Património Material
Igreja da Misericórdia
A igreja, localizada no centro antigo da vila no local onde existiu a Ermida do Espírito Santo, foi fundada em 1678 por Francisco Lopes Franco, procurador dos Condes da Ericeira. Com planta longitudinal de uma só nave, a igreja surge coberta por um telhado de duas águas, sendo pontuada, a Norte, por uma torre sineira, que se encontra alinhada com a fachada.
A fachada principal da Igreja da Santa Casa da Misericórdia caracteriza-se por grande simplicidade e alçado em dois registos. No registo inferior, um pórtico de grandes proporções, encontra-se ladeado por duas pilastras de fuste liso e capitéis dóricos, encimado por duas largas arquitraves. Ao nível do registo superior, iluminando directamente o coro-alto, abre-se uma janela de arco rebaixado, rematada por um frontão triangular.
Entre os elementos que caracterizam o interior desta igreja contam-se: o coro-alto sustentado por quatro colunas jónicas; uma cripta de grande altura; o altar do Senhor dos Passos, em talha dourada, rematado por um frontão triangular de aletas e iluminado por uma janela em ângulo recto, amplamente rasgada na parede norte do edifício; o púlpito poligonal em mármore, policromado e decorado com talha dourada em motivos vegetalistas; um imponente cadeiral do séc. XVIII, localizado na parede sul e construído em madeira maciça, sobre o qual se abre uma tribuna, de onde se assistia aos ofícios religiosos; o altar-mor elevado na parede do fundo, caracterizado por uma teia de balaústres e base de mármore, ricamente decorado em talha dourada, apresentando um nicho em arco de volta perfeita, onde se encontra uma escultura de Nossa Senhora do Rosário; duas portas, situadas lateralmente em relação ao altar-mor, decoradas por um frontão triangular com aletas, que dão acesso à Sacristia. O retábulo em talha do altar-mor, é obra do entalhador José de Oliveira e o dourado do pintor Manuel António de Góis.
As paredes da igreja apresentam, na zona inferior, decoração azulejar branca e azul, do séc. XIX, e, na zona superior, pintura mural a imitar caixotões. Merece especial destaque, o tecto de masseira, também a imitar caixotões, decorado com várias obras de misericórdia. O templo apresenta ainda, no seu interior, um conjunto de pintura religiosa portuguesa dos séculos XVII, XVIII e XIX: duas telas da Bandeira Real, obra seiscentista; uma série anónima de Bandeiras da Paixão de Cristo, do início do séc. XVIII, convencionais de composição, mas com alguma influência barroca, decalcada de estampas italo-flamengas; os caixotões do tecto decorados com pinturas do séc. XVIII, realizadas por Manuel António de Góis e Sebastião de Carvalho, em 1760; duas telas do altar-mor representativas de Nossa Senhora da Misericórdia e da Visitação, executadas pelo mesmo pintor, Manuel António de Góis, em 1761, caracterizadas por um desenho solto e grande luminosidade cromática, numa interpretação personalizada de modelos barrocos romanistas. O interior da igreja conhece ainda, no séc. XIX, uma pintura ornamental a fresco, de autoria do pintor Joaquim José da Costa Durão Padilha.
É de realçar, também, a existência de uma lápide no chão da igreja, datada de 1682, onde se encontra sepultado o seu benemérito, Francisco Lopes Franco. As dependências da igreja, que foram o antigo hospital, são hoje o Arquivo-Museu da Santa Casa da Misericórdia e salas de reunião da irmandade.
1999/2000 - substituição do pavimento de madeira por lagedo em pedra, com comparticipação do IPPAR; prevê-se a curto prazo uma limpeza geral das obras no interior da Igreja
CÂMARA MUNICIPAL DE MAFRA, Carta do Património do concelho de Mafra: freguesia da Ericeira, C. M. Mafra / Serviços de Cultura.
MARQUES, João (dir), Roteimafra : roteiro e guia comercial, industrial e turístico do concelho de Mafra, Lisboa, Corado & Marques Roteiros e Edições Publicitárias, 1986.