Teatro
Evocação dos Teatros de Torres Novas
No final do mês de maio, o Centro Nacional de Cultura organizou uma visita cultural ao Concelho de Torres Novas, que incluiu o mais importante e bem significativo património histórico, arquitetónico e artístico da região, abrangendo desde as ruinas romanas de Villa Cardilium às diversas Igrejas e ao Museu Municipal Carlos Reis, Museus, e ainda com referências e visita à tradição de edifícios de teatros e de cultura em geral.
No que respeita ao teatro há a assinalar um historial de edifícios que marcaram períodos e estilos sucessivos de atividade e expressão arquitetónica, mas também, expresso ou implícito, um relacionamento com a criação do espetáculo teatral, em épocas e tradições não muito habituais em zonas do interior do país: isso pelos edifícios em si mas também ou sobretudo pelo substrato cultural e profissional subjacente e constante desde o século XIX. E não só na sede do Concelho.
Refira-se em particular a tradição dos sucessivos Teatros Virgínia que marcam, há mais de 150 anos, o património e a atividade cultural da região.
De fato, assinala-se a construção, a partir de 1845, de um primeiro Teatro, na época designado Teatro União. Esteve desde a origem ligado à Câmara Municipal, que apoiou em 1842 a construção dessa sala original, iniciativa dos sócios fundadores de uma entidade de beneficência, o Montepio de Nossa Senhora da Nazaré. Mas diz-nos Sousa Bastos, no sempre citável «Dicionário do Teatro Português» (1903) que “quando este (Montepio) deixe de existir, a Câmara tomará posse de tudo”. Assim foi.
Tinha na origem frisas, 30 camarotes, para cima de 150 lugares de plateia, balcão e geral. E em 1895, passa a denominar-se Teatro Virgínia.
Sousa Bastos explica a mudança de nome do Teatro. Trata-se de uma homenagem à atriz Virgínia, de seu nome completo Virgínia Dias da Silva, conhecida na época por atriz Virgínia simplesmente. Nasceu em 1850 em Torres Novas, faleceu em 1924, com uma brilhante carreira em Portugal e por duas vezes em tournées no Brasil. Integrou as companhias do D. Maria II e do Trindade, à época os teatros mais relevantes da cena portuguesa.
Em 1956 é entretanto inaugurado em Torres Novas um novo Teatro Virgínia, projeto do arquiteto Fernando Schiapa de Campos. Representou-se, no espetáculo de estreia, ocorrido em outubro daquele ano, um sucesso bem da época – “As Meninas da Fonte da Bica” de Ramada Curto, pela Companhia de Amélia Rey Colaço e Robles Monteiro.
“O Virgínia era uma tentativa de inovação e foi até publicado na progressiva revista «Arquitetura» como isso mesmo (…) com desenho moderno «contra» imitações do passado” diz-nos José Manuel Fernandes em “Cinemas de Portugal” (1995).
O Teatro desenvolve ao longo do meio século uma atividade assinalável: mas tal como sucedeu a tantos teatros do interior, foi entrando em decadência.
Até que em 2005 o Teatro Virgínia reabre com um projeto de remodelação do Arquiteto Gonçalo Louro. Integra-se na qualidade e variedade epocal e arquitetónica do património do Conselho.
E acresce que desse património arquitetónico e cultural e da visita do CNC fez parte o pequeno Teatro Maria Noémia, localizado na freguesia de Meia Via, nas proximidades da sede do Conselho e também gerido pela Câmara Municipal de Torres Novas.
Trata-se de uma pequena sala, em edifício próprio, com lotação de cerca de 100 lugares dispostos em plateia e galeria superior. Foi construída nos anos 30 do século passado, por iniciativa de um comerciante local, Manuel António Fanha, que deu à sala o nome de uma neta então recém-nascida, precisamente Maria Noémia, que «recebeu» os visitantes através de um vídeo.
A sala é recuperada a partir de 2005 e alberga um grupo teatral que se estreou há cerca de 10 anos e mantem atividade assinalável.
E muito assinalável foi pois esta visita do Centro Nacional de Cultura, orientada por Anísio Franco, em que tive o gosto de colaborar no que respeita ao património teatral.
Duarte Ivo Cruz