Património Material
Castelo de Avô
Em Avô podemos encontrar alguns achados arqueológicos que nos permitem aquilatar da sua importância ao longo dos séculos. Neste núcleo cultural e suas cercanias descobriram-se e descobrem-se testemunhos da permanência de povos e culturas diversas, as quais, certificam a importância desta vila ao longo dos tempos.
Da Pré-história existem duas réplicas de machado de Talão (Idade do Bronze). São marcos da presença romana, os vestígios de antigas conheiras auríferas no rio Alva e os troços da antiga Via Imperial romana que ligava Olissipo / Comínbriga / Bobadela / Guarda / Salamanca, construída pela V Legião Romana. Existem três troços em relativo bom estado de conservação: um prolonga-se do caminho do Mosteiro, freguesia de Avô, até à freguesia de Aldeia das Dez; outro, liga Avô a Bobadela por Vila Pouca da Beira e Lourosa (caminho da Barranha até ao caminho da Cruz de Pedra), e um terceiro troço, encontra-se a oeste de Avô, uns metros antes da capela de S. Pedro.
A subsistência de algumas estelas, antigas cabeceiras de sepultura (uma à ilharga da capela de Sta. Quitéria e um conjunto na capela de S. Miguel – junto à muralha do castelo –, assim como a existência de uma sepultura escavada na rocha junto à capela do Mosteiro, evidenciam a passagem de alguns povos, nomeadamente do tempo dos romanos ou mesmo dos visigodos.
No século XI, durante a Reconquista Cristã, Avô foi estabelecida em por D. Fernando de Castela que em 1059 e manda povoar e entregando-a ao conde D. Sisnando.
O aglomerado populacional atual deverá ser coetâneo à nacionalidade.
O topónimo "Avô", para alguns autores, terá surgido da passagem "a vau" (ad Vadum) da embocadura do rio Moura, hoje conhecido por ribeira de Pomares.
Durante a governação de D. Afonso Henriques, Avô era já couto da coroa, doado pelo rei a sua filha bastarda, D. Urraca Afonso, mulher de Pedro Viegas, filho do famigerado Egas Moniz.
O primeiro foral de Avô foi concedido por D. Sancho I em 1187, tendo o mesmo cedido o senhorio de Aveiro a sua irmã D. Urraca, cujo castelo destinou a D. Pedro Soares. O foral de D. Sancho I concedeu o estatuto de liberdade aos homens de Avô: O homem de Avô não seja, senão por expressa vontade, mordomo ou serviçal. O homem de Avô que quiser vender a sua herdade, vende-a tal homem que faça dela seu foro e do preço dê a dizima do palácio. E, a carta do foral viçava a liberdade...quem quer que, observar este nosso feito seja bendito. Quem o infringir será maldito.
No reinado de D. Sancho I o castelo de Avô é destruído, devido a desentendimentos entre D. Sancho I e D. Pedro Soares (Alcaide-mor do castelo de Avô), reconstruído mais tarde no reinado de D. Afonso II.
Em 1240, D. Sancho II faz nova doação do couto de Avô ao bispo de Coimbra, D. Tibúrcio. Nesta vigência régia assiste-se a nova degradação do castelo, devido, sobretudo, à guerra civil entre partidários de rei D Sancho II e defensores de D. Afonso III, dos quais se destacava o Bispo de Coimbra.
Decorridos alguns anos, o Rei D. Dinis manda reconstruir o castelo, substituindo as atuais carateristicas do espaço militar Dionísio, tais como: a configuração oval da cerca, em polígono irregular, acessibilidade por portal de arco quebrado e a incorporação da torre de menagem na muralha no ângulo sul da fortificação. A partir deste reinado o castelo acompanhou o círculo normal da paz existente no País sofrendo as vicissitudes dos homens e do tempo, acabando por arruinar-se com o passar dos anos.
Em 12 de Setembro de 1514, D. Manuel I concede novo foral à povoação. O concelho de Avô surge no século XVI. A testemunhá-lo, encontramos o pelourinho Manuelino, erigido na praça onde funcionou a antiga Casa da Câmara, o Tribunal e cadeia da Comarca, como, de igual modo, um conjunto de portados Manuelinos.
Em 1595, nasce em Avô o poeta guerreiro Brás Garcia de Mascarenhas notabilizando-se nas guerras da restauração da independência (na celebre companhia dos Leões da Beira) e como autor da obra Viriato Trágico.
Em 1775 Avô era importante sede do concelho. Segundo as informações paroquiais, disponha de juiz ordinário, quatro vereadores, procurador, dois escrivães do público (nomeados pelo corregedor da comarca da Guarda) e um juiz de órfãos, provido pela coroa).
Cessadas as guerras, a vila de Avô cresce em população, densificando a malha urbana. A grande maioria da população dedicava-se à agricultura, porém existiam outras profissões importantes para a economia Avoense, tais como: alfaiates, ferreiros carpinteiros e pedreiros.
Remontando a 1811, durante as Guerras Peninsulares ou Invasões Francesas, o exército francês, ao avançar sobre Lisboa, pretendeu atravessar a ponte sobre o rio Alva e destruir a localidade. O povo uniu-se e 50 fuzileiros, chefiados por Francisco da Costa Mesquita, debandaram 3000 franceses. Com a Revolução Liberal de 1820 e as reformas jurídico-administrativas que lhe sucederam, o município de Avô é extinto em 24 de Outubro de 1855.
Em 1911, após implantação da República, ocorreu um episódio singular no território Português, ficando conhecido na história como a Monarquia de Avô. Ao correr o boato que a República fora derrubada, um grupo de monárquicos convitos içaram a Bandeira azul e branca nos antigos Paços do Concelho. A euforia durou apenas dois dias, dado que a força de infantaria rapidamente destronou a revolta e prendeu os revoltosos.
Atualmente, e concernente à herança patrimonial Avoense, salientam-se: as pontes supramencionadas, o castelo (mais propriamente o arranque das muralhas e o portal ameado da entrada); a antiga capela de S. Miguel, adjacente ao castelo (esta, deixou há muito tempo de servir ao culto, sendo usada, actualmente, como repositório de achados arqueológicos, nomeadamente estelas, vasos e outros utensílios) e mais cinco construções com vocação religiosa: três localizadas no centro histórico – Igreja Matriz (séculos XVI, XVIII – dedicada ao culto de N. Sra. da Assunção) e as capelas de N. Sra. dos Anjos – erigida em meados do século XVIII – e de Sta. Quitéria (com belo portal quinhentista, encimado por um óculo tetralobado e notável cruzeiro de pedra. Nos arrabaldes, mais duas capelas: as de S. Pedro (situada em local ermo, a sensivelmente meia distância entre Avô e Anseriz) e do Mosteiro beneditino. De memória escrita recordamos as Capelas de Sto. António, Sto. Antão e S. Brás, já desaparecidas.
Como exemplo de edifícios notáveis, destacamos: as residências dos ilustres escritores Brás Garcia de Mascarenhas e Dr. Vasco Campos (Av. Brás Garcia de Mascarenhas e rua da Couraça, respetivamente); o solar Soares de Albergaria e algumas construções vernaculares, como a antiga casa da Câmara; e a actual sede da Junta de Freguesia. O sempre bem-vindo visitante poderá saciar a sede nos fontanários da Sra. das Neves e/ou de Sto. António (de igual modo denominada de Cantante), ou então mergulhar nas águas do rio Alva e secar-se ao sol no areal da praia fluvial da Ilha do Picoto.
in "Avô, Do Rio Alva Princesa". Edição do Município de Oliveira do Hospital. Depósito Legal 276752/08