Teatro
Um teatro efémero em Lisboa: o Teatro D. Fernando
Nesta alternância entre teatros em atividade e teatros antigos e desaparecidos, evocamos a memória de um teatro situado no coração de Lisboa. Não sobreviveu a alterações urbanas e a pressões culturais que, já na época, marcavam a vida sociocultural da cidade – e isto, insista-se, num tempo que a expressão não teria o menor cabimento…
Em qualquer caso, evocamos aqui o então denominado Theatro de D. Fernando. Foi inaugurado em 20 de outubro de 1849 e demolido exatos 10 anos depois. O projeto arquitetónico deve-se basicamente ao arquiteto francês Arnould Bertin.
Tenhamos presente que o Teatro de D: Maria II foi inaugurado em 1846, segundo projeto do italiano Francisco Lodi, e há sempre que recordar a relevância de Garrett na iniciativa. E tal como refere José Augusto França “o discurso arquitetónico o romantismo começa ali”, sintomaticamente (in “A Arte Portuguesa de Oitocentos”).
Por seu lado, Sousa Bastos, no sempre referenciável “Diccionario do Theatro Portugez”, livro datado de 1908, levanta dúvidas quanto à construção. Escreve:
«O Theatro de D. Fernando era mal construído, de má aparência e com uma sala defeituosa e mal ornamentada. Foi inaugurado em 29 de Outubro de 1849 com o drama Adriana Lecouvreur representando o principal papel Emilia das Neves e sendo ensaiador Emilio Doux».
Mas o mais curioso é o que se segue:
«No intervalo do 3º para o 4º ato, Garrett foi ao palco abraçar a grande Emília, dizendo-lhe: “Não pode representar melhor!”»
E mais acrescenta Sousa Bastos que Garrett tinha visto em França representar “a sublime atriz Rachel”… este nome da “sublime atriz” já pouco hoje nos recorda…
O Teatro tinha dimensão adequada aos hábitos da época. A lotação excedida os 600 lugares, com três ordens de camarotes, o que que marcava a expressão social. E a sua implantação na Lisboa representava também uma valorização urbana que marcava as expressões socio culturais então dominantes…
Muito embora: O Teatro D. Fernando teve vida difícil. Ao fim de sete meses, a empresa faliu. Emile Doux tentou prosseguir a carreira e alcançou alguns sucessos. Mas a verdade é que tanto os sucessos como o próprio edifício pouco duraram.
E o Teatro D. Fernado foi demolido em 1859.
Duarte Ivo Cruz