Património Material
Palácio do Mitelo
O Palácio de construção seiscentista, pertencente inicialmente a Dona Guiomar Nunes Coronel, foi vendido em 1672 a Manuel Francisco. Em 1737 passou para as mãos do desembargador Mitelo, que acrescentou ao primitivo núcleo um andar sobre o pátio; foram ainda restauradas dependências construídas novas salas, criados aposentos para os criados, e acrescentado um pequeno jardim; posteriormente, em 1752, construiu-se a capela do palácio com invocação à Via Sacra. A propriedade conheceu outros proprietários: Lourenço Gonçalves da Câmara Coutinho em 1771, D. Luís da Câmara em 1789, a Marquesa de Pomares em 1900 que voltou a fazer restauros nas salas do andar nobre.
A fachada principal é composta por dois corpos, tendo os extremos mais altos do que a zona central. O portal nobre é guarnecido de cantaria e coroado por tímpano. O portal da Capela também é emoldurado de cantaria e sobrepujado de tímpano contendo a representação da Paixão. O andar nobre é rasgado por uma série de janelas, sendo as centrais de sacada. Na fachada do lado da Rua da Bempostinha destacam-se os azulejos policromos do séc. XVIII, e a pequena torre sineira contígua à Capela. A fachada que dá para o Largo do Mastro tem cinco janelas de sacada com grades e varões setecentistas no primeiro andar e no andar nobre.
O interior do Palácio longe de ser o que foi no século XVIII deve o seu actual valor ao silhares de azulejo e a alguns tectos setecentistas. O átrio de empedrado à portuguesa, é guarnecido de silhares de azulejo xadrezados, tendo ao fundo um arco de sustentação de volta abatida. Dele saiem duas escadarias: a da direita, de um único lanço, conduz aos aposentos do primeiro andar; a da esquerda, de três lanços, é decorada por silhares de azulejos monócromos, setecentistas. O Salão de Baile ou de Música tem o tecto de estuque, ornamentado com relevos em tom de azul claro e caracterizado por alegorias às ciências. A Sala de Jantar é decorada por silhares de azulejo monócromos com motivos de frutos e de flores e cujo tecto é ornamentado com relevos brancos. É ainda de salientar o fogão de mármore branco do séc. XVIII. O terraço é também decorado por azulejos. A Sala da Biblioteca possui tecto apainelado de madeira, e a azulejaria mostra cenas de caça. Na cozinha há três lareiras com uma alta chaminé cónica que pode ser vista no telhado do edifício. A Capela de nave única, tem o tecto de estuque com relevos em medalhões que representam os quatro evangelistas, e o arco da Capela apresenta pedra lavrada nos capitéis. Os silhares de azulejo ilustram as cenas da Paixão. Na Sacristia podem ser vistas algumas peças de arte sacra.
FERREIRA, Fátima Cordeiro G.; CARVALHO, José Silva; PONTE, Teresa Nunes da (coord.), Guia Urbanístico e Arquitectónico de Lisboa, Lisboa, Associação dos Arquitectos Portugueses, 1987.