Teatro
O Teatro Pax Julia de Beja
Revivalismo mourisco em Teatros do Alentejo
Não se pretende neste artigo referir exaustivamente o conjunto de Teatros e Cineteatros do Alentejo, mas salientar, numa primeira abordagem que depois se irá especificando, a evocação de um chamado “estilo mourisco” em sucessivas salas de espetáculo da região, construídas a partir de finais do século XIX e em muitos casos ainda hoje em plena atividade. De tal forma que, repita-se, a algumas delas voltaremos com mais detalhe.
O mais significativo dessa linha arquitetónica será o Teatro Garcia de Resende, de Évora, já estudado nesta série: projeto do Arquiteto Silva Monteiro, datado de 1887, constituiu até hoje um dos grandes centros de cultura teatral da região. Mas também oportunamente referiremos por exemplo o Teatro Marques Duque de Mértola ou o Cine-Teatro Sousa Teles de Ourique, entre outros mais.
Hoje falaremos do Teatro Pax Julia de Beja, já pelo edifício em si, já pela própria trajetória funcional, cultural e arquitetónica e da relevância que sempre assumiu, em funções diferenciadas (e não pouco!...) mas sempre muito relevantes.
Com efeito, estamos neste caso perante a adaptação do antigo Hospício de Santo António, contíguo ao Convento da Conceição, ao qual pertencia quando foi contruído nos anos 20 do século passado. E é caso para dizer que o processo de intenções, no sentido de dotar Beja de um Teatro, vinha pelo menos de 1866, ano em que se começou a falar da necessidade de um teatro…
O edifício atual foi inaugurado em 1928. Em 1949 sofre obras profundas de atualização e reforça a atividade de exploração cinematográfica. Por essa altura, introduz-se um segundo balcão e procede-se à demolição das frisas e camarotes originais. Não é caso único por esse país fora: e em qualquer caso, funcionou como cinema até ao início dos anos 90.
Em 1994 a Câmara Municipal de Beja adquire o Cinema Pax Julia e um edifício vizinho, para reformulação da sala de espetáculos. Beneficiando de apoios do Ministério da Cultura, a Câmara procede então a uma vasto programa de obras de restauro, conduzidas segundo projeto da Arquiteta Maria Francisca Romão. E desde logo, no edifício contíguo, é instalada uma sala-estúdio que reforçou e de certo modo diversificou a atividade de espetáculos.
E talvez devido a esse prolongamento de vizinhança, o velho Teatro Pax Julia beneficia também de profundas alteações estruturais.
Desde logo, um segundo balcão, acrescentado nas obras de 1949, é suprimido, adequando melhor a sala, precisamente, a espetáculos de teatro e não de cinema. Ganha-se espaço para equipamentos técnicos e áreas de apoio ao espetáculo. E também a própria plateia é reduzida para maior conforto dos espetadores.
Desse modo, a lotação do Teatro reduz-se a 650 lugares: mas o termo “reduz-se”, num teatro, é força de expressão!
E fazemos ainda referência a dois Teatros que, na proximidade geográfica e cultural, assumem também, como o Pax Julia, evocação do estilo arquitetónico “mourisco”, digamos assim mesmo.
Desde logo, o Teatro Marques Duque, de Mértola, sala de pequenas dimensões, construída em 1913, restaurada pelos Arquitetos M. Andrade e Manuel Transmontano, hoje com menos de 170 lugares. E o Cine-Teatro Sousa Teles, de Ourique, este praticamente abandonado no princípio do século mas agora recuperado pelas Arquitetas Céu Oliveira Pinto e Luisa Biscaia, lotação de 183 lugares, com uma área e uma função museológica relevante.
Mas desses dois teatros falaremos em outra crónica.
DUARTE IVO CRUZ