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Património Imaterial

Técnicas de Decoração da Olaria de Redondo

País: Portugal
Distrito: Évora
Concelho: Redondo

© C.M. Redondo
Tipo de Património
Património Imaterial
Classificação
Inventário Nacional de Património Imaterial
Descrição

O Património Cultural, Instituto Público (PC, IP) aprovou a inscrição, como salvaguarda urgente, das Técnicas de Decoração da Olaria de Redondo no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial (INPCI), conforme despacho de 5 de novembro de 2024, já publicado em Diário da República.

Trata-se de uma manifestação artística que põe em evidência o domínio das competências no âmbito de processos e técnicas tradicionais aplicados à olaria. A loiça decorativa de Redondo, como também é conhecida, segue métodos e técnicas produtivas multiseculares semelhantes às demais olarias nacionais. Contudo, a decoração apresenta padrões estéticos únicos recorrendo a policromias exuberantes e temáticas de índole eminentemente popular, que lhe conferem singularidade no contexto cerâmico nacional.

Na cadeia operatória das técnicas decorativas artesanais, são aplicados conhecimentos consolidados que remontam a meados do século XIX. Artesãs e artesãos dominam “(…) o esgrafitado, engobes e tintas, estas últimas aplicadas com técnicas como a chapada, rega, mergulho, escorrido, salpico e pintura.”. São várias as tipologias de peças produzidas, umas feitas na roda, outras com o recurso a moldes.

A prática de decoração de olaria de Redondo é assegurada pelas seguintes olarias: Olaria Baeta ou Poço Velho, Olaria Jeremias, Olaria Pirraça de Manuel Inácio Farias Pirraça e Olaria XT. Tradicionalmente as vias de transmissão têm-se sucedido na relação Mestre-Aprendiz em contexto familiar e também profissional. Apesar do saber-fazer se manter ativo, o número de artesãos é reduzido, o que torna a atividade frágil em termos de “dinamismo e vitalidade”. Atualmente encontram-se ativas oito pintoras e um oleiro, que realiza também a decoração das peças. O número reduzido de detentores desta arte torna absolutamente necessário um plano de salvaguarda e valorização através de formação formal e oficinal do saber-fazer.

Os modos de transmissão que têm sido realizados apresentam pouca robustez “(…) em virtude da dificuldade das Olarias em dar formação nos moldes tradicionais, por motivos como falta de incentivos financeiros que auxiliem nas despesas da aprendizagem, ou a falta de proponentes com vocação, o município de Redondo através do Museu do Barro, e enquadrado pelo Centro de Formação Profissional para o Artesanato e Património (CEARTE), vão iniciar uma colaboração que visa exatamente ministrar formação na olaria e técnicas decorativas ao modo de Redondo.

A pintura consiste no uso de um pincel para aplicação de pigmentos coloridos sobre a superfície de cerâmica, podendo ser realizado de modo espontâneo, diretamente sobre o suporte de cerâmica ou com o prévio apoio de um desenho realizado por decalque e esgrafito. A pintura direta e espontânea, embora antiga, é pouco usada, sendo aplicada essencialmente na cercadura, em particular com óxidos tradicionais, com maior dificuldade de fixação. Com tintas de alto fogo esta modalidade é aplicada numa gama diversa de motivos abstratos, geométricos, vegetalistas, zoomórficos, etc.

O riscado tornou-se, por questões técnicas, o modo tradicional da decoração da cerâmica de Redondo. Inicialmente, com as tintas de óxidos, o riscado ajudava a delimitar e fixar as tintas, mesmo com a utilização de um vidrado de chumbo. Artesãs e artesãos riscam diretamente sobre a louça engobada a branco. Na utilização dos óxidos tradicionais, o esgrafito define por completo os contornos e pormenores das gramáticas decorativas, preenchidas com cores uniformes, usualmente o verde, amarelo e o castanho do barro. O esgrafitado usa-se com tintas de alto fogo por razões estéticas e tradicionais, pois tecnicamente não é necessário. Atualmente é mais frequente surgirem na mesma peça situações mistas de esgrafito e de pintura direta. Os motivos decorativos são hoje usualmente riscados diretamente sobre a superfície engobada e chacotada.

A inscrição das Técnicas de Decoração da Olaria de Redondo no INPCI reflete os critérios constantes no artigo 10.º do Anexo ao Decreto-Lei n.º 149/2015, de 4 de agosto, destacando “a importância da manifestação do património cultural imaterial enquanto reflexo da respetiva comunidade ou grupo” e ainda “os processos sociais e culturais nos quais teve origem e se desenvolveu a manifestação na contemporaneidade”.

O pedido de registo deste saber-fazer no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial foi proposto pela Câmara Municipal de Redondo, que realizou trabalho de investigação consistente com o objetivo de aprofundar o conhecimento das Técnicas de Decoração da Olaria de Redondo.

Fonte de informação
Património Cultural, Instituto Público
Data de atualização
16/12/2024
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