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Património Material

Mosteiro de Jesus

Distrito: Setúbal
Concelho: Setúbal

Tipo de Património
Património Material
Classificação
Monumento Nacional
Proteção Jurídica
Decreto de 16-6-1910; Decreto nº 23008 de 30-8-1933; Z.E.P., D.G., 2ª Série, nº 137 de 15-6-1946; Boletim nº 47, da D.G.E.M.N..
Identificação Patrimonial
Conjunto
Época(s) Dominante(s)
Moderna (Séc. XV a XVIII)
Tipologia original
Arquitectura Religiosa - Conventual/Monástica
Valor patrimonial
Valor Artístico, Valor Histórico
Estilo(s)
Gótico, Manuelino
Áreas Artísticas
Arquitectura Religiosa, Azulejaria, Mobiliário, Pintura, Talha
Uso atual
Religiosa: Igreja / Cultural: Convento - Museu de Setúbal
Proprietário/Instituições responsáveis
Estatal
Descrição

A classificação refere-se à Igreja, Claustro e Casa do Capítulo. É o mais notável monumento da cidade e representa um dos marcos iniciais da arquitetura manuelina.

Foi iniciada em finais de quatrocentos, por voto de Justa Rodrigues Pereira, ama de D. Manuel I, sob a direção de Mestre Diogo Boitaca (autor de uma primeira fase da obra, visto que só foi terminada no tempo de D. João III). Construído em terreno denominado Sapal de Troino, doado a Álvaro Dias por D. Afonso V, em 1444, que por sua vez o deixou à Confraria de Nossa Senhora da Anunciada em 1467, tendo sido depois vendido à fundadora do mosteiro a pedido da rainha D. Leonor, em 1488. A autorização para a fundação do mosteiro foi concedida pelo papa Inocêncio VIII, a 15 de junho de 1489, sendo o consentimento régio dado em 16 de maio de 1490, por D. João II; foi lançada a primeira pedra em 17 de agosto desse mesmo ano. Em 1491, o projeto foi alargado por vontade daquele rei que achou o primeiro plano de reduzidas dimensões e pouco engrandecido. Em 1496, é oferecido por D. Manuel I um grande sino para o campanário, sino esse que ostenta uma inscrição com o título deste rei. Nesse ano dão entrada as sete primeiras freiras, trazidas de Gandía (Espanha) pela fundadora do mosteiro e as sete primeiras noviças, o que permite deduzir que a igreja já se encontraria concluída nessa altura.

Seguiu o monumento um esquema em que a igreja se orienta de nascente a poente, o claustro a Norte, e sobre as restantes galerias, as divisões conventuais que serviam as monjas franciscanas capuchas, sujeitas à Regra de Santa Clara. A igreja-salão apresenta os tetos de cantaria das três naves a níveis diferentes, sem contudo deixar de formar o corpo da igreja uma unidade espacial. A entrada na igreja faz-se pelo portal Sul, já nada restando do portal axial a poente. Destaque nas naves laterais para as abóbadas artesoadas de meio berço, assentes em colunas espiraladas (fustes formados por toros helicoidais). As paredes mostram revestimento de azulejos polícromos seiscentistas com representações da vida de Nossa Senhora.

Merece atenção o trabalho complexo da capela-mor, cuja base retangular, passa a octogonal, possuindo um arco triunfal de decoração manuelina, tudo em pedra da Arrábida; os muros são cobertos por azulejaria (verde e branco) sevilhana quinhentista, dos tipos corda seca e aresta. A capela-mor divide-se em duas zonas: uma mais ampla que serve o coro baixo e outra, mais elevada, onde se insere o altar de talha dourada, tendo num dos topos uma escada e no lado oposto uma pequena porta que dá acesso à cripta que foi destinada D. João Manuel, filho da fundadora do mosteiro. Nesta capela funerária podem ver-se belos azulejos quinhentistas. Ligada à capela-mor está a sacristia, também com excelentes azulejos quinhentistas, onde se denota a inspiração islâmica; pode aí admirar-se um lavabo encimado por arco manuelino. Junto fica a Casa do Capítulo reconstruída durante o tempo dos Filipes; no pavimento desta ala jazem os restos mortais da fundadora do mosteiro. No topo Oeste da igreja, prolonga-se a estrutura das três naves escondidas por uma parede onde se rasgam janelas gradeadas do coro alto (transformado em sala-museu de arte sacra). Aproveitou-se o espaço que fica debaixo do coro para batistério, ao qual se tem acesso por um amplo arco de volta redonda, inscrito num muro de cantaria.

No exterior, a fachada Sul, apresenta-se com contrafortes que são rematados por pináculos cónicos onde se inscrevem gárgulas, correndo ao longo da fachada uma rendilhada platibanda manuelina. O portal neste alçado, tem arquivoltas apontadas, com dois baldaquinos de cada lado (sem estátuas) e entre dois salientes contrafortes; numa das faces da cabeceira octogonal, inscreve-se um belo janelão de inspiração gótica-manuelina, outrora revestido de belos vitrais. O Claustro foi em grande parte danificado pelo terramoto de 1755, tendo sido reconstruído. Manteve a arcaria com arcos de volta inteira e outros de lideiro ponto; ao centro, possui uma harmoniosa fonte.

Merece destaque, ainda, o antigo Retábulo da Igreja, composto por catorze tábuas (pinturas a óleo sobre madeira de carvalho, de grandes dimensões) da Escola Portuguesa considerado um dos mais notáveis conjuntos da arte do Renascimento em Portugal. Foi encomendado pela rainha D. Leonor, viúva de D. João II e irmã de D. Manuel, tendo sido executado provavelmente, entre 1519 e 1530, pela oficina de Lisboa de Jorge Afonso onde trabalharam, por exemplo, Gregório Lopes, Cristóvão de Figueiredo e Gaspar Vaz. O Retábulo tem representadas três histórias ou séries, no sentido iconográfico: Cenas da Paixão de Cristo, na parte superior do conjunto, «Verónica», «Crucificação», «Deposição», «Ressurreição»; com o «Calvário» ao centro (tábua de maiores dimensões); por baixo, a série representativa da Infância de Jesus ou das Alegrias da Virgem, «Presépio», «Adoração dos Magos», «Apresentação do Menino no Templo», tendo como painel central a «Assunção» (tábua de dimensões semelhantes das do «Calvário»); por fim, formando como que uma predela, a série dos Santos Franciscanos, «Estigmatização de S. Francisco», «Mártires de Marrocos», «Aparição do Anjo a Santa Clara, Santa Inês e Santa Coleta» e a tríade «S. Boaventura», «Santo António» e «S. Bernardino de Siena».

O convento de Jesus foi extinto em 1890, passando então a servir de Hospital até 1959; guarda desde 1961, os principais tesouros da Cidade de Setúbal, sob a designação de Museu de Setúbal.

Em junho de 2013, o Mosteiro de Jesus é o primeiro bem português a ser inscrito na lista dos sete monumentos mais ameaçados da Europa.
O estado de degradação a que chegou e a falta de financiamento para o restauro levaram a organização internacional “Europa Nostra” a inscrever este monumento nacional na sua carta de risco. A “Europa Nostra” é a principal organização europeia do património, representada em Portugal pelo Centro Nacional de Cultura, em conjunto com o Instituto do Banco Europeu de Investimento.

Património em perigo
Inscrito na lista dos 7 Monumentos mais ameaçados da Europa (Europa Nostra)
Intervenções e Restauros

- Obras no século XVI

Entre 1557 e 1562, D. Sebastião manda edificar a casa de antecoro, com belas pinturas no teto, referentes à Ordem, e uma capela junto. Em 1582, por ocasião da sua visita ao mosteiro, Filipe II dá indicações para que a Casa do Capítulo e a Sacristia recebessem obras de recuperação, a cargo do mestre António Rodrigues, devido aos danos sofridos por incêndio. Na sequência desta ação, a Sala do Capítulo apresenta desde então, a fisionomia atual, com um pórtico de duas entradas. No ano de 1587, Filipe II manda recuperar e decorar a Casa do Coro, que se encontrava em bastante mau estado. Por volta de 1590, é o refeitório sujeito a reparações, as paredes interiores são forradas por azulejaria e o teto é pintado com figuras alusivas aos santos da Ordem. É ainda, durante o período filipino, que se efetua a remodelação dos retábulos, de acordo com as orientações do Concílio de Trento. Nessa conformidade foi repintado o painel do "Calvário", pondo Nossa Senhora de pé e ocultando a representação do desfalecimento da mesma; só próximo de meados do nosso século, se detetou a alteração (por meio de radiografias), repondo-se o que estava tapado.

- Obras no século XVII

Em 1602-1603, realizam-se obras no Claustro, de que resulta o seu lajeamento e a construção de uma fonte ao centro. No corpo da igreja, em 1605-1606, são reparadas as paredes e forradas as mesmas, interiormente, com azulejaria azul e branca, sendo igualmente as paredes da capela-mor, revestidas por azulejos daquele tipo, em 1614-1617. Ainda neste último ano, são abertas onze janelas nas galerias superiores do Claustro. No Coro, em 1628, são construídas duas belas capelas ladeando a porta principal. Entre 1640-1643, revestem-se com azulejos de "tapete", as paredes do Coro Alto.

- Obras no século XVIII

É decomposto o Retábulo de Pintura do séc. XVI, as respetivas pinturas são colocadas no nível superior das paredes da Igreja, sendo em sua substituição colocado um outro altar de talha, mandado dourar em 1731. O Coro Alto volta a ser alvo de obras em 1750, por motivo de degradação avançada, sendo então reparadas as paredes e teto. Após o terramoto de 1755, processam-se diversas obras que se centraram nos telhados, tetos e paredes do edifício. Em 1781, é feita a substituição da azulejaria que forrava as paredes das naves da Igreja, por outra, formada por painéis onde se retrata a Ladaínha da Virgem.

- Obras no século XIX e XX

Um novo terramoto, ocorrido em 1858, requer novos trabalhos, financiados pelo rei D. Pedro V, por ocasião da sua visita afim de comemorar a elevação de Setúbal a cidade. Nos finais de oitocentos, em 1889, é instalado o Hospital e, para o efeito, são construídas em 1892, novas e amplas salas e um novo acesso ao edifício. Uma nova enfermaria é edificada na parte setentrional, no ano de 1920, sendo uma outra construída, em 1940; o Hospital deixaria de funcionar aí, a partir de 1959, transferindo-se para novas instalações. O antigo Retábulo da Igreja, composto por catorze tábuas da Escola Portuguesa, foi restaurado em 1939-1940. No ano seguinte, é iniciado o restauro da Igreja e Claustro. A adaptação de algumas dependências do edifício, afim de se instalar o Museu, é iniciado em 1960, com a inauguração de algumas exposições; a abertura oficial é efetuada no ano seguinte, a 5 de fevereiro. Em 1989, dão-se início às obras de recuperação do monumento sob a égide do I.P.P.C. e da Câmara Municipal de Setúbal. De referir ainda, que nos anos de 1970-71, foram realizadas escavações arqueológicas em salas do Museu no r/c e no lavabo, e em 1989, realizaram-se outras, junto à Igreja e no Largo de Jesus.

Modo de funcionamento

Museu de Setúbal
Morada: Rua do Balneário Dr. Paula Borba
Horário: Terça-feira a Sábado: 9h00 – 12h00 e 13h30 – 17h30
Encerrado ao Domingo, Segundas e Feriados

Morada
Rua Acácio Barradas, 2
2909-883
Setúbal
Telefone
265 520 964
Fonte de informação
CNC / Patrimatic
Bibliografia

DUARTE, Ana e ABREU, Maurício, Igrejas e Capelas da Costa Azul, Setúbal, Região de Turismo da Costa Azul, 1993.

GIL, Júlio e CALVET, Nuno, As mais belas Igrejas de Portugal, vol. II, Lisboa/S. Paulo, Editorial Verbo, 1989.

LOPES, Flávio (coord.), Património Classificado - Arquitectónico e Arqueológico - inventário, vol. III, Lisboa, IPPAR, 1993.

PEREIRA, Fernando António Baptista, "Retábulo da Igreja de Jesus de Setúbal. O Retábulo de Jesus e a Pintura Portuguesa do Séc. XVI", Oceanos, 2, Out. 1989.

ROTEIRO CULTURAL DA CIDADE DE SETÚBAL - SETÚBAL CULTURAL, Setúbal, Câmara Municipal de Setúbal, 1994.

SILVA, Carlos Tavares da e PEREIRA, Fernando António Baptista, Convento de Jesus. 500 anos. Arqueologia e História, Setúbal, Câmara Municipal de Setúbal, 1989.

TESOUROS ARTÍSTICOS DE PORTUGAL, Lisboa, Selecções do Reader's Digest, 1982.

Data de atualização
23/10/2013
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