Património Material
Forte de São Julião da Barra
Construída no séc. XVI em ponto estratégico para dominar a entrada da barra, constituiu um elemento dissuasor, afastando os inimigos para o largo, em geral os piratas do Norte de África.
Segundo a tradição recolhida no "Memorial Histórico, ou Colecção de Memórias sobre Oeiras", teria sido D. Manuel I que recomendara ao seu filho D. João a construção de uma fortaleza junto da Barra. Enquanto a maioria dos estudiosos se fica pela indicação da edificação no reinado de D. João III, o autor do "Memorial" indica que o início dos trabalhos se verificou a 9 de Janeiro de 1553, que corresponde na iconografia cristã ao dia de S. Julião. Apesar de não ter sido confirmada aquela data, existem contudo provas de que em 1562, as obras estavam em curso e eram dirigidas pelo arquitecto Miguel de Arruda (falecido em 1563). Outros que trabalharam nesta obra foram, nomeadamente, Filipe Terzi, Leonardo Turriano e o Capitão Fratino.
A fortaleza de início constituída por um núcleo de pequenas dimensões foi acrescentada e adaptada em épocas posteriores, em resposta ao desenvolvimento crescente da artilharia. No seu género, é uma das mais importantes construções do país, sendo de destacar o imponente revelim de vértice apontado à estrada marginal.
Pelo lado da terra, a fortaleza carecia de defesas sendo alvo de ataques em 1580, pelos espanhóis e, em 1640 pelos portugueses, acabando por se render. Para a cobertura deste lado, houve diversos projectos que não passaram à fase prática. O problema só seria remediado, provisoriamente, durante as invasões francesas, com a construção da linha fortificada de Oeiras, apoiada a Oeste pelo Forte de S. Domingos de Rana e a Leste pelo Forte de S. João das Maias, permitindo a defesa terrestre à grande fortificação marítima da barra do Tejo (não veio a ser atacada, por ter sido eficaz uma outra barreira - as Linhas de Torres).
Em 1831, durante o regime absolutista de D. Miguel, a fortaleza de S. Julião da Barra foi atacada pela esquadra francesa do Almirante Roussin, que forçou a entrada no Tejo e entrou vitoriosa no Terreiro do Paço. Apesar do ataque ter sido feito de surpresa, e não ter sido detido, a fortaleza costeira de S. Julião da Barra foi uma das poucas que conseguiu responder ao fogo francês.
As masmorras da fortaleza serviram também como cárcere militar e político (foi aqui preso e enforcado o general Gomes Freire de Andrade, em 18 de Outubro de 1817), principalmente durante o reinado miguelista, quando foi seu governador o general Joaquim Teles Jordão. Mas, já no período filipino servira como prisão, bem como na Restauração e durante o governo pombalino, ou, posteriormente, nos primeiros tempos do Estado Novo.
Após o seu apogeu, nos finais do séc. XIX, a fortaleza foi perdendo o seu valor militar vindo a ser desclassificada como fortificação militar; em 22 de Agosto de 1951 passou a servir de recepção a governantes importantes, como foi o caso do general Eisenhower e do marechal Montgomery.
CALLIXTO, Carlos Pereira, Fortificações Marítimas do Concelho de Oeiras, Câmara Municipal de Oeiras, [s.d.].
LOPES, Flávio (coord.), Património Classificado - Arquitectónico e Arqueológico - inventário, vol. II, Lisboa, IPPAR, 1993.