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Teatro

O TEATRO TABORDA DE CERNACHE DO BONJARDIM E O TEATRO TASSO DA SERTÃ

País: Portugal
Distrito: Castelo Branco
Concelho: Sertã

Tipo de Património
Teatro
Descrição


... DOS ATORES AOS EDIFICIOS

O livro de Pedro Marçal Vaz Pereira, agora editado e distribuído, a que já brevemente aqui aludimos e que tivemos o gosto de prefaciar, traça o historial da atividade teatral, a partir de meados do seculo XIX até quase aos nossos dias, numa localidade bela mas não propriamente centro urbano de grandes dimensões e atividade cultural diversificada. Recorde-se então: esta vasta monografia intitulada “O Teatro numa Aldeia da Beira - Cernache do Bonjardim” dá-nos uma visão a partir de meados do seculo passado da atividade cultural-teatral num meio pequeno e, na época, claramente periférico. Pois bem: a investigação, com início em 1860, mostra como a cultura e a atividade teatral se foi afirmando ao longo do seculo XIX, e até hoje, na continuidade de um movimento que de certo modo remonta à reforma estrutural do teatro-espetáculo português, encomendada em 1836 a Garrett pelo Ministro Passos Manuel.

E tem o mérito de dar notícia da recuperação em curso do edifício e do património cultural da localidade e do Concelho da Sertã.

Recorde-se então a reforma de Garrett. O que sobretudo ressalta desse conjunto inovador de textos legais é a globalidade da abordagem, e isso deve-se evidentemente à genialidade, não há que temer o termo, do próprio Almeida Garrett. Porque na verdade, é a partir desse conjunto de diplomas datados de 1836 - Portaria de 28 de Setembro, Relatório de 12 de Novembro, Portaria de 15 de Novembro - que ocorre o movimento renovador do teatro português, na sua dimensão global de texto, de espetáculo, de espaços, de atividade profissional, de cultura e formação de públicos…

Considera-se particularmente o carater periférico de um meio rural distante como era Cernache em meados do seculo XIX. Nesse aspeto, o estudo de Pedro Marçal Vaz Pereira transcende, pelo que investigou e pelo que historicamente significa, o âmbito direto da sua expressão epocal. Com uma particularidade: é que, tal como diz o texto, pelo menos desde 1866 funcionou, ainda em instalações improvisadas, um Theatro de Sernache, o qual daria lugar a um Teatro Sernachense, este referenciável já em 1883.

E, tal como referimos no Prefácio do livro citado, assinala-se ainda a existência de um Teatro Bonjardim e de um Teatro Taborda, este instalado a partir de 1892 num edifício especialmente construído para o chamado Clube Bonjardim e para o Teatro. 

É interessante, também porque reflete uma atividade cultural em meios na altura bem periféricos, recordar a origem da designação: em 7 de Abril de 1899, o grande ator Francisco Taborda e o compositor Alfredo Keil, este bem conhecido por ser autor do Hino Nacional, apresentaram-se em 7 de Abril de 1899 no então ainda denominado Teatro Bonjardim. Aí ficaram até ao dia 11. Mas em 21 de Maio, o Teatro passa a chamar-se teatro Taborda: tal era o prestígio do ator, que viria a falecer em 1909.

Refira-se aliás que Sousa Bastos, no “Diccionário do Theatro Português” que aqui temos citado, assinala a existência em 1908 de três Teatros Taborda em Abrantes, Lisboa e Oeiras. 

O livro de Pedro José Marçal Pereira descreve-nos a atividade do Teatro Taborda de Cernache, depois “animatógrafo”, até aos finais da década de 30, assinalando designadamente o que poderá ter sido um dos últimos espetáculos profissionais, com uma peça de Alice Ogando, “Há-de Dizer Mamã” interpretada por Ilda Stichini. Mas importa dizer que o Teatro está a ser recuperado pela Camara Municipal da Sertã.

E precisamente: a Câmara editou em 2014 um vasto e substancial estudo da autoria de Rui Pedro Lopes, intitulado precisamente “História da Sertã”, onde se dá o devido destaque ao Teatro de Cernache, mas também ao Teatro Tasso, este inaugurado em 25 de Julho de 1915 na sede do Conselho. Manteve atividade alternando espetáculos de companhias profissionais em tournée pelo país com grupos locais de amadores.  

Em 1953 o Teatro Tasso sofre obras de remodelação e passa a Cine-Teatro Tasso. E a partir da década de 90 a Camara Municipal da Sertã agora presidida por José Farinha Lopes, garante a “sobrevivência” do teatro, e apoia a notável tradição dos grupos locais, devidamente assinalados.

E finalmente: é de referir esta dupla homenagem a atores - Taborda e Tasso - que marcaram a sua época e ainda hoje perduram na toponímia de duas salas de espetáculo.

Fonte de informação
Duarte Ivo Cruz
Data de atualização
13/10/2015
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