Teatro
A Moagem, teatro e sala de concertos no Fundão
Assinala-se aqui a atividade de uma sala de espetáculos no Fundão, e a coerência da designação respetiva, tendo em vista o histórico do edifício. É que se trata da “transformação” de uma antiga fábrica num centro de cultura e de espetáculos: e não é habitual, como bem sabemos, este género de mudanças, no sentido em que aqui se processou: pelo contrário, o mais habitual, pelo menos em certas fases da evolução recente dos meios urbanos, seria precisamente o contrário: rentabilizar um velho teatro situado no centro das cidades em, não digo uma fábrica, mas pelo menos um centro de produção económica.
Ora neste caso do Fundão, o que ocorreu foi precisamente o contrário. Uma antiga empresa de moagem, fundada nos anos 20 do século passado, é transformado, insista--se no termo, em Centro de espetáculo e de cultura: e precisamente, para não haver dúvidas, adota a designação de Moagem – Cidade do Engenho e das Artes.
Trata-se de um projeto do Arquiteto Miguel Correia, inaugurado em 2007, por iniciativa da Camara Municipal que adquiriu a velha fábrica em 2002. Como já escrevemos, comporta duas salas de espetáculo, com 165 e 50 lugares, hoje amplamente utilizadas em iniciativas de âmbito cultural.
Com um aspeto que merece destaque: o edifício conciliou, de forma interessante, a recuperação dos velhos edifícios fabris com a modernidade do corpo central vocacionado para a atividade cultural e de espetáculos: e em boa hora essa atividade perdura.
Manuel Freches, no estudo que dedicou a este Teatro, assinala que “engenho significa a capacidade de criar, de realizar e de produzir com arte”. (in “A Moagem – Cidade do Engenho e Arte “ ed. CMF 2007 pág. 7). Ora, acrescente-se agora, a expressão em si mesma assume, quando aplicada a uma iniciativa de caracter cultural, um eco quase camoniano...
O Fundão é referido no século XVII por Frei Francisco de Santiago que assinala-o entre os “lugares (...) que estão situados por todo o espaço que vulgarmente se chama Cova da Beira”. E três séculos depois, na peça “Entre Giestas (1916), Carlos Selvagem situa em “uma aldeia da Charneca “ o drama amoroso da “Clara Jornaleira” e do António, filho do “Ti Jacinto Cravo, lavrador abastado”. E a descrição da cena inicial documenta a visão realista que, na época, o ambiente urbano local impunha.
Inclusive, cerca de um século decorrido sobre a estreia desta peça, os Paços do Conselho estava instalado num belo edifício da antiga Real Fábrica de Lanifícios. (cfr. “Teatros de Portugal – Espaços e Arquitetura” – ed. Mediatexto e Centro Nacional de Cultura – 2008).
Sábado e Domingo: 14h00-17h30