Património Material
Palácio da Quinta do Relógio
Palácio oitocentista da autoria do arquitecto António Manuel da Fonseca Júnior, evidenciando forte influência árabe no uso sistemático de arcos em ferradura, nos capiteis lavrados com motivos vegetalistas estilizados e no geometrismo decorativo acentuado, bem como no recurso à própria escrita árabe. É um revivalismo tipico da arquitectura do século XIX. Foi propriedade dos marqueses de Borba e mais tarde de Manuel Pinto da Fonseca, mais conhecido por"Monte Cristo", tendo este feito a sua fortuna às custas do tráfico de negros e talvez por esse motivo conste que D. Pedro V se recusou a entrar na quinta após lhe ter sido dirigido convite de visita à mesma. Conta-se ainda que, ao passar a entrada do Relógio, terá comentado com seu amigo marquês de Sá da Bandeira, a propósito do barulho de água que se ouvia: "...é o sangue dos negros flagelados pelo chicote que este homem transformou em ouro". A fama do palácio advém do facto de ter sido o local escolhido para a lua de mel do rei D. Carlos I e D. M.ª Amélia de Orleans, após celebração do casamento em 22 de Maio de 1886. Ainda hoje se comenta ser usual o fantasma da rainha ser encontrado a vaguear pelos jardins e sua imagem se reflectir na água dos lagos aí existentes. Centrando a atenção no edifício observa-se a sua estruturação em três corpos, sendo o do meio de maior altura e, em grande parte, preenchido por uma galeria rasgada por três arcos em ferrradura, arcos estes que se repetem em todas as janelas da casa. Toda a fachada se encontra pintada com bandas horizontais rosa e brancas, marca nitidamente arabizante. Dentro dos limites da quinta desenvolvem-se varias espécies botânicas exóticas, mas a que maior fama deu a este espaço encontra-se já no exterior do gradeamento: é uma sobreira secular onde crescem inúmeros fetos que se misturam harmoniosamente com as folhas da árvore, por isso é usualmente conhecida por "Sobreira dos Fetos" e sobre ela o poeta inglês Robert Southey escreveu em carta a um amigo: " ha então aqui uma árvore, tão grande e tão velha, que um pintor deveria vir de Inglaterra só para a ver.Os troncos e os ramos são cobertos por fetos , formando a folhagem escura da árvore o mais pitoresco contraste" ( citado por José Alfredo da Costa Azevedo, "Velharias de Sintra"). A própria rainha teria dito sobre a mesma: " vale mais a Sobreira dos Fetos do que Cascais e Estoris, tudo junto", o que lhe teria valido a alcunha de "Cabra da Serra", atribuida pelas gentes locais despeitadas.