduras arquiteturais recortadas, ao gosto do séc. XVII, embora nos tons de azul e branco característicos do séc. XVIII e ilustram as Obras (espirituais e corporais) de Misericórdia. Os azulejos que correm nos rodapés e uma falsa porta são polícromos.
Cerca de 1750 as primitivas frestas de iluminação foram substituídas por largas janelas que se abrem sobre as naves e, em 1811 foi erguida a torre sineira, tendo-se apeado o campanário até então existente sobre a empena da frontaria.
ALMEIDA, José António Ferreira de (coord.), Tesouros Artísticos de Portugal, Lisboa, Selecções do Reader's Digest, 1982.
GIL, Júlio e CALVET, Nuno, As mais belas igrejas de Portugal, vol. I, Lisboa/S. Paulo, Editorial Verbo, 1988.
LOPES, Flávio (coord.), Património Classificado - Arquitectónico e Arqueológico - inventário, vol. I, Lisboa, IPPAR, 1993.