Teatro
RENOVAÇÃO DO PEQUENO TEATRO-CLUBE DE PENAMACOR
Já aqui referimos, e também em diversos livros, o chamado Pequeno Teatro-Clube de Penamacor. Justifica-se amplamente a recorrência: trata-se de um exemplo, hoje já pouco comum, de uma geração de pequenos teatros construídos um pouco por esse país fora a partir da inauguração do Teatro D. Maria II, em 1846, por iniciativa de Garrett.
Tal como então já aqui vimos, o Pequeno Teatro Clube de Penamacor, como instituição referencial, remonta a 1884, data em que é fundado um chamado Clube de Penamacor, herdeiro de um mais antigo Clube Penamacorense. O Pequeno Teatro, esse, data de 1912. Votado a certo abandono que apesar de tudo não o liquidou, como tantas vezes ocorreu, o Teatro manteve no interior a estrutura à italiana, com camarotes, galeria, e, uma fachada que, pelo menos essa, conservou qualidade arquitetónica na singeleza da sua dimensão e decoração.
Recordei, e faço-o hoje novamente, o espetáculo de inauguração, com um repertório de indiscutível qualidade e extensão: nada menos do que “O Morgado de Fafe em Lisboa”, de Camilo Castelo Branco, o “D. Beltrão de Figueiroa” de Júlio Dantas, e uma cena musicada, “O Senhor Bexiga”!
E invoquei, por razões que veremos adiante, um fator histórico referente às dramatizações do surto ou ciclo dos chamados “falsos D. Sebastião” que foram sucessivamente “aproveitados” como tema de peças sucessivas, desde pelo menos a tragicomédia “Sebastião” de Nicolau Luís da Silva, datada de 1754, e depois por autores tão inesperados e “desiguais”, desde um esquecido Tomás António dos Santos Silva (1751-1816), passando pelo Garrett do “Frei Luis de Sousa” e de “As Profecias do Bandarra”, por Francisco Maria Bordalo, Alexandre Herculano de “O Cativo de Fez”, por uma adaptação de Castilho e ainda D. João da Câmara, Guerra Junqueiro, Augusto de Mesquita, Augusto de Lacerda ou Teixeira de Pascoaes, até aos contemporâneos José Régio, Augusto Sobral, Carlos Selvagem, Joaquim Paço d’Arcos, Natália Correia e outros: e esta dramaturgia envolve tanto a figura história de D. Sebastião - ele próprio como os chamados “falsos D. Sebastião”.
Veja-se a propósito o levantamento dramatúrgico feito por Ana Isabel Vasconcellos em “O Drama Histórico Português do Século XIX (1836-56)” ed. FCG- 2003, ou o que eu próprio escrevi nesta mesma série de artigos e, antes disso, em “História do Teatro Português” ed. Verbo 2001, em “O Teatro Português: Estrutura e Transversalidade” ed. Universidade da Corunha 2005, e sobre o Teatro de Penamacor em “Teatros em Portugal - Espaços e Arquitetura” ed. Midiatexto e CNC 2008.
E veja-se ainda o livro de José Manuel Landeiro intitulado “O Conselho de Penamacor na História, na Tradição e na Lenda” (3ª ed. s/d.).
É que um dos historicamente referenciados “falsos D. Sebastião” ficou conhecido nas crónicas como o “Rei de Penamacor”. Pois precisamente, esse nunca terá sido objeto de abordagem dramatúrgica. E no entanto, como já vimos, Penamacor orgulha-se do seu Teatro Clube, que agora, espera-se, entrará numa fase de recuperação.
De acordo com a imprensa (“Reconquista - Seminário Regionalista da Beira Baixa” - 31 de março de 2016) a Câmara Municipal de Penamacor assinou um protocolo com a Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa e a Academia Internacional de Cenografia, no sentido de garantir a recuperação do Teatro Clube de Penamacor. O jornal cita declarações nesse sentido, do Presidente da Câmara, António Luís Beites Soares.
Espera-se que assim seja possível, pois, repita-se, trata-se de uma sala que bem o merece, como exemplo da rede de pequenos teatros, que, durante dezenas ou centenas de anos, deram vida à expressão cultural dos municípios do interior do País.
Duarte Ivo Cruz