Património Material
Conjunto do Palácio das Necessidades
O Palácio das Necessidades foi a única residência real que resistiu ao Terramoto de 1775, ocupando o lugar onde estava a antiga ermida de Nossa Senhora das Necessidades, construída em 1607. A ermida foi edificada para albergar a imagem da Senhora da Saúde a que os marinheiros da carreira da Índia eram devotos, tendo sido ampliada e decorada a azulejos em 1613. Mais tarde, D. João IV comprou as casas ligadas à ermida, tornando-as em sua residência. Em 1659 adquiriu assento na ermida e mandou erguer a capela-mor e uma capela interior. Por sua vez, D. João V em 1742 comprou outros terrenos em volta para que pudesse ampliar a ermida e construir um palácio para si, decidindo construir também o Convento de São Filipe Néri e um hospício. O projeto, da responsabilidade do arquiteto Caetano Tomás de Sousa, incluía um chafariz diante da fachada sul do palácio.
No reinado de D. José o conjunto das Necessidades passou a funcionar como residência dos príncipes estrangeiros de visita a Lisboa. Com a expulsão das ordens religiosas de Portugal em 1834, o convento foi anexado pelo palácio real, instalando-se pouco tempo depois a Academia Real das Ciências. A partir de 1874 tornou a ser habitado pela Família Real para aí se instalar em 1916 o Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Isolado da malha urbana, o palácio implanta-se no largo onde está o monumental chafariz constituído por grande bloco calcário quadrilobado em cujo centro se ergue um obelisco de mármore com quatro carrancas. A planta é complexa, porém podem-se destinguir dois pátios quadrangulares em torno dos quais se organizam alas retangulares, resultando um conjunto de volumes paralelepipédicos escalonados, com cobertura em telhados de duas águas articulados nos ângulos. O alçado a sul é constituído por três corpos delimitados por pilastras, nos quais se contam 24 janelas de peito no piso térreo e igual número de vãos de sacada no andar nobre. Do conjunto destaca-se a frontaria da capela que avança em relação ao plano da fachada da Igreja. O interior do templo é precedido de galilé, sendo a porta encimada por um relevo de mármore representando Nossa Senhora das Necessidades e flanqueada por dois nichos albergando estátuas em pedra de São Paulo e São Pedro. Sobre a galilé há um terraço delimitado por balaustrada. O segundo registo da fachada da Igreja apresenta dois nichos com estátuas figurando São Filipe Néri e São Francisco de Sales. A torre barroca de secção quadrada, ostenta quatro ventanas sineiras e é adornada com fogaréus nos remates dos prumos angulares.
Transpondo o arco de cantaria do segundo corpo da fachada principal chega-se ao Pátio Central ou das Palmeiras, de planta quadrada para o qual se abrem as faces interiores das alas do palácio. Nas faces rasgam-se 8 janelas no piso nobre, exeptuando o lado norte onde se encontram apenas 4 janelas, e em cujo piso térreo se abrem 3 arcos de acesso a um corredor, de onde partem escadarias em dois lanços quebrados e muros decorados com painéis de estuque, que conduzem à galeria. Dela observam-se 3 arcadas assentes em colunas de madeira dourada, quatrigeminadas, com fustes canelados e capitéis dóricos.
No interior destaca-se a Sala dos Embaixadores (antiga Sala de Jantar), cujo teto é decorado por pintura de temática vegetalista, e o Salão de Jantar com tribuna para orquestra assente em 8 colunas ornadas com grupos escultóricos alegóricos e emblemas heráldicos reais. A Antecâmara Amarela e Sala dos Secretários são decoradas com estuques relevados e dourados. O Gabinete do Ministro (antigo quarto da Rainha) possui portas com emolduramento de mármore rosa e teto de estuques relevados patinados a ouro. A Sala de Espera (antiga Sala dos Sofás Verdes) tem decoração mural que simula mármore verde. A Sala de Bilhar encontra-se ornamentada com pinturas neo-pompeianas. A Sala do Trono exibe teto de caixotões com estuques e pinturas ornamentais a óleo e a Sala do Protocolo (antigo quarto de D. Carlos) apresenta revestimento em talha, em madeira de carvalho, ao gosto neo-renascença. Merecem ainda destaque a Galeria da antiga Biblioteca Real, a Sala de Trabalho e a Biblioteca, decoradas com madeiras exóticas entalhadas, observando-se na Biblioteca a talha proveniente da demolida Sala dos Reis do Mosteiro de Santa Maria de Belém e que Leandro Braga adaptou a esta divisão do palácio.
GUIA LARANJA, Lisboa e Costa de Lisboa, Lisboa, Convergência, 1985.
LOPES, Flávio (coord.), Património Classificado - Arquitectónico e Arqueológico - inventário, vol. II, Lisboa, IPPAR, 1993.
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