Património Material
Mosteiro de Santa Clara-a-Velha
Construção fundada no séc. XIII da qual apenas há notícias já de obras de acrescento para acolhimento de monjas clarissas, em 1286 ordenadas por D. Mor Dias.
Em 1314, o mosteiro foi reformado por iniciativa de D. Isabel de Aragão, tendo nessa altura sido o arquitecto Domingos Domingues (que tinha trabalhado no claustro do Mosteiro de Alcobaça) um dos responsáveis pela configuração que o mosteiro tem hoje em dia. Marcado por uma forte carga histórica e mítica, o mosteiro foi logo em 1331 inundado pelas águas do Mondego: começou na igreja, chegando a cobrir o túmulo mandado construir pela Rainha Santa.
No século XVII o assoreamento era de tal ordem que se decidiu construir, a meia altura da nave, um novo pavimento, entregando às águas o andar inferior. As freiras abandonaram definitivamente o convento em 1677, tendo-se mudado para o Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, e, à entrada do século XIX, a igreja estava transformada em celeiro e curral.
No interior, apresenta três naves de sete tramos, sendo a nave central coberta por por uma abóbada de berço e, as colaterais, por abóbadas de arcos cruzados. A cabeceira mostra uma capela-mor tripartida de ábside poligonal e duas laterais. De destacar ainda, o portal, a rosácea da fachada ocidental e a arcaria das naves.
A igreja esteve em parte escondida por cerca de quatro metros de lodo consolidado a que se somam cinco metros de água quando, em 1976, foi adquirida pelo Estado.
Na primeira fase da obra, que teve início em 1995, foi consolidada a estrutura, renovada a cobertura e limpas as pedras do edifício.
Na segunda fase, procedeu-se à limpeza dos cerca de 2400 metros cúbicos de lodo consolidado, acumulado no interior da igreja, através de avançados meios tecnológicos, que incluem a utilização de máquinas vibradoras para proceder à desagregação do lodo e a sua remoção através de um método de aspiração. Todo este processo foi acompanhado por um arqueólogo que avaliou o espólio arqueológico, e por um mergulhador. A água permanece no interior do monumento de modo a que graças ao sistema de iluminação se aprecie a parte submersa da igreja. O projecto, da equipa do arquitecto João Rapagão inclui o percurso exterior à igreja, do lado Sul, e o acesso interior garantido por um passadiço metálico revestido a lajetas de pedra, o mesmo material do pavimento instalado a meia altura da nave.
A importância dos achados arqueológicos tornou esta campanha de recuperação numa referência de Arqueologia Medieval.
in Diário de Notícias - 17 de Dezembro de 2008 - texto de Davide Pinheiro
Depois de 17 anos de recuperação, o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, em Coimbra, abre hoje parcialmente ao público. O edifício foi requalificado, num projecto avaliado em 7,5 milhões de euros, e conta agora com um centro interpretativo que acolhe "a história do sítio", revelou à Lusa o coordenador da intervenção Artur Côrte-Real. "Para além do olhar sobre a beleza plástica do monumento, queremos que os visitantes conheçam este universo riquíssimo associado a Isabel de Aragão e a Inês de Castro", acrescentou também o arqueólogo.
Este novo centro consiste num edifício de mil metros quadrados, com funções museológicas, dotado de um auditório, salas de exposições, uma loja e uma cafetaria.
Obras de recuperação: de iniciativa do IPPAR, foi desenvolvido segundo o projecto da equipa do arquitecto João Rapagão.
ALMEIDA, José António Ferreira de (coord.), Tesouros Artísticos de Portugal, Lisboa, Selecções do Reader's Digest, 1982.
LOPES, Flávio (coord.), Património Classificado - Arquitectónico e Arqueológico - inventário, vol. I, Lisboa, IPPAR, 1993.