Património Material
Palácio de Seteais construções, terreiro vedado, jardins, terraços e Quinta
A classificação inclui jardins, terraços, quinta e conjunto de construções e terreno vedado.
Residência nobre setecentista de particular valor histórico e artístico, mandada edificar por Daniel Giedemeester, consul dos Paises Baixos em Portugal, homem de negócios detentor de avultada fortuna construida à base do comércio de diamantes e aumentada em muito pelo direito à recuperação do espólio do galeão espanhol proveniente do Perú que, em 1786, se havia afundado ao largo de Peniche.
Iniciou a construção da ala poente do atual palácio em 1783, após compra de terrenos no fim do campo de Seteais (antigo "Alardo"), como testemunha um documento anónimo datado de 1851.
Dominando a encosta da serra o edifício de dois pisos de traça neoclássica, assume-se todo ele como grandioso miradouro, tendo sido palco de numerosas festas, entre as quais a de inauguração, a 25 de julho de 1787, dia de anos de Giedemeester e que muito impressionou William Beckford.
Como construções anexas à area residencial edifica os alojamentos para o pessoal, os estábulos e um pombal. Um especial cuidado é dispensado aos jardins e pomares, onde se leva a cabo um trabalho hidráulico de captação de água para os tanques, fontes e rega.
Quanto ao nome por que é conhecida atualmente aquela que, à altura da sua construção, se denominava "Quinta da Alegria", quatro hipóteses têm levantado aqueles que se dedicam ao estudo da propriedade. Uma das possíveis origens reside nas funções agrícolas que as terras teriam, ou seja, ao cultivo de centeio, pelo que seriam referidas como "Campo dos Centeais". As outras três ligam-se à decomposição da própria palavra Seteais. Muitos afirmam ser o eco responsável pela repetição de um "ai" que se diga ao passar na estrada, sete vezes pela serra.
Uma outra lenda local associa o nome à presença mourisca na serra. Assim, após a conquista de Lisboa às tropas portuguesas comandadas por D. Afonso Henriques, em 1147, Sintra não teria oferecido qualquer resistência à chegada dos cristãos, procurando unicamente abandonar o local antes da chegada dos vindouros. Teria sido durante esta fuga que D. Mendo de Paiva, fidalgo designado para ocupar o castelo, teria surpreendido Anasir, uma princesa moura de grande formosura, que assustada soltou, pela primeira vez na sua vida um "ai". Ambos apaixonados a partir deste encontro passaram a encontrar-se regularmente no esconderijo que D. Mendo arranjou, longe das suspeitas mouras e portuguesas, e a partir de então era usual Anasir proferir com regularidade a mesma expressão. Preocupada com o facto, a ama da princesa revela ao fidalgo português que a feiticeira moura tinha, nas suas adivinhações, revelado a morte de Anasir após o seu sétimo "ai". D. Mendo, preocupado, decide então abandonar a sua amada de forma a evitar que a profecia se cumpra. Seis "ais" tinha já proferido quando, ao ser descoberta pelo seu noivo mouro, repete pela ultima vez a expressão, pelo que é então morta pelo antigo amante. Sete foram igualmente os "ais" que D. Diogo Vito de Meneses Noronha Coutinho, 5º marquês de Marialva e segundo proprietário da quinta, soltou quando, e isto a acreditar no que conta a tradição, após as obras que alí empreendeu na construção da ala nascente do palácio, lhe foi apresentado o exorbitante orçamento.
Analisando o novo edifício compreende-se como houve uma nítida preocupação em prolongar a arquitetura do primitivo corpo, mantendo o desenho neopaladiano de dois andares, onde a decoração de grinaldas alternando com a representação de panejamentos, junto à cimalha, se evidencia não tanto por sí mas pelo ritmo que imprime ao rigor do geometrismo construtivo levado a cabo pelo arquiteto José da Costa e Silva.
Curioso é o monumental arco triunfal que de desenvolve unindo as duas alas, construido em 1802, altura em que o príncipe-regente D. João VI e a princesa Carlota Joaquina aí se deslocaram a convite do marquês. Pela sua imponência assume-se como homenagem regia sendo o elemento de maior destaque o remate superior, onde o medalhão de chumbo, da autoria de Joaquim Timótheo da Costa, segundo o desenho de Francisco Leal Garcia, com a representação do soberano casal, se encontra envolvido numa coroa de louros e sobrepujado por uma esmagadora coroa real.
Bandeiras, escudos, trombetas, bocas de canhão e tambores são outros elementos testemunhadores de glórias firmadas, presentes nesta manifestação de respeito e reverência para com o rei.
Rematando a platibanda das duas alas do palácio de Seteais, espreitam os vigilantes bustos de pedra atribuidos a Francisco Leal Garcia. No interior do edifício são já as pinturas a fresco, bem no estilo de Pillement e execução provavel dos seus discípulos, que se tornam um dos principais alvos de atenção dos visitantes.
Atualmente a residência foi aproveitada para instalação de um hotel de luxo.