Teatro
Teatro Gil Vicente, de Barcelos
Um exemplo de sobrevivência e recuperação
Temos visto nesta série de artigos a relevância que a arquitetura teatral e de espetáculo assumiu ao longo dos séculos XIX/XX: e é de louvar as politicas, recentes, a nível nacional e local, de recuperação de edifícios que, pelo dimensionamento e pela implantação em zonas urbanas centrais, antes menos conservadas do que hoje, representam uma fortíssima capacidade de investimento, na transformação e modernização de tantas cidades.
Hoje, efetivamente verifica-se um muito maior sentido de conservação e restauro de edifícios e áreas urbanas centrais. E nesse sentido, como aqui temos visto, há que elogiar as autarquias que conservam, muitas vezes adquirem e recuperam esse património urbano e imobiliário de edifícios de espetáculo, sem o deteriorar ou destruir. E aí incluem-se teatros e cineteatros.
No caso que hoje nos ocupa, a construção e sobrevivência do Teatro Gil Vicente de Barcelos é um belo exemplo.
No final dos anos 90 do século XIX, um grupo de cidadãos regressados do Brasil lança a iniciativa de construção de um teatro. Não foi fácil: a iniciativa ganha expressão e consagração empresarial em agosto de 1893, mas o Teatro Gil Vicente, que apesar de sucessivas paralisações e transformações, dura até hoje, só foi inaugurado em 1902, com uma revista local, precisamente intitulada “Barcelos por Dentro”.
E é meritório que este espetáculo inaugural tenha sido escrito e executado por amadores locais, da mesma forma que o próprio processo de construção do teatro tenha surgido por iniciativa de empresários e individualidades ligadas ao Conselho de Barcelos. Mas é de assinalar que a cidade tem certa tradição teatral: são numerosos os tais grupos de amadores que, a partir de finais do século XIX a de certo modo até hoje, marcaram a atividade.
O que não obstou a que o Teatro Gil Vicente tivesse travessado períodos mais ou menos longos de paralisação e de negociações no sentido da sua demolição para investimento imobiliário. Nada que não seja habitual, mesmo depois das sucessivas transformações e adaptações do edifício, que aliás exibiu atividade cinematográfica quase desde a inauguração.
É pois interessante registar que o Teatro Gil Vicente tenha beneficiado desde sempre de apoio dos poderes locais, acabando a Câmara por o municipalizar em 1994, e o renovar, em sucessivas intervenções no exterior e no interior.
Mas mantem-se o estilo clássico, num modelo muito praticado na época de inauguração: o projeto inicial deve-se a um Engenheiro Civil local, António José de Lima. E acabou por prevalecer esta “obra neoclássica revivalista” tal como a caracterizou Carlos Alberto Ferreira de Almeida num estudo editado pela Câmara Municipal.
Duarte Ivo Cruz