"É de Cultura como instrumento para a felicidade, como arma para o civismo, como via para o entendimento dos povos que vos quero falar"

Teatro

TEATROS DE NORTE JÚNIOR: O QUE SE CONSTRUIU E O QUE RESTA (I)

Distrito: Açores
Concelho: Horta

Sociedade Amor da Pátria
Tipo de Património
Teatro
Estilo(s)
Art Deco
Descrição

Já aqui referimos o Teatro Olga Cadaval e Auditório Jorge Sampaio em Sintra: obra maior de Norte Júnior no que respeita a salas de espetáculo, foi inaugurado em 1948, paredes meias com outro edifício referencial da Vila e do arquiteto – o antigo Casino, datável de 1929, hoje Museu de Arte Moderna: da mesma forma que o Olga Cadaval, sem o acréscimo do Auditório Acácio Barreiros, corresponde basicamente ao velho Cine-Teatro Carlos Manuel, recuperado depois do incêndio que quase o destruiu em 1985.

Mas a recuperação e a construção em anexo do Auditório Acácio Barreiros, este segundo projeto do arquiteto João Almeida e Sousa (1999), não colidem com a traça original de Norte Júnior. E mais: a vizinhança com o antigo Casino documenta uma evolução estética da arquitetura de Norte Júnior, num sentido de certo “abrandamento” do rigor estilístico art-deco que domina grande parte da zona urbana de Sintra – o desde sempre chamado Bairro da Estefânia – e particularmente o conjunto de casas dos anos 20/30, todas de Norte Júnior, que se erguem na sequência do largo do Cinema e da lateral do Casino - vivendas familiares, rodeadas de jardins, marcadamente art deco e evocando cada uma delas uma flor – daí que a zona urbana se chamasse Bairro das Flores…

Em qualquer caso, os teatros, cinemas e salões de Norte Júnior constituem, no que deles resta, verdadeiros modelos de arquitetura de espetáculo, mesmo quando a evolução dos tempos lhes reservou um destino diferente. Assinalamos entretanto um total de sete salas de espetáculo, ou para tal vocacionadas ou adaptadas. E delas restam, ao menos na fachada, as seguintes – e com destinos funcionais bem diversos:

1 - Sociedade a Voz do Operário em Lisboa -1912
2 - Casino de Sintra – 1923.
3 - Cinema Max em Lisboa – 1929
4 - Cinema Royal em Lisboa  -1929
5- Sociedade Amor da Pátria – Horta, Açores – 1934
6- Cine Teatro Carlos Manuel – Sintra- 1948

E a anteceder tudo isto um “Projecto de um Theatro – Arquitecto Sr. Manoel Norte Junior”, publicado em 1902 mas nunca construído.

Ora, é interessante avaliar o trajeto destes edifícios, na perspetiva da sua atividade e produção de espetáculos. E para cada um deles, faremos referências estéticas e arquitetónicas adequadas.

Assim, como já vimos, o antigo Carlos Manuel, danificado mas não destruído no incêndio de 1985, mantém a sua adequada vocação de sala de espetáculos ou de congressos, eventos e o que quer que se necessite. Recuperado, permite lembrar, tal como na altura escrevemos, a exuberante decoração art deco da sala. E ainda hoje podemos encontrar, no exterior, sugestões do mesmo estilo, em decorações marcadas por colunas e demais ornamentos, que sobreviveram ao incêndio e às obras de acréscimo do Auditório Acácio Barreiros, num trabalho arquitetónico de muito feliz integração.

Mas retomando a identificação de teatros e cinemas acima referida, e que iremos analisando em sucessivos artigos, fazemos agora referência a um caso específico de arquitetura de espetáculo, com implantações e destinos bem diversos.

E começamos por uma sala que visitamos detalhadamente há anos, referimos num dos livros dedicados ao património teatral português e que agora evocamos – e é a magnífica Sociedade Amor da Pátria, da cidade da Horta, erigida em 1934, ainda na sequência da vasta reconstrução da cidade, decorrente do abalo sísmico de 1926. Em qualquer caso, trata-se de um edifício claramente referenciável do estilo Norte Júnior: fachada dominada por elementos decorativos e heráldicos, típicos de uma época e de uma estética e que, nesse aspeto, contrasta com a “ortodoxia” do Teatro Faialense, datado de 1916 e exemplo da arquitetura teatral da época, com as sucessivas ordens de camarotes enquadrando uma plateia de qualidade e sobretudo de coerência estilística epocal.

Adriano Figueiredo descreve detalhadamente o edifício destacando o “desenho art deco” com destaque para toda a parafernália de elementos e designadamente os “frisos decorativos, em baixo relevo, imitando hortências”.

E em próximos artigos evocaremos edifícios de Norte Júnior construídos para espetáculo, alguns hoje utilizados de outra forma – mas que mantém muito do esplendor arquitetónico original.

Morada
Horta (Faial)
9000
Horta
Web site
Fonte de informação
Duarte Ivo Cruz
Bibliografia
José Manuel Fernandes – Cinemas de Portugal – 1995;
Duarte Ivo Cruz – Teatros em Portugal-Espaços e Arquitetura – 2008;
Adriano Figueiredo - “Edifico da Sociedade Amor da Pátria” in Portugal Património – dir. Álvaro Duarte de Almeida e Duarte Belo - vol. X 2008;
Margarida Acciaiyoli – Os Cinemas de Lisboa – Um fenómeno urbano do Século XX – 2012.
Data de atualização
04/01/2016
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