Património Material
Casa Nobre de Lázaro Leitão Aranha e jardins
O palácio começou a ser construído em 1734, segundo plano do arquiteto Carlos Mardel. O proprietário foi Lázaro Leitão Aranha, que anteriormente tinha sido lente da Universidade de Coimbra. Próximo do fim da vida (morreu em 1767) doou os seus bens a um parente, de nome António Rodrigues de Macedo, que passou a adotar os apelidos Leitão Aranha.
Em vida Lázaro Leitão fundou o recolhimento de Nossa Senhora dos Anjos (à Cruz da Pedra), que existiu até aos anos 60 do séc. XX. Como o proprietário faleceu em 1800 sem deixar descendentes, as recolhidas resolveram administrar o palácio, o que originou uma demanda judicial que teve como sentença a passagem do morgado para a Coroa, em 1802. A administrá-lo, com fruição da propriedade ficou Ana Máxima de Araújo e Maia, que tinha sido quem denunciara a administração abusiva das recolhidas. Nesse mesmo ano D. Rodrigo José de Menezes obteve autorização régia para tomar a casa à usufrutuária Ana Máxima, tendo aí vivido até 1807, o seu filho D. Gregório de Menezes.
Mais tarde o morgadio foi propriedade do Conde da Ega que lhe fez várias intervenções; indo à praça em 1839, foi adquirido por D. Caetana Maria Rosa. Em 1843 a propriedade transita para Manuel Joaquim da Costa e Silva. Após sucessivos possuidores, o recheio da casa foi leiloado em 1902, e em 1944, vendida metade da propriedade a Augusto José Jolly, que arrendou a outra metade do edifício que incluía os jardins.
A fachada principal é constituída por um corpo central e dois laterais.
O corpo central tem uma ordem de sete janelas, sendo as três centrais coroadas de áticas. Os corpos laterais são adornados por uma ordem de três janelas guarnecidas de varanda corrida, sobrepondo os portais de ingresso ladeados por óculos. Os dois torreões quadrangulares, com telhados acoruchados de 2 águas que coroam os corpos laterais foram construídos em 1756 e alterados no começo do séc. XX pelo arquiteto Nicolau Bigaglia.
Um corpo extremo corresponde à Capela, cuja porta é sobrepujada por um óculo gradeado, e rematada por balaustrada corrida. A fachada posterior virada para os jardins apresenta uma porta ao centro e um conjunto de seis janelas idênticas às da fachada principal.
No interior muito transformado nos últimos anos poucas são as salas que continuam a apresentar o seu aspeto primitivo, no entanto algumas delas mantêm interesse artístico. O átrio nobre mandado construir pelo Visconde de Marco nos primeiros anos do séc. XX deve o seu traço ao arquiteto Vilaça, ocupando o local da antiga cocheira. Dele sai uma pequena escadaria com corrimão de mármore, cujas paredes são revestidas a azulejos setecentistas com figuras representando os doze meses do ano. Estes azulejos não pertenciam à casa, tendo sido adquiridos em Belém e aqui colocados aquando da construção do átrio.
Interior do vestíbulo: figura em azulejos representando o mês de Abril
Entre as salas cabe destacar a Sala principal com bons silhares de azulejos setecentistas azuis e brancos com guarnições ornamentais joaninas, representando cenas de salão e encontros musicais. Possui ainda uma fonte em pedra encaixada num côncavo de parede e rematada em concha.
A Sala de Jantar tem teto apainelado, sendo revestida de silhares de azulejos setecentistas com cenas campestres e galantes. Existem ainda outras pequenas salas com teto de estuque dourado, decoradas com pinturas de Ordoñes, e revestidas de guarnições de azulejo.
A Capela possui azulejos da escola portuguesa, colocados por altura da sua construção em 1740, e que representam cenas da Paixão de Cristo, José de Arimateia e Nicodemus.
A casa foi restaurada por várias vezes ao longo dos séculos XVIII e XIX, mas nunca passaram de pequenas intervenções de manutenção, que não lhe alteraram a estrutura original nem modificaram o aspeto da fachada.
Foi só em 1936 que se realizaram grandes restauros e efetuaram-se algumas transformações orientadas pelos Arquitetos Nicolau Bigaglia, Ernest Korrodi, Vilaça e Raul Lino.
A promoção destes restauros deveu-se ao Visconde de Marco, que também recuperou a capela que se encontrava reduzida a estrebaria, reabrindo-a ao culto em 1904.
Em 1943 Augusto Lopes Jolly promoveu igualmente restauros e limpezas do palácio, incluindo um novo restauro da capela.
FERREIRA, Fátima Cordeiro G. ; CARVALHO, José Silva; PONTE, Teresa Nunes da (coord.), Guia Urbanístico e Arquitectónico de Lisboa, Lisboa, Associação dos Arquitectos Portugueses, 1987.
LAMAS, Artur, A casa-nobre de Lázaro Leitão no sitio da Junqueira, Lisboa: Imp. Lucas, 1925.