Património Imaterial
Romaria de S. Bento do Cando

A Romaria de S. Bento do Cando tem o seu centro geográfico na “branda” de S. Bento do Cando, num ponto alto do Parque Nacional Peneda Gerês (PNPG), pertencente à freguesia serrana da Gavieira, concelho de Arcos de Valdevez. Esta manifestação integra as festividades cíclicas que decorrem anualmente no Alto Minho, principalmente as que se celebram em contextos de montanha, nos lugares associados a assentamentos humanos oriundos da prática de pastoreio.
Carateriza-se como uma celebração religiosa católica de culto a um santo padroeiro, neste caso S. Bento, profundamente marcada pelas caraterísticas do espaço, lugar de montanha, e pelas práticas sociais da comunidade local, enraizada nos usos e costumes, com vivências definidas pela ruralidade.
Remonta, provavelmente, à segunda metade do século XVII, pois a capela de S. Bento foi mandada edificar em 1651. A romaria realiza-se em três momentos: a 21 de março, dia em que se lembra a morte de S. Bento; entre os dias 3 e 11 de julho; e um terceiro momento festivo, introduzido em 1997 pelo padre Manuel Domingues para dar resposta aos anseios dos emigrantes, decorre nos dias 9 e 10 de agosto.
Na segunda romaria, que dura nove dias, as populações dos concelhos de Melgaço, Monção e Arcos de Valdevez deslocam-se à “branda” de S. Bento do Cando para cumprir a novena, a meia novena, pagar promessas ou pedir proteção e saúde. Esta é a festa principal, aquela em que mais investem para se encontrarem e falarem de perto com “S. Bentinho” ou “o Senhor S. Bento”.
Uma característica desta romaria, comum a outras festas religiosas de montanha (em locais isolados das povoações), é a de existirem habitações na “branda” do Cando, nas imediações do Terreiro da Capela, destinadas à permanência dos romeiros. A essas habitações é dado o nome de “quartéis”.
A 10 de julho decorre a feira de gado e celebram-se duas missas. À noite, grupos de tocadores de concertina e cantadores ao desafio juntam-se ao redor da capela. É a oportunidade para os cantos e danças, com recurso a instrumentos como a concertina, o bombo, os ferrinhos, os cavaquinhos, reque-reques, castanholas, entre outros.
Na manhã de 11 de julho, o dia principal, os romeiros dirigem-se à Casa da Mesa Administrativa para pagar as suas promessas e rezar. Com o rosário na mão circundam a capela, dando nove ou mais voltas, sempre em sentido contrário ao dos ponteiros do relógio. A missa é campal e no sermão tecem-se considerações sobre a biografia de S. Bento e os milagres por ele operados. No final organiza-se a procissão.
Uma outra característica desta romaria, destacada pelas populações serranas que a frequentam, é o costume de se fazer a viagem a pé, pelos caminhos e carreiros da serra, o qual foi sendo transmitido de geração em geração. Muitos são ainda hoje os romeiros que percorrem os caminhos da serra a pé ou a cavalo.
No que respeita à organização oficial, cabe à Mesa Administrativa de S. Bento do Cando, responsável por todos os eventos relacionados com a componente religiosa e profana da Romaria, em articulação com a Câmara Municipal de Arcos de Valdevez, bandas filarmónicas e grupos de romeiros.
Através da inscrição da Romaria de S. Bento do Cando no INPCI, o Património Cultural, IP reconhece a importância desta manifestação enquanto reflexo da respetiva comunidade, nomeadamente dos romeiros e restante população das freguesias serranas dos concelhos de Arcos de Valdevez, Monção e Melgaço. Valoriza-se igualmente a sua articulação com o desenvolvimento sustentável e ambiental do território onde se insere, o Parque Nacional Peneda-Gerês.