Património Material
Coliseu dos Recreios e edifício da Sociedade de Geografia
O Coliseu dos Recreios
Após a demolição do Circo Price no âmbito da construção da Avenida da Liberdade, Lisboa ficou desprovida de uma sala digna de grandes espetáculos.
Imbuídos de espírito nacionalista, um grupo de artistas fundou a Sociedade dos Recreios Lisbonenses em 1887. O seu principal mentor foi Whitoyne (um palhaço do Circo Whitoyne), que muito contribuiu para o desenvolvimento da arte circense, e para o projeto de construção de um edifício monumental, onde se pudessem apresentar as artes do espetáculo. Os terrenos escolhidos para a edificação do Coliseu, situados na Rua das Portas de Santo Antão, eram terrenos incultos entre a Igreja de Santo Antão e outros prédios, e o processo de aquisição dos mesmos, problemático, fez adiar as obras até 1890.
O projeto foi entregue a dois arquitetos franceses: Goulard e Bauer, (Goulard faleceu antes da conclusão do projeto, e foi substituído pelo filho).
O Coliseu foi inaugurado a 14 de agosto de 1890, ainda antes de a fachada estar concluída.
No seu aspeto arquitetónico salienta-se o telhado de ferro, bem como a cúpula também em ferro, com cerca de 25m de raio. Em 1992 modernizaram-se infraestruturas, equipamentos técnicos, cénicos, acústicos e de segurança, respeitando as características fundamentais desta sala de espetáculos. Porém, o velho palco de madeira foi demolido para dar lugar a uma de estrutura em betão armado, dotado de sub-palco e fosso de orquestra. O lustre que foi instalado no centro da cobertura metálica, é constituído por uma esfera de 3,5m de diâmetro com doze pequenos satélites, e é sustentado por uma estrutura que também serve de apoio a instrumentos de iluminação da sala. A plateia também foi renovada, tornando-a adaptável a espetáculos circenses. Para melhorar o som, iluminação e legendagem foram instaladas novas "régies" ao longo do corredor que envolve o topo da bancada geral. A atual decoração fez alterar o seu antigo ambiente, tendo sido concebida pela equipa do arquiteto Maurício de Vasconcellos e o mobiliário ficou a cargo do prof. Daciano da Costa.
Foi alvo de grande renovação na década de 90 do séc. XX, tendo terminado em 1994.
A Sociedade de Geografia de Lisboa
Foi fundada em 1875, tendo tido várias sedes antes de se fixar na Rua das Portas de Santo Antão, anexa ao Coliseu dos Recreios. O edifício foi construído em 1897 pelo arquiteto José Luís Monteiro.
Constituída por três andares, encontramos no primeiro piso o vestíbulo e o bar-restaurante. No segundo andar destaca-se a Sala de Lisboa onde funciona a Biblioteca, contendo inúmeros volumes, cartas cartográficas e plantas geográficas. Preciosos são também os manuscritos da casa Vidigueira, os desenhos do pintor George Chinnery e o atlas do visconde de Santarém. A Sala de Portugal, situada no terceiro piso é um enorme salão com dois andares de galerias sustentadas por estruturas metálicas com pilares e capitéis classicizantes. O acesso às galerias é feito por escadarias de ferro fundido. É nesta bela sala, testemunha da arquitetura de ferro dos finais do séc. XIX, que decorrem as reuniões da Sociedade de Geografia.
No interior do edifício foi criado o Museu Colonial e Etnográfico contendo peças que evidenciam a presença portuguesa nos vários continentes. As restantes salas são decoradas com estátuas dos escultores Simões de Almeida e Victor Bastos representando Vasco da Gama, Infante D. Henrique, Luís de Camões, Pedro Nunes, Azurara e Corte Real, e retratos a óleo de Luciano Cordeiro (um dos fundadores da Sociedade de Geografia) da autoria de Malhoa.
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Sala Portugal
DIÁRIO DA REPÚBLICA, I Série B- Nº 56 de 06-03-1996
FERREIRA, Fátima Cordeiro G.; CARVALHO, José Silva ; PONTE, Teresa Nunes da (coord.), Guia Urbanístico e Arquitectónico de Lisboa , Lisboa, Associação dos Arquitectos Portugueses, 1997.
SANTANA, Francisco e SUCENA, Eduardo (dir.), Dicionário da História de Lisboa, Lisboa, Carlos Quintas & Associados - consultores, Lda., 1994.