Teatro
Teatro Luís de Camões
Precursor dos Teatros de Bolso
O pequeno Teatro Luís de Camões, na Calçada da Ajuda em Lisboa, datado de finais do século XIX e em fase de recuperação, constitui exemplo de certo modo percursor dos chamados Teatros de Bolso que hoje marcam numerosas cidades e vilas por esse país: e é interessante desde já referir o caráter, insista-se, percursor desta iniciativa, que, curiosamente, se ficou a dever a um comerciante local, João Açucar de nome.
A inauguração oficial do Teatro Luís de Camões ocorre em 10 de junho de 1880, no quadro das comemorações do tricentenário da morte do poeta. A peça foi “Camões e o Jau” de Casimiro de Abreu. Em qualquer caso, insistimos, surge percursor, dos pequenos teatros (e hoje até cineteatros) que existem um pouco por todo o país. Só que este, particularmente pela reduzida dimensão e lotação, é percursor de o que chamamos hoje, bem ou mal, Teatros de Bolso, não obstante constituir um edifício autónomo.
José Augusto França, ao historiar a construção do palácio da Ajuda, esclarece que “nenhuma igreja (só uma capela), nenhum grande teatro estava previsto no plano: o complexo arquitetónico tradicional cedia lugar a uma definição mais civil ou mais cívica, e portanto mais moderna, de residência régia” (cfr. “Arte em Portugal no Século XIX, vol. I Bertrand ed. pág.95 e segs.)
E no entanto, o Teatro Luís de Camões da Ajuda marcou, ao longo destes 137 anos, com os altos e baixos inerentes, uma certa “política” cultural na época fortemente descentralizada, até no ponto de vista administrativo. Belém era na época concelho. E não obstante a relevância óbvia que decorria inclusive da proximidade do Palácio, a construção e exploração de um pequeno Teatro aberto ao público assumiu um significado específico, sendo certo entretanto que o Teatro do Palácio da Ajuda ou Casa da Ópera de Belém foi inaugurado em 4 de novembro de 1737 segundo projeto de Bibiena, que seria autor também do Teatro da Ópera do Tejo, este destruído pelo terramoto de 1755.
Muito diferente é desde a origem o Teatro Luís de Camões. A sala reproduzia, na sua dimensão de pequeno teatro, sobretudo pequeno para a época, a estrutura sócio-económica de exploração de espetáculo da época de fundação: plateia, frisas, camarotes, tribuna, num dimensionamento adequado à dimensão percursora, insista-se, de um teatro de bolso, nesse aspeto também percursor.
Em 1899, o Teatro Luís de Camões passa a servir de sede ao Belém Clube. E entretanto, ao longo destes mais de 100 anos, o historial do Teatro assinala uma tradição de iniciativas culturais e de intervenções artísticas dignas de registo histórico.
Lá se estreou e lá se despediu do público Adelina Abranches. Lá atuaram nomes históricos do teatro luso/brasileiro, como Rafael Alves, João Villaret. Auzenda de Oliveira, Sales Ribeiro, Mirita Casimiro, Procópio Ferreira, Bibi Ferreira…
E lá se estreou o grande cantor e encenador de ópera Tomás Alcaide, evocado, entre outros numa placa inaugurada em 1953.
Duarte Ivo Cruz