Património Material
Palácio e Quinta da Bacalhoa em Vila Fresca de Azeitão
Os primeiros proprietários do local onde se encontra a Quinta da Bacalhoa foram D. Brites e D. Fernando, irmão de D. Afonso V. Alguns anos após a morte da Infanta, em 1506, a propriedade foi adquirida por Brás de Albuquerque, filho de Afonso de Albuquerque, Vice-rei da Índia. Na Quinta, adquirida e edificada em 1528, é mais tarde construído o Palácio que sofreu diversas modificações.
Afonso Brás de Albuquerque, conhecedor e viajado filho do Vice-rei, estivera em vários países europeus, principalmente em Itália, de onde regressara em 1522, aderindo à estética italiana e divulgando-a entre nós. Considera-se o período de 1530 a 1554 (esta última data encontra-se gravada sobre o portal do terreiro) como sendo o provável para as obras efectuadas sobre a construção primitiva do palácio, a que se seguiria um outro período, até 1565, referente ao importante núcleo de azulejos renascentistas e maneiristas.
Para o historiador Reynaldo dos Santos, a traça do palácio pode dever-se ao arquitecto português Francisco de Arruda, pelas semelhanças que os cubelos da Bacalhoa têm com as guaritas cilíndricas de cúpulas hemiesféricas gomadas, da Torre de Belém, onde aquele mestre também trabalhara; ainda segundo aquele crítico, o trabalho dos medalhões da Bacalhoa, que se encontram na galeria norte, esculpidos em pedra da região, podem ser da autoria de Nicolau de Chanterene.
O palácio apresenta uma planta em L e está implantado no ângulo sudeste da quinta. Constitui com os seus jardins e loggia, um dos mais belos conjuntos da arquitectura civil da época. Encaixado no L da casa pode admirar-se um labiríntico jardim de buxos tendo por centro uma bela fonte.
No canto oposto ao palácio, encontra-se um amplo tanque junto do qual se destaca a conhecida Casa do Tanque; de grande beleza arquitectónica, é composta por três torreões equidistantes, de planta quadrada e cobertos por telhados de quatro águas, sendo ligados por duas belas galerias. O interior desta casa de prazer é decorada com azulejos maneiristas, sendo de salientar o trecho Susana e os Velhos, de 1565, baseado numa gravura de Aeneas Vico.
Podem ver-se ainda, dois pavilhões que se elevam a meio da quinta, um deles é designado por Casa das Índias devido às quatro pinturas que a decoram, alusivas aos feitos de Afonso de Albuquerque; o outro é conhecido por Casa das Pombas. A quinta tem distribuídas no seu espaço, uma série de capelas abobadadas da Via Sacra, uma vez que por aí passava a procissão do Domingo de Páscoa.
Todo o património que esta propriedade representa, foi herdado pelos sobrinhos de Afonso Brás de Albuquerque (os filhos morreram antes dele). Tendo por essa via chegado a D. Maria de Mendonça, cujo marido Jerónimo Manuel, que foi capitão-mor da armada de Goa, tinha por alcunha Bacalhau; a mulher passou a ser conhecida por Bacalhoa, passando esta alcunha para os descendentes, e mais tarde estendendo-se o nome ao palácio. Sabe-se que em 1890, foi herdada a propriedade pelo conde de Mesquitela, que a restaurou. Foi adquirida depois, por compra, pelo rei D. Carlos I. A partir de 1910, o conjunto sofreria toda uma série de compras e vendas que tiveram por desfecho a degradação quase completa do palácio. Só em 1937, D. Orlena Scoville, de origem norte-americana, teve a sensibilidade para salvar todo aquele património, reconstruindo-o criteriosamente. Veio a falecer em 1967.
Foi adquirida pela Fundação Berardo.
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ALMEIDA, José António Ferreira de (coord.), Tesouros Artísticos de Portugal, Lisboa, Selecções do Reader's Digest, 1982.
GIL, Júlio e CALVET, Nuno, Os mais belos Palácios de Portugal, Lisboa/S. Paulo, Editorial Verbo, 1992.
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