Património Imaterial
Chocalhos de Alcáçovas
Os chocalhos de Alcáçovas (concelho de Viana do Alentejo), com origem nessa vila verificada por documento do séc. XVII, estão considerados, desde 1 de dezembro de 2015, para Património Cultural Imaterial com Necessidade de Salvaguarda Urgente, título atribuído pela UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura.
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O seu fabrico é completamente artesanal e exige uma técnica complexa. O chocalho é talhado em folha de ferro, enrolado, em seguida a folha é furada e colocado o “céu’ onde vai ficar pendurado o badalo, para, por último, ser colocada a asa.
Para se obter melhor som, em primeiro lugar há que soldar os bordos que devem ficar perfeitamente unidos o que exige, mais uma vez, uma técnica primorosa: coloca-se uma folha de latão e bronze - ou de bronze e cobre -, sobre cada um dos lados do chocalho, outra debaixo da asa e outra por dentro.
Depois cobre-se o chocalho todo no barro amassado com palhinha de trigo (embarrar o chocalho).
Com o ferro faz-se um furo vertical (que também serve como respiradouro), onde se coloca o “céu” - ou “gancho” - que, mais tarde, irá segurar o badalo.
Juntam-se alguns chocalhos já preparados para levar à forja (que deve ter carvão de pedra) que se vão voltando para aquecerem de forma homogénea. Quando ficam rubros, tiram-se e rebolam-se no chão para que a liga de metal de espalhe e para arrefecerem. São então mergulhados em água fria para ficarem com a cor acobreada. Mais tarde, o barro cozido é partido e removido.
Ainda não se encontra completo o processo pois é necessário proceder à afinação. Volta assim à bigorna onde o artesão, por meio de suaves marteladas, vai procurando o som mais agradável.
O som obtido depende da espessura da folha e da quantidade de metal utilizado no “embarramento”.
Só com muita experiência se conseguem fazer chocalhos com determinado som.
Os chocalhos são colocados ao pescoço de alguns animais, que são os guias, à volta dos quais se reúnem os outros, quando pastam. Também servem para indicar o paradeiro das reses quando tresmalhadas.
Os nomes dos chocalhos variam consoante os seus tamanhos, que podem ir de 2 a 50cm de altura.
Tipos de Chocalho:
Tipo grande: mangas, sem serras, castelhanos, etc.
Tipo pequeno: chocalhos, campanilhas, picadeiros, chocalhinhos, etc.
reboleiro - largo e baixo
serranas - largos em cima
sem serra - grande e direito
picadeira - tamanho médio
pequete - pequeno
guiso - o mais pequeno
Para os bois e cabras também é usual a utilização de esquiões e esquilas, que são uma espécie de campainha. As mangas são chocalhos muito grandes usados nos bois e vacas.
Cada chocalho tem um “brasão” que funciona como a assinatura do seu artesão. Alguns chocalhos, além da marca do artesão, também apresentam a marca da casa agrícola (normalmente uma letra) que o encomendou. As marcas e os brasões são antecipadamente cortados em chapa de ferro preta e fixados com pregos ao chocalho antes de este passar pelo “embarramento”. Como o ponto de fusão do ferro é mais baixo que o do cobre e do bronze, fundem-se cobrindo todo o chocalho (impregnando o ferro), ficando assim a marca e o “brasão” colados e em relevo.
O chocalho é pendurado ao pescoço do animal por uma coleira de couro e pode prender-se com uma cágueda; a fivela é de latão e a cágueda é de madeira. A cágueda é habitualmente feita pelos pastores com bela decoração.
Cáguedas